Domingo III da Quaresma

Foto: João Lopes Cardoso

3 de Março de 2024

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Êxodo                                                                                Ex 20, 1-17

«Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 18 (19)

Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios                   1 Cor 1,22-25

«Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens».

 

Aclamação ao Evangelho                       Jo 3,16

Deus amou tanto o mundo

que lhe deu o seu Filho Unigénito;

quem acredita n’Ele tem a vida eterna.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                            Jo 2,13-25

«Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém».

«Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois».

«Destruí este templo e em três dias o levantarei»

 

Viver a Palavra

Quem é este Jesus de que nos fala o Evangelho? Onde está o Jesus manso e humilde, doce e compassivo a que nos habituamos? Tendo subido a Jerusalém, na proximidade da Páscoa judaica, Jesus entrou no templo e indignou-se com tudo aquilo que viu: «os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas».

Acredito que algumas pessoas, se tivessem oportunidade, retirariam esta passagem dos Evangelhos. Nela encontramos um Jesus frontal, bem diferente do Jesus que proclamou sobre o monte «Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra» ou se dirigia aos mais pequenos, dizendo «Deixai vir a mim as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu». Porventura, outros aproveitam esta passagem para justificar os seus actos mais violentos. Contudo, qualquer uma das atitudes será sempre abusiva e desproporcionada.

O mercado de ovelhas e bois, bem como os cambistas facilitava a vida daqueles que vinham ao tempo apresentar as suas ofertas. Não era prático, sobretudo para os que vinham de mais longe, trazer as ovelhas, as pombas, os cordeiros ou os bois que desejavam oferecer a Deus. Um outro problema era a questão da moeda: as pessoas traziam consigo as suas moedas locais e no templo a moeda que se usava era o siglo. Deste modo, a presença dos cambistas facilitava a vida daqueles que desejavam deixar a sua oferta no templo.

Em primeiro lugar, importa pensar que quer na nossa vida pessoal, quer na vida comunitária devemos ter cuidado com a absolutização do critério do mais prático. Se absolutizamos o pragmatismo, pode haver muitas coisas importantes que se perdem e outras que se pervertem. A vida cristã implica abraçar o caminho exigente da relação íntima e pessoal com o Deus revelado em Jesus Cristo. Evidentemente que não estou a afirmar a necessidade de optar sempre pelo caminho mais difícil ou por aquilo que é mais exigente por capricho ou masoquismo, pois, em diversas circunstâncias da nossa história, a vida é já suficientemente difícil e exigente pelas dificuldades e sofrimentos do caminho.

Jesus é frontal mas não é violento. Jesus toma um chicote de cordas, mas não bate em ninguém nem em nenhum animal. Deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas mas não feriu ninguém. Jesus assumiu, neste acontecimento, um gesto profético na linha do profetismo de Israel. Um gesto profético é uma acção simbólica que transmite uma mensagem clara que atinge o coração de cada homem e cada mulher.

Esta frontalidade de Jesus, num gesto profético tão radical e ousado, convida-nos a viver também esta frontalidade na nossa vida: frontais connosco mesmos na luta contra o pecado; frontais com situações à nossa volta que estão erradas e não devemos pactuar; frontais com aqueles que se cruzam connosco, abraçando com ternura a dureza das relações humanas. Seguir Jesus, implica seguir a radicalidade e a verdade que o Evangelho reclama das nossas vidas.

«Não façais da casa de meu Pai casa de comércio!». Como é urgente e necessário fazer ecoar estas palavras de Jesus. Quantas vezes a nossa relação com Deus e os irmãos se faz na lógica comercial dos ganhos a obter e dos bens a alcançar. A relação com Deus e os outros será tanto mais verdadeira quanto mais se contruir na lógica da gratuidade que rasga novos horizontes de esperança e transforma o coração de cada homem e de cada mulher num lugar de bondade, ternura e misericórdia.

 

Homiliário patrístico

Do Comentário de Orígenes, presbítero,

sobre o Evangelho de São João (Séc. III)

Destruí este templo e em três dias o reedificarei. Os homens carnais e entregues à vida dos sentidos parecem-me aqui representados por aqueles judeus que, irritados por Jesus os ter expulsado, acusando-os de transformarem a casa do Pai numa casa de negócio, pedem um sinal. Por este sinal devia Jesus justificar o seu procedimento e provar que era o Filho de Deus, o que eles na sua incredulidade não queriam admitir.

