AIS: Servir, ouvir, amar…

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) pede ajuda para os Cristãos do Médio Oriente

Mario Freiha é apenas um seminarista, mas sabe que tem um poder imenso. O poder transformador do amor. Agora, numa altura em que o espectro da guerra parece crescer de dia para dia e quando o Líbano atravessa, talvez, a pior crise económica da sua história, quando o desespero já tomou conta da maior parte da população, é bom escutar jovens assim, que vivem apenas em função dos outros, dos mais fracos, dos mais necessitados. Jovens sem medo.

Quando Mario Freiha dedilha as contas do rosário parece que tudo à sua volta fica mais calmo. É como se a tempestade amainasse sempre que fecha os olhos em oração. Mario é seminarista. Ele sabe que os tempos são muito difíceis, que tudo parece estar a desmoronar-se por ali, pelo Líbano. A crise económica tem sido devastadora para as famílias, empresas e o próprio Estado. Nada parece escapar. A situação é preocupante. A libra libanesa desvalorizou mais de 90% em relação ao dólar norte-americano nos últimos anos, tornando incomportáveis os preços da electricidade, da água e do gás para as famílias e para as empresas. A maioria da população libanesa vive em situação de extrema pobreza, uma realidade que se traduz, em muitos casos, já em fome. Esta situação agravou-se ainda mais com a pandemia e a explosão devastadora que ocorreu no porto de Beirute em Agosto de 2020, e que atingiu profundamente alguns bairros adjacentes onde se concentrava uma grande parte da comunidade cristã.

Crise nas vocações

Mario sabe bem que os tempos mudaram. A crise económica é devastadora e está a reflectir-se também nas vocações. Há cada vez menos jovens a seguir o sacerdócio e isso vai ter implicações sérias no futuro do país. “Quase todos os Libaneses estão a lutar para manter as necessidades básicas. Alimentação, saúde, água. E todos os jovens estão a deixar o Líbano em busca de educação e de trabalho. Até as vocações diminuem e estão reduzidas ao mínimo todos os anos por causa da crise económica. Costumávamos ter cerca de 120 seminaristas. Agora, entram apenas 15 seminaristas por ano”, explica Mario Freiha a uma equipa de reportagem da Fundação AIS. São palavras duras, mas que reflectam a realidade nua e crua que se está a viver neste país do Médio Oriente. O Líbano está a atravessar uma crise de tal forma profunda que não se antevê sequer uma solução. Por isso, é cada vez maior o número dos que emigram, dos que fazem as malas e partem. Partem os que podem. Ficam os que não têm alternativa…

“Servir as pessoas…”

Para Mario Freiha, porém, estes tempos difíceis estão a revelar-se uma oportunidade muito concreta para a sua própria formação como seminarista. A vocação do sacerdócio não escolhe lugar nem tempo. Acontece apenas e manifesta-se na doação aos outros. É isso que Mario faz. É isso que ele acha que tem de ser feito. “Seja qual for a situação, nós, enquanto seminaristas, consideramos como nossa a missão de servir as pessoas, de ouvir todos os problemas e dificuldades que as pessoas têm. Por isso, a solução para esta crise no Líbano é amar.” Servir, ouvir, ajudar e amar todos os dias. Numa altura em que tudo parece estar a ruir, o futuro deste país também passa pela solidariedade, pela entrega aos outros, pela generosidade. E os Cristãos têm aqui um papel chave, pois podem ser, como explica Mario Freiha a uma equipa de reportagem da Fundação AIS, a luz do mundo. Neste caso, a luz que ilumina as trevas em que o Líbano está mergulhado. “Trabalhamos com as pessoas para que não tenham medo, para as ajudar a ultrapassar a situação. Para as apoiar mental e espiritualmente. Por isso, os Cristãos no Líbano têm de ser luz. Mesmo que haja apenas uma pessoa que tenha fé, ultrapassaremos todos os obstáculos. É muito importante que os Cristãos permaneçam aqui.”

Paulo Aido

A group of Melkite priests and seminarians chanting and attending a liturgical act at the Melkite Catholic Basilica of St. Paul at Harissa near Beirut, Lebanon.
Lebanon, April 2022