Domingo IV da Páscoa

Foto: Miguel Mesquita

21 de Abril de 2024

 

Indicação das leituras

Leitura dos Atos dos Apóstolos                                                                       Actos 4,8-12

«Não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos».

 

Salmo Responsorial                                Salmo 117 (118)

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular.

 

Leitura da Primeira Epístola de São João                                                          1 Jo 3,1-2

«Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus».

 

Aclamação ao Evangelho                       Jo 10,14

Eu sou o bom pastor, diz o Senhor:

conheço as minhas ovelhas

e as minhas ovelhas conhecem-Me.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                            Jo 10,11-18

«Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas».

«Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor».

 

Viver a Palavra

Em cada ano, no IV Domingo da Páscoa, somos convidados a colocar o nosso olhar em Jesus, Bom, Belo, Perfeito e Verdadeiro Pastor. A imagem bucólica do pastor fazia parte do quotidiano dos que escutavam Jesus e manifestava a solicitude, o desvelo, a dedicação e o cuidado do pastor para com o seu rebanho. Hoje, nos nossos ambientes mais industrializados e urbanizados, esta imagem pode perder a sua força evangelizadora. Na verdade, a figura do pastor transmitia uma proximidade e atenção desconcertantes que contrasta com o mercenário que não sente as ovelhas como suas e quando vê abeirar-se o perigo, coloca-se em fuga. Não se pode ser pastor de segunda a sexta, com folgas e feriados. Ser pastor implica uma disponibilidade e atenção constantes, uma ternura e desvelo que cuida, ama, conhece, nutre e protege.

Jesus é «o Bom Pastor». Ele não se apresenta apenas como um pastor, mas «o bom» Pastor. A bondade é marca característica do Seu ser e agir. De olhar fixo em Jesus, Bom e Belo Pastor, também nós queremos aprender a arte de ser «bom», tomando consciência que a bondade não é mais uma coisa a fazer, mas o modo como fazemos todas as coisas.

«Conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas conhecem-Me». O verdadeiro pastor não cuida do rebanho em abstracto nem trata das ovelhas como uma massa indiscriminada, mas dá a cada uma um nome, conhece as suas qualidades e limites e protege-as de acordo com as suas necessidades e carências. Como recorda o biblista Raymond E. Brown no seu comentário ao Evangelho de João, os rebanhos que pastavam nas montanhas da Judeia pertenciam a diversos proprietários e, assim, cada pastor fazia-se reconhecer junto das suas ovelhas através da sua voz e pelo nome com que as chamava.

Mesmo que o rebanho possa já ser numeroso, o pastor não descansa enquanto não reunir todas as ovelhas e, por isso, escutamos Jesus afirmar: «tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir». Para Jesus, ninguém é dispensável, nem é admissível desistir seja de quem for, pois cada um de nós é precioso e necessário para que o rebanho possa estar completo. Acolher, procurar e ir ao encontro é palavra de ordem numa Igreja que queira ser fiel ao mandato de Jesus Cristo e que caminha animada pela força do Espírito Santo.

«Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus». Somos filhos muito amados de Deus e, por isso, irmãos uns dos outros. Pertencemo-nos porque somos pertença de Deus pela filiação divina. Filiação e fraternidade caminham indissociavelmente e impelem-nos a construir uma cultura da ternura e do cuidado. É muito curioso que apesar de Jesus sublinhar esta atenção e cuidado no conhecimento das suas ovelhas, chamando cada uma pelo seu nome, os evangelhos falam sempre de rebanhos e não de ovelhas isoladas. Quando se fala de uma ovelha sozinha ou separada é para descrever uma situação negativa de uma ovelha perdida que se afastou do rebanho, que deixou de seguir o pastor e ouvir a sua voz.

Não podemos permitir que ninguém se possa perder, ficar à margem ou ser descartado. Podemos e devemos respeitar a liberdade e as opções de cada um, mas temos de oferecer sempre o acolhimento e o acompanhamento que não deixa ninguém para trás, apontando sempre Jesus Cristo e o Seu Evangelho como único caminho de salvação.

