Filipinas: populismo intolerável

Philippine President Rodrigo Duterte addresses troops during the turnover-of-command ceremony for the new chief of the Philippine National Police General Oscar Albayalde succeeding General Ronald "Bato" Dela Rosa Thursday, April 19, 2018 at Camp Crame in suburban Quezon city northeast of Manila, Philippines. Duterte told the crowd he will not stop his so-called war on drugs until his last day in office. (AP Photo/Bullit Marquez)

Formado por cerca de sete mil ilhas e com uma população de cem milhões de habitantes – mais doze na diáspora – o arquipélago das Filipinas tem merecido, nos últimos tempos, um interesse renovado por parte da comunicação internacional. Não propriamente pelo facto de esses números corresponderem ao mesmo peso político e económico na cena política mundial, mas tão somente pelo comportamento do seu actual presidente, Rodrigo Uterte.

Por António José da Silva

Ainda não há muitos anos, – falamos dos finais dos anos oitenta do século passado – a situação política e social das Filipinas era motivo de um grande interesse da opinião pública internacional. Era o tempo do governo autocrático de Ferdinando Marcos e da luta travada pelas forças da oposição em prol da instauração de uma verdadeira democracia no País. Foi uma luta que conheceu alguns episódios violentos, mas que terminou com a deposição de Marcos e com o triunfo eleitoral de Corazon Aquino, viúva de Benigno Aquino, assassinado no dia do seu regresso a Manila para liderar a campanha eleitoral da oposição ao governo. Com o advento da normalidade democrática, as Filipinas deixaram de merecer um grande interesse jornalístico, pelo menos até chegar à presidência do país um tal Rodrigo Uterte.

Tratava-se de um advogado oriundo de uma família católica conservadora, que tinha governado durante vinte e dois anos o distrito de Davao, onde ficou conhecido pelo apelido de “justiceiro”, tal o empenho obsessivo com que se dedicou a combater o crime, nomeadamente o tráfico de droga. Foi uma espécie de cruzada em cujas operações de rua ele mesmo participou, fazendo da eliminação física dos “criminosos” um título de glória pessoal que lhe terá servido para chegar à presidência do país.

Essa cruzada contra o crime, de que tanto se gloria ainda hoje, levou-o ao triunfo nas eleições e, desde então, Uterte não mudou em nada o seu o seu método de governação e o seu estilo de comunicação populista e insultuoso, a que nem mesmo o papa Francisco escapou. De qualquer modo, há poucos dias, Uterte teve de fazer um recuo, no caso da prisão de uma freira australiana, detida por erguer a sua voz contra as violações dos direitos humanos, violações que se vão repetindo através do país. O problema é que o mundo já não acredita que ele venha mudar o seu comportamento, a não ser os seus fanáticos seguidores, convencidos como estarão ainda por um discurso populista que devia ser intolerável.