A propósito do ’Dia da Europa’ – o ‘Pai do Euro’

Por João Alves Dias

Celebrou-se, no passado dia nove, o ‘Dia da Europa’. Em anos anteriores, evoquei a memória dos ‘Pais da Comunidade Europeia’ como Robert Schuman,( (cf. ‘Um Santo na Política’, VP, 24/11/2021), hoje, quero enfatizar o ‘Pai do Euro’, falecido em dezembro passado..

“O francês Jacques Delors, figura central da construção do projeto europeu, morreu ontem aos 98 anos. Socialista e católico, Delors liderou a Comissão Europeia entre 1985 e 1995. A criação do Mercado Único e o aprofundamento da integração europeia valeram-lhe a alcunha de ‘Pai do Euro’. (JN, 28/12/2023)

Das muitas reações surgidas aquando da sua morte, umas fixavam-se nos méritos do estadista; outras iam mais além e realçavam as motivações evangélicas.

. A Presidente da Comissão Europeia – “Foi um visionário que tornou a Europa mais forte. Seu trabalho moldou gerações inteiras de europeus “.

. O Chanceler alemão – “Defendeu a unificação europeia como ninguém: durante uma década, dirigiu a CE e, como visionário, tornou-se mestre construtor da União Europeia como a conhecemos hoje”.

. O Presidente da República – “Grande mentor da evolução das Comunidades, mobilizador do alargamento a Portugal e Espanha, encarna para muitos europeus a própria construção europeia. (…) No seu catolicismo militantemente progressista, encontrou sempre a força para ultrapassar as dificuldades, encontrar soluções, mantendo a Europa unida e alargada, um projeto que sempre foi de Paz, de progresso e de bem-estar, de caminho em comum para a resolução dos problemas comuns.”

. O Prof. Guilherme d’Oliveira Martins – “Com militância cristã e com enraizados valores liberais e democráticos. (…) mantém sempre uma intensa atividade de militância social e nos grupos de cristãos inconformistas” (7Margens, 29/12/2023)

. Na mesma edição, o jornalista Manuel Pinto, sob o título “Jacques DelorsUma vida política inspirada pela mensagem cristã”, começa por sintetizar:

“Ator e testemunha de um século vibrante e dramático, Jacques Delors faleceu esta quarta-feira (…) depois de uma vida intensa, marcada pela construção europeia e pela dimensão social e inspirada pela sua fé cristã”.

A seguir, esclarece:

“A fé cristã foi, no dizer de Isabelle de Gaulmyn, do jornal La Croix, “o fio vermelho” de toda a sua vida. (…) . Entrou na Ação Católica ainda adolescente, (…) filiando-se na Juventude Operária Católica, uma ligação que permaneceu ao longo de toda a vida.

Tanto esta militância, como a que, com a esposa, viveram na direção do movimento Vie Nouvelle nascido do Escutismo Católico, decorreram sob a inspiração do personalismo cristão de Jacques Maritain e Emmanuel Mounier.

Assente nas dimensões pessoal, religiosa e cívica, a formação e ação comunitária valorizavam a intervenção na vida da Igreja, o ecumenismo e a vivência da pobreza evangélica, o que lhes chegou a trazer tensões com os responsáveis eclesiásticos”.

E conclui… “A dimensão dos valores – da verdade, da frontalidade, da exigência, da solidariedade – acompanharam-no, mais tarde, no seu percurso político, tornando-se uma figura marcante pela visão e pelo testemunho.”

Relembro o que Jorge Cunha escreveu (VP, 10/1/2024): “A biografia política de Jacques Delors é profundamente condicionada pela sua fé cristã. (…) Dois aspetos merecem, neste capítulo ser postos em evidência: o seu empenhamento pela moralização do trabalho e a sua convicção da política inspirada pelos valores éticos“.

Termino com uma palavra de louvor à JOC e ao Escutismo que estiveram na base da ‘intensa atividade de militância social’ deste estadista que ‘moldou gerações inteiras de europeus’ e foi o ‘mestre construtor da União Europeia como a conhecemos hoje’.

Os valores éticos da liberdade, da igualdade, da justiça e da fraternidade enformaram estes homens que, na península ocidental da Eurásia que a história fez continente, construíram uma Comunidade de Estados cimentada em ideais democráticos.

Merecem que, na linha da ‘Declaração Schuman’ (9/5/1950) em cujo aniversário celebramos o ‘Dia da Europa’, lutemos por uma Europa de paz e não de guerra; de nações e não de impérios, sem ódios nem discriminações.