Domingo I da Quaresma

6 de Março de 2022

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Deuteronómio                                                                    Deut 26, 4-10

«O Senhor fez-nos sair do Egipto com mão poderosa e braço estendido, espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios».

 

Salmo Responsorial                                                                    Salmo 90 (91)

Estai comigo, Senhor, no meio da adversidade.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 10, 8-13

«Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo».

 

Aclamação ao Evangelho           Mt 4, 4b

Nem só de pão vive o homem,

mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas                          Lc 4, 1-13

«Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo».

«Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo».

 

Viver a Palavra

Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas damos início ao itinerário quaresmal que nos conduzirá à celebração da Páscoa do Senhor. Deste modo, cada Domingo deste «tempo favorável» (2 Cor 6,2) constitui uma etapa de aprofundamento e reflexão de um percurso penitencial que neste ano tem a marca da sinodalidade, sublinhando que os laços fraternos e de comunhão são fundamentais para a construção de um caminho de conversão pessoal e pastoral. A Quaresma, enquanto tempo penitencial e oportunidade de conversão, não é um tempo triste e pesado, mas tempo de «cantar a alegria do perdão» (Irmão Roger Schütz)

A Quaresma é um tempo novo, pois nova e inaudita é sempre a oferta de amor que Deus nos faz em cada momento da nossa vida. É tempo de esperança e de conversão, um tempo da alegre transformação do coração que nos conduzirá à Páscoa da Ressurreição: fonte da nossa esperança e alegria, oferta de amor do Pai, que em Cristo faz de nós Filhos amados e ressuscitados, isto é, homens e mulheres herdeiros da vida nova.

Neste primeiro Domingo da Quaresma, o Evangelho convida-nos a ir ao deserto: «Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo». Após o Baptismo, Jesus aparece como Homem Novo na Plenitude do Espírito, revestido e conduzido pelo Espírito Santo percorre o caminho que o Pai tem para Ele. É conduzido ao deserto, a esse lugar privilegiado do encontro com Deus, mas simultaneamente lugar de privação e provação, onde apenas podemos levar o essencial. Como afirma Saint-Exupéry, «em cada deserto há um poço», isto é, em cada angústia existe um rebento de ressurreição.

Conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, Jesus é tentado e posto à prova pelo diabo. Como sabemos, a palavra diabo na sua etimologia significa aquele que divide. Na verdade, o diabo, o mal e o pecado é aquilo que nos afasta de Deus e dos irmãos, que nos divide e rompe com a comunhão e unidade que conduzem à realização e felicidade.

Seguindo Jesus, como cristãos baptizados somos convidados a acolher os desafios e impulsos do Espírito Santo e reconhecemos que a nossa vida cristã conhece lugares de deserto, de tentação e provação. Contudo, temos consciência que as tentações em si mesmas não são boas nem más. Diria que as tentações são situações que irrompem no quotidiano da nossa vida e se constituem como uma oportunidade: a oportunidade de voltar a escolher Deus e optar pelo Seu amor. Cada momento de tentação e provação reclamam da nossa vida uma adesão radical ao bem que liberta e salva e uma decidida rejeição do mal que nos escraviza.

Nas três tentações de Jesus, estão presentes as tentações do ter, do poder e do êxito fácil e a cada uma destas tentações Jesus responde com a Palavra da Escritura, recordando-nos que a Palavra de Deus é a melhor resposta diante das dificuldades e provações.

O nosso maior engano consiste em acreditar que o tesouro da nossa vida está num pedaço de pão, na sede de poder ou no êxito fácil. Por outro lado, a nossa maior virtude estará na capacidade de nos confiarmos como crianças nas mãos do Pai, recordando a certeza que alimentava a esperança do Povo de Israel: «então invocámos o Senhor, Deus dos nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz, viu a nossa miséria, o nosso sofrimento e a opressão que nos dominava». Por isso, diante das provações e dificuldades da vida, invoquemos a misericórdia de Deus com as palavras do salmo – «estai comigo, Senhor, no meio da adversidade» – e experimentaremos a força poderosa da Palavra de Deus que faz florir os desertos da nossa vida.

 

Homiliário patrístico

Dos Comentários de Santo Agostinho, bispo,

sobre os salmos. (Séc. V)

Em Cristo fomos tentados, n’Ele vencemos o demónio

De facto, a nossa vida, enquanto somos peregrinos na terra, não pode estar livre de tentações, e o nosso aperfeiçoamento realiza-se precisamente através das provações. Ninguém se conhece a si mesmo se não for provado, ninguém pode receber a coroa se não tiver vencido, ninguém pode vencer se não combater, e ninguém pode combater se não tiver inimigos e tentações.

Portanto, o Senhor transfigurou-nos em Si, quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que o Senhor Jesus Cristo era tentado pelo demónio no deserto. Na verdade, Cristo foi tentado pelo demónio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque Ele tomou para Si a tua condição humana, para te dar a sua salvação; para Si tomou a tua morte, para te dar a sua vida; para Si tomou os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, para Si tomou as tuas tentações, para te dar a sua vitória.

Se n’Ele somos tentados, n’Ele vencemos o demónio. Se te fixas no facto de Cristo ter sido tentado, considera também que Ele venceu. Reconhece-te tentado n’Ele, reconhece-te n’Ele vencedor. Bem poderia Ele ter mantido o demónio longe de Si; mas se não fosse tentado, não teria ensinado a vencer a tentação.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. No primeiro Domingo da Quaresma somos convidados a ir com Jesus ao deserto e contemplamos as diversas tentações. Também nós somos sujeitos a diversas tentações quotidianas e pela nossa fragilidade nem sempre somos capazes de como Jesus resistir à tentação pela força da Palavra de Deus. Tendo em conta a fragilidade da nossa vida e o especial desafio à conversão que a Quaresma propõe, este Domingo constitui-se como oportunidade para apresentar as diversas propostas paroquiais e vicariais da celebração do sacramento da Reconciliação. Além disso, pode ser ocasião para um convite criativo envolvendo a catequese ou algum outro grupo paroquial, distribuindo um convite ou um desdobrável com um exame de consciência, lançando o desafio a celebrar a alegria do perdão.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura é um longo discurso de Moisés ao Povo. Deste modo, a proclamação deste texto deve ter em atenção o tom narrativo que compõe todo o texto. Além disso, dentro deste grande discurso está a confissão de fé que cada hebreu deve proferir diante do Senhor na apresentação das primícias, pelo que a correcta e clara leitura deste texto deve ter em conta esta situação. A segunda leitura exige um especial cuidado com as pausas e a pontuação. A leitura abre com uma frase interrogativa à qual se segue a resposta. A articulação das diferentes orações requer uma adequada entoação. Além disso, chama-se a atenção para a afirmação central do texto: «Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo». Esta afirmação está em ligação com a frase conclusiva do texto: «Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo». A proclamação do texto deve ter em conta a articulação das diferentes frases.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Ele me chamará – F. Santos (BML, 40); Salmo Responsorial: Estai comigo, Senhor (Sl 90) – M. Luís (SRML, p. 270-271); Aclamação ao Evangelho: Glória a Vós, Cristo | Nem só de pão – F. Santos (BML, 35); Ofertório: Compadecei-vos de mim – F. Santos (CN 309); Comunhão: Nem só de pão vive o homem – F. Santos (CN 641); Pós-Comunhão: Jesus Cristo amou-nos – M. Luís (CN 553); Final: Irmãos, convertei o vosso coração – J. P. Lecót (CN 543).