Mas até onde deve ir a nossa entrega e dedicação? Jesus é muito claro: «Eu dou a vida pelas minhas ovelhas». Enquanto não dermos tudo, damos muito pouco. Enquanto não oferecermos a nossa vida toda, a nossa entrega estará incompleta.

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de São Gregório, papa,

sobre os Evangelhos (Séc. VI)

Eu sou o Bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, isto é, amo-as, e elas conhecem-Me. Como se quisesse dizer claramente: obedecem Àquele que amam. Quem, efectivamente, não ama a verdade, é porque ainda não a conhece. E já que ouvistes, irmãos caríssimos, o perigo que corremos nós, ponderai bem, por estas palavras do Senhor, o perigo que correis vós também. Vede se sois suas ovelhas, vede se O conheceis, vede se possuís a luz da verdade. Se O conheceis, digo eu, não só pela fé, mas também pelo amor e pelas obras.

O mesmo evangelista João, de quem são estas palavras, afirma noutro lugar: Quem diz que conhece a Deus e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso.

Por isso, nesta passagem o Senhor acrescenta imediatamente: Assim como o Pai Me conhece, também Eu conheço o Pai, e dou a vida pelas minhas ovelhas. Como se dissesse explicitamente: a prova de que Eu conheço o Pai e sou por Ele conhecido, está em que dou a vida pelas minhas ovelhas; por outras palavras: o amor que Me leva a morrer pelas minhas ovelhas mostra até que ponto Eu amo o Pai.

Continuando a falar das suas ovelhas, diz ainda: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; Eu conheço-as e elas seguem-Me; e dou-lhes a vida eterna. Delas tinha dito um pouco antes: Se alguém entrar por Mim, será salvo; poderá entrar e sair e encontrará pastagem. Entrará, efectivamente, abrindo-se à fé; sairá, passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pasto abundante no banquete eterno.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O dia 21 de Abril, IV Domingo da Páscoa, é o Dia Mundial de Oração pelas Vocações e Domingo do Bom Pastor. Neste Domingo, as comunidades cristãs são convidadas a rezar pelas vocações, pedindo ao Senhor que cada homem e cada mulher, fazendo a experiência do infinito amor com que Deus os cumula, respondam afirmativamente ao chamamento que o Senhor lhes dirige. No site da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios estão disponíveis diversos materiais para a dinamização desta semana (http://www.ecclesia.pt/cevm/). Contudo, a proposta vocacional feita a todos através de diversas dinâmicas e iniciativas, não pode deixar descurar o acompanhamento pessoal e personalizado que a tarefa vocacional exige. Esta é uma missão de todos, em especial dos pastores, catequistas e demais agentes evangelizadores.

 

  1. Para os leitores: a brevidade das duas leituras e a inexistência de palavras mais incomuns não pode permitir descurar a preparação dos textos. Ambos os textos exigem uma acurada preparação nas pausas e respirações e ambos são marcados por um tom alegre e jubiloso pela ressurreição de Jesus Cristo (1.ª leitura) e pela boa notícia de que em Jesus Cristo somos filhos muito amados de Deus (2.ª leitura).

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: A bondade do Senhor – A. Cartageno (CEC I, p. 139 | CN, 138); Salmo Responsorial: A pedra que os construtores rejeitaram (salmo 117) – M. Luís (SRML, p. 204-205); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu sou o bom Pastor, diz o Senhor – Az. Oliveira (CN 55); Ofertório: Como o Pastor ama o seu rebanho – T. Sousa (CN 304); Comunhão: O Cordeiro de Deus é o nosso Pastor – C. Silva (CN 674); Pós-Comunhão: Eu tenho o poder – A. Cartageno (CN 456); Final: Na sua dor os homens encontraram – A. Cartageno (CN 864).