Embeber de fé a nossa vida diária

Por Joaquim Armindo

Se acreditamos na Ressurreição então “… somos desafiados a embeber de fé a nossa vida diária, isto é, a ter Jesus como nosso companheiro de caminho, nas nossas angústias quanto nas nossas audácias e exigências;” e “…somos desafiados…a olhar cada momento que vivemos…”, “… ou seja, somos desafiados a conviver com a nossa humana incapacidade para compreender tudo o que nos sucede com um espírito livre e esperançoso porque “Ele está comigo!”;” “… mas, também, somos desafiados a alargar o nosso olhar ao que nos cerca em especial no relacionamento com os(as) outros(as) possibilitando-lhes o seu encontro connosco (como Jesus com a samaritana (S. João 4, 1-42), tendo presente que “A fé cristã não é um calmante, mas o excitante da inteligência e dos afetos” (Bento Domingues, frade dominicano, teólogo);” e “… somos desafiados a escutar e ver as suas necessidades (como Jesus com os leprosos, o surdo mudo e outros) exercitando a nossa compreensão para quem se aproxima de nós (como Jesus com Pedro, Tomé e a mulher prostituta).” – escreve na sua “Saudação da Páscoa”, o bispo emérito da Igreja Lusitana – Comunhão Anglicana, Fernando Soares.

Esta “Saudação”, baseada na primeira carta de Pedro 3,18, “Jesus que morreu na carne, foi vivificado no espírito”, constitui de facto um repto a todos os cristãos e a todas as cristãs que sustentam a ressurreição de Jesus Cristo. Repare-se nos verbos usados por Fernando Soares “embeber”, “olhar”, “conviver”, “alargar” e “escutar”, que constituem uma “cartilha” para todos (as) os(as) cristãos (ãs), que fazem das suas vidas uma ressurreição constante no seu quotidiano. Acertadamente cita o teólogo Bento Domingues para coroar todo o seu pensamento quando refere não ser a fé cristã um “calmante”, mas um “excitante” na vida, porque “O túmulo vazio é um forte sinal de VIDA e de ESPERANÇA no meio do sofrimento e da morte (no que está a acontecer em Gaza, na Ucrânia e noutros locais de guerra no mundo).”

O bispo emérito recorda que é “nas situações mais inumanas a fé na Ressurreição constitui uma força poderosa que nos apela a essa outra realidade, que escapa à nossa compreensão, mas que transforma o sofrimento e o medo de que nos afligem em algo de positivo que nos anima. Até os não crentes expressam esse sentimento: “No meio do inverno, aprendi que existia em mim um invencível verão” (Albert Camus, filósofo, escritor e ensaísta franco-argelino).” Termina “com um sentimento de alegria materializado na palavra que dá esperança e em atitudes de amor para quem encontrardes no vosso caminho.”

Uma “Saudação” que nos chama a compreender o sentido da Páscoa e, nomeadamente, da ressurreição, com a tonalidade do “sepulcro vazio” de Jesus.