Por Secretariado Diocesano da Liturgia
- A virtude e a prática da Penitência continuam a ser elementos necessários da preparação pascal: a prática externa da Penitência, tanto dos indivíduos como de toda a comunidade, há-de ser o resultado da conversão do coração. Não se esqueça a participação da Igreja na acção penitencial e insista-se na oração pelos pecadores, introduzindo-a frequentemente na oração universal (cf. Congregação para o Culto divino, Preparação e Celebração das Festas pascais, de 1988 = PCFP, 14).
- Exortem-se os fiéis para que, segundo a lei e as tradições da Igreja, se abeirem neste tempo do sacramento da Penitência e possam assim participar de alma purificada nos mistérios pascais. É muito conveniente que o sacramento da Penitência se celebre, durante o tempo da Quaresma, segundo o rito para reconciliar vários penitentes com confissão e absolvição individual, tal como vem indicado no Ritual Romano (cf. PCFP, 15).
- Este exercício da Penitência, como caminho necessário para a Páscoa, é-nos apontado, com insistência, nas orações do Missal. Trata-se de seguir Cristo, “mestre e exemplo da humanidade reconciliada” pelo caminho que novamente é aberto à Igreja, desde o “deserto quaresmal”, para chegar à “montanha santa, de coração contrito e humilhado”, a fim de tomar consciência da sua vocação, escutar a palavra, cantar o louvor e fazer a experiência do amor misericordioso de Deus (cf. Prefácio da Quaresma, V).
- Não se trata de uma exercitação estéril, mas, mais que exercício, de um dom do Amor divino. Com efeito, “ao homem, náufrago do pecado e da morte” abre-se “o porto da misericórdia e da paz”. Deste modo, se prepara o Banquete e a Festa, oferecendo uma “segunda tábua de salvação” para “a Igreja, santa e também pecadora” e restitui-se a dignidade batismal (cf. Prefácio da Quaresma, VI).
- A realização deste projecto quaresmal encontra algumas dificuldades muito concretas e é sumamente exigente, particularmente hoje, para os ministros do Sacramento da Reconciliação (Bispos e Padres). Tais dificuldades pressionam, em alguns casos, soluções que, sendo fáceis, são falsas, porque esvaziam o conteúdo do sacramento, como encontro e acolhimento pessoal, entre o pecador e Deus misericordioso.
- Em algum caso, a rotina ou a pressa. Noutros, o cansaço dos confessores (em menor número) e da espera prolongada dos penitentes. Importa, com paciência, alguma criatividade, e persistência, fazer das “confissões”, uma autêntica Celebração sacramental gozosa. Neste sentido, se aponta o Rito da Reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição individual. Há neste Rito uma riqueza que ainda não foi suficientemente explorada.
- Sem dúvida que a dificuldade maior é a crise do «sentido do pecado», que se verifica na cultura contemporânea. Sem exagerar, tal facto (a perda do sentido do pecado) é causa evidente de um aumento de conflitos na vida social e traduz-se, em muitos, até cristãos de prática sacramental, num empobrecimento espiritual, manifesto num avassalador sentimentalismo que substituiu a sensibilidade delicada e apurada. No Sacramento da Reconciliação não se poderá fazer tudo, mas importará aceitar tal desafio para uma pastoral objectiva da Evangelização e para uma Catequese ampla e englobante de crianças, jovens e adultos.
- Outra dificuldade é a duração da Celebração na modalidade da Reconciliação de vários penitentes… Não deve ser longa (o máximo 1 hora) e os fiéis devem poder contar com isso. Tal implica um número razoável de confessores, um ritmo ágil (sem pressa, nem “buracos”), um programa variado, com alternâncias de silêncio, canto e palavra e, porventura, gestos e atitudes significativas e marcantes. Cuide-se, particularmente, do momento mais longo requerido pelas confissões e absolvições individuais, sem deixar de privilegiar o silêncio, mas onde a palavra e o canto (breves e oportunos) poderão contribuir para ele.
- Onde, apesar de tudo, não seja possível realizar essa Celebração na modalidade referida, seja por falta de confessores suficientes, seja por razões de horário ou outras, não deixe de se aproveitar e valorizar o “ajuntamento” tradicional dos fiéis para as “confissões”, lançando mão dos elementos propostos pelo Ritual e multiplicando as oportunidades de celebrar o Sacramento segundo a sua primeira forma (celebração individual).
- A Celebração do Sacramento da Reconciliação e Penitência pode tornar-se numa experiência única, gozosa e espiritualmente rica: o momento, por excelência da Preparação pascal.