Por Joaquim Armindo
“Meu caro, não quero alongar-me nem sugerir nada. Com 78 anos, pouco mais poderei fazer em termos “físicos”, mas em espírito acho que a intervenção e participação de cada um, dentro das suas capacidades físicas e mentais, dura até ao termo da vida que Deus nos queira, por Sua mercê, conceder.” – assim termina a “carta” que recebi dum irmão nosso no diaconado e que tece algumas considerações sobre vários temas importantes, que vou tentar resumir. Felicita-me pelas crónicas publicadas na VP, o que eu agradeço, e que devolvo, pois, também sei reconhecer o valor das que publicou em tantos jornais incluindo a VP. Escreveu o email “nesta tarde de chuva, que nos predispõe ao recolhimento”, e por isso, talvez, as suas palavras que diz “desalinhadas” nos caiam bem nos corações de quem as lê. Não deixa de referir que as minhas crónicas “certamente do agrado de muitos e, talvez, de alguns sentimentos menos abonatórios, mais contidos do que expressos, quiçá murmurados entre dentes. Sobre isso não quero nem devo tecer considerações, pois bem sabemos que o que dizemos ou escrevemos estará sempre sujeito ao crivo da crítica. Quando esta é séria e fundamentada, nada temos a dizer. Se assim não for, outros motivos menos claros e sinceros a motivarão, mas isso fica sob o escrutínio da consciência de cada um.” E desabafa sobre a situação atual vivida na igreja: “Pena é que, de um modo geral, desde o laicado aos religiosos e também, ousemos reconhecê-lo, ao ministério ordenado, tudo (pelo menos a mim…) me pareça tão verde, tão superficial, com uma posição tão “defensiva”, demasiado institucional, conservadora (reacionária…) e hierarquizante e, pior ainda, com um desconhecimento profundo por parte da maioria do “Povo de Deus”, mais habituada a escutar e a obedecer do que a pensar, opinar e “exigir”.”
Entrando também no assunto do diaconado refere: “Muitos dizem e pensam que lá estão os bispos e os padres (presbíteros) para pensar e resolver (aqui, falando por nós, diáconos “permanentes” – termo que, aliás nos discrimina…, paira um ambiente de penumbra que não é cinzento nem azul, não é carne nem peixe; não se sabe se somos ministros da Igreja ou “simples fiéis” – expressão que, aliás, julgo incorreta e discriminatória, porque, na verdade, somos todos fieis, antes de sermos mais qualquer coisa… Aos “simples fiéis” e religiosos incluídos, que representam noventa e nove por cento do Povo de Deus compete obedecer: – Visão tridentina que o sínodo, por vontade do Papa e de poucos mais, deve ser retificado, em pol de uma Igreja querida pelo Espírito de Deus, porque apresentada pelas atitudes de Cristo ao longo do Evangelho.”
Vale a pena continuar a escutá-lo, porque é vivo o seu testemunho: “Parece-me existir ainda um certo receio e desconfiança, para não falar em má- vontade e sobranceria por parte de alguns, no relacionamento com os diáconos e também alguma confusão que nem sempre me parece inocente. Se são ministros ordenados, portanto participantes, a seu modo, e em grau próprio, no sacerdócio ministerial, porque haverá, salvo algumas exceções (in)dignas de nota, tanta dificuldade em acolhê-los e integrá-los mais responsavelmente na vida pastoral?”
E mais diz, “sem medo”, para “todos, todos, todos”, só que não me ser possível continuar, sei que tenho um limite de espaço. Fica, no entanto, as principais referências para todos nós refletirmos.