Dois Amen na Missa

Foto: Miguel Mesquita

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Na missa há dois Amen com especial significado. Um é o que conclui a Oração Eucarística: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo…”; o outro é a resposta de cada fiel ao ministro que, ao dar a Comunhão, diz: “O Corpo de Cristo”.

Não se julgue o Amen coisa pouca. Já São Justino, em meados do século II, destacava o Amen conclusivo da Oração Eucarística e São Jerónimo refere que ele ribombava nas basílicas cristãs como um trovão do céu. Vale a pena ler a belíssima catequese do Amen do Catecismo da Igreja Católica nn. 1061-1065. «O próprio Jesus Cristo é o “Amen” (Ap 3, 14). É o Amen definitivo do amor do Pai para connosco; assume e leva a bom termo o nosso “Amen” ao Pai: “É que todas as promessas de Deus encontram n’Ele um ‘sim’! Desse modo, por seu intermédio, nós dizemos ‘Amen’ a Deus, a fim de lhe darmos glória” (2 Cor 1, 20)» (Catecismo…, 1065).

Amen é, pois, muito mais do que um optativo (duvidoso?) “assim seja”. Amen quer dizer firme, seguro, inabalável como um rochedo. É a mais concisa profissão de Fé que a Igreja quis preservar em hebraico, a língua primeira das Escrituras. Os dois Amen que aqui destacamos referem-se à Eucaristia: um ao oferecimento e doxologia eucarística, o outro à Comunhão eucarística.

O primeiro, é o Amen de toda a Igreja que oferece a Eucaristia, segundo o mandato de Jesus. A grande oração de ação de graças que o ministro ordenado proclamou e a ação que realizou, na pessoa de Cristo e pela força do Seu Espírito, é ação de toda a Igreja (como diz a Anáfora I ou Cânon Romano: “Nós vossos servos, com o vosso povo santo…”. Trata-se de um Amen que não é a mera soma dos Amen dos presentes. É o Amen da Igreja que se estende do Oriente ao Ocidente, dos Apóstolos aos nossos dias e, até, «pelos séculos dos séculos». Mas exprime-se e toma corpo, na boca e coração dos presentes. Ganha força, vitalidade e atualidade na voz daquela assembleia reunida. Não pode, por isso reduzir-se a um vago “sussurro” de distraídos, como se tem a sensação em muitas assembleias.

Preconizamos pois que ele seja cantado, ao menos, nas missas dominicais. O canto ajuda, sem dúvida, a que ele recupere a expressividade que lhe pertence. E não podemos resignar-nos ao empobrecimento que se introduziu com um uso imprevisto do novo Missal. De facto, a edição típica limita-se a oferecer a música de um Amen igual ao de todas as outras orações presidenciais. Mas não há nenhum motivo para recuar em relação à prática de repetir por 3 vezes este Amen principal. O Cantoral Nacional – que também é oficial (aprovado pela CEP e confirmado pela Congregação para o Culto Divino), na sua 3ª ed. de 2023 apresenta duas melodias para este tríplice Amen: uma do Vaticano e outra do Padre Manuel Luís. Mas, musicalmente, nada impede que, após o 1º Amen da atual melodia oficial, se cante o segundo e terceiro com a melodia do anterior Missal. Apresentamos nesta página essas três possibilidades. E os compositores, desde que respeitem a melodia oficial do 1º Amen, têm espaço aberto para colocar a sua criatividade ao serviço do louvor divino e da participação dos fiéis. Naturalmente, o canto da aclamação por parte dos fiéis pressupõe que a sacerdote que preside entoe a doxologia, como lhe compete.

Contudo, a Igreja, a Eucaristia, os Sacramentos só podem ser atos acontecimentos comunitários se também forem atos pessoais. «Comunitário» não é o mesmo que «coletivo». A comunidade não dissolve a pessoa mas também não é mera soma de indivíduos. E, na liturgia, essa saudável tensão é, frequentemente, expressa. Aquando do batismo, por exemplo, a resposta da fé é sempre feita na primeira pessoa do singular: «sim, creio!». E é-se batizado com o nome próprio!

Algo de semelhante acontece na Sagrada Comunhão do Corpo de Cristo. Quando o fiel se aproxima para comungar, responde individualmente: Amen. Sendo um Amen da «Comunhão», não é independente, desligado do Amen da Igreja mas participa dele, é sua expressão personalizada. É, afinal, a dinâmica da Salvação cristã explicitada: a obra redentora de Cristo é participada por cada um, pela fé e pelos sacramentos, na Igreja.

No Amen da Doxologia participamos no Amen da igreja, cantando, dando-lhe uma expressão sinfónica com ressonância universal, cósmica e escatológica. Aí ecoa o Amen perene de que nos fala o Apocalipse. O Amen, antes da comunhão, é recitado em voz mais submissa, mas audível. É o Amen que acompanha toda a nossa existência pessoal neste mundo e que culminará no Viático, na hora da nossa morte: “Amen. Vem Senhor Jesus!”.