Preparar a Páscoa: o Sacramento da Reconciliação e da Penitência

Foto: Rui Saraiva

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

  1. A virtude e a prática da Penitência continuam a ser elementos necessários da preparação pascal: a prática externa da Penitência, tanto dos indivíduos como de toda a comunidade, há-de ser o resultado da conversão do coração. Não se esqueça a participação da Igreja na acção penitencial e insista-se na oração pelos pecadores, introduzindo-a frequentemente na oração universal (cf. Congregação para o Culto divino, Preparação e Celebração das Festas pascais, de 1988 = PCFP, 14).
  2. Exortem-se os fiéis para que, segundo a lei e as tradições da Igreja, se abeirem neste tempo do sacramento da Penitência e possam assim participar de alma purificada nos mistérios pascais. É muito conveniente que o sacramento da Penitência se celebre, durante o tempo da Quaresma, segundo o rito para reconciliar vários penitentes com confissão e absolvição individual, tal como vem indicado no Ritual Romano (cf. PCFP, 15).
  3. Este exercício da Penitência, como caminho necessário para a Páscoa, é-nos apontado, com insistência, nas orações do Missal. Trata-se de seguir Cristo, “mestre e exemplo da humanidade reconciliada” pelo caminho que novamente é aberto à Igreja, desde o “deserto quaresmal”, para chegar à “montanha santa, de coração contrito e humilhado”, a fim de tomar consciência da sua vocação, escutar a palavra, cantar o louvor e fazer a experiência do amor misericordioso de Deus (cf. Prefácio da Quaresma, V).
  4. Não se trata de uma exercitação estéril, mas, mais que exercício, de um dom do Amor divino. Com efeito, “ao homem, náufrago do pecado e da morte” abre-se “o porto da misericórdia e da paz”. Deste modo, se prepara o Banquete e a Festa, oferecendo uma “segunda tábua de salvação” para “a Igreja, santa e também pecadora” e restitui-se a dignidade batismal (cf. Prefácio da Quaresma, VI).
  5. A realização deste projecto quaresmal encontra algumas dificuldades muito concretas e é sumamente exigente, particularmente hoje, para os ministros do Sacramento da Reconciliação (Bispos e Padres). Tais dificuldades pressionam, em alguns casos, soluções que, sendo fáceis, são falsas, porque esvaziam o conteúdo do sacramento, como encontro e acolhimento pessoal, entre o pecador e Deus misericordioso.
  6. Em algum caso, a rotina ou a pressa. Noutros, o cansaço dos confessores (em menor número) e da espera prolongada dos penitentes. Importa, com paciência, alguma criatividade, e persistência, fazer das “confissões”, uma autêntica Celebração sacramental gozosa. Neste sentido, se aponta o Rito da Reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição individual. Há neste Rito uma riqueza que ainda não foi suficientemente explorada.
  7. Sem dúvida que a dificuldade maior é a crise do «sentido do pecado», que se verifica na cultura contemporânea. Sem exagerar, tal facto (a perda do sentido do pecado) é causa evidente de um aumento de conflitos na vida social e traduz-se, em muitos, até cristãos de prática sacramental, num empobrecimento espiritual, manifesto num avassalador sentimentalismo que substituiu a sensibilidade delicada e apurada. No Sacramento da Reconciliação não se poderá fazer tudo, mas importará aceitar tal desafio para uma pastoral objectiva da Evangelização e para uma Catequese ampla e englobante de crianças, jovens e adultos.
  8. Outra dificuldade é a duração da Celebração na modalidade da Reconciliação de vários penitentes… Não deve ser longa (o máximo 1 hora) e os fiéis devem poder contar com isso. Tal implica um número razoável de confessores, um ritmo ágil (sem pressa, nem “buracos”), um programa variado, com alternâncias de silêncio, canto e palavra e, porventura, gestos e atitudes significativas e marcantes. Cuide-se, particularmente, do momento mais longo requerido pelas confissões e absolvições individuais, sem deixar de privilegiar o silêncio, mas onde a palavra e o canto (breves e oportunos) poderão contribuir para ele.
  9. Onde, apesar de tudo, não seja possível realizar essa Celebração na modalidade referida, seja por falta de confessores suficientes, seja por razões de horário ou outras, não deixe de se aproveitar e valorizar o “ajuntamento” tradicional dos fiéis para as “confissões”, lançando mão dos elementos propostos pelo Ritual e multiplicando as oportunidades de celebrar o Sacramento segundo a sua primeira forma (celebração individual).
  10. A Celebração do Sacramento da Reconciliação e Penitência pode tornar-se numa experiência única, gozosa e espiritualmente rica: o momento, por excelência da Preparação pascal.