Mas o Salvador, referindo-Se ao seu corpo como se estivesse a falar daquele templo, respondeu à pergunta que Lhe fizeram: – Que sinal nos mostras para procederes assim? – com estas palavras: Destruí este templo e em três dias o reedificarei. Ambas as coisas, tanto o templo como o corpo de Jesus, segundo uma interpretação possível, são figura da Igreja, porque a Igreja, construída de pedras vivas e edificada como habitação do Espírito para um sacerdócio santo, estabelecido sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, tendo Cristo Jesus como pedra angular, com toda a razão se chama templo. Por isso diz a Escritura: Vós sois o corpo de Cristo e membros uns dos outros. Portanto, ainda que o ajustamento perfeito e harmonioso das pedras pareça ser desfeito e destruído, ainda que os ossos de Cristo, como está escrito no salmo vinte e um, sejam dispersos pela fúria da perseguição e violência daqueles que querem destruir a unidade deste templo, o templo será novamente edificado e o corpo ressuscitará ao terceiro dia, isto é, depois da tribulação que se avizinha e do dia da consumação que o seguirá.

Virá certamente um terceiro dia e nele aparecerá um novo céu e uma nova terra, quando todos estes ossos, isto é, toda a casa de Israel, se reanimarem no grande dia do Senhor, em que a morte será definitivamente aniquilada. Por isso, podemos afirmar que a ressurreição de Cristo, que põe termo à sua cruz e à sua morte, encerra já em si o mistério da ressurreição de todos os que formam o corpo de Cristo. O corpo sensível de Jesus foi crucificado e sepultado, e depois ressuscitou; assim também o corpo total de Cristo, formado por todos os seus santos, é pregado com Cristo na cruz e em certo sentido deixa de viver. Como Paulo, cada um dos santos em nada se gloria senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual foi crucificado para o mundo e o mundo para ele. De cada cristão se pode afirmar que não só foi crucificado com Cristo para o mundo, mas também com Cristo foi sepultado; como diz Paulo, fomos sepultados com Cristo pelo Baptismo na sua morte; acrescentando em seguida: E também com Ele ressuscitaremos, para nos sugerir já o penhor da nossa futura ressurreição.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O dia 8 de Março é dedicado pela sociedade civil à celebração do Dia Internacional da Mulher. Enquanto comunidade eclesial que habita o tempo e a história e procura iluminar os diversos âmbitos da vida humana, a Igreja não deve ficar à margem da comemoração deste dia. Cada comunidade pode pensar um modo criativo de assinalar este dia. A mulher assume um papel fundamental na sociedade e na vida da Igreja e este dia pode ser a ocasião para o reconhecer e valorizar. Contudo, como recorda o Papa Francisco na sua exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazónia, é necessário pensar o lugar da mulher na Igreja sem o reduzir ao funcionalismo, mas no horizonte da corresponsabilidade eclesial onde cada um tem lugar na edificação da comunidade e na acção evangelizadora da Igreja.

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, ter em atenção a extensão do texto na proclamação da forma longa. Além disso, deve haver um especial cuidado nas diversas repetições no início de cada frase, sobretudo da conjunção coordenativa correlativa «nem» e do advérbio «não». A segunda leitura, apesar da sua brevidade, reclama uma especial atenção com as frases mais longas e com diversas orações.

 

Sugestões de cânticos:

Entrada: Os meus olhos estão sempre fixos no Senhor – M. Faria (BML 50); Salmo Responsorial: Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna (Sl 18) – F. Santos (NCT 154); Aclamação ao Evangelho: Louvor a Vós, Rei da eterna glória | Deus amou de tal modo o mundo – F. Santos (BML 55); Ofertório: Attende, Dómine – Gregoriano (CN 222); Comunhão: Destruí este templo, diz o Senhor – T. Sousa (LHC II, p. 340); Final: Surgirá tua luz como aurora – F. Santos (CN 943).