17 de Dezembro de 2023
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Isaías Is 61,1-2a.10-11
«Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e me envolveu num manto de justiça».
Salmo Responsorial Lc 1,46-48.49-50.53-54
A minha alma exulta no Senhor.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses 1 Tes 5,16-24
«Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias».
Aclamação ao Evangelho Is 61,1 (cf. Lc 4, 18)
Aleluia.
O Espírito do Senhor está sobre mim:
enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres..
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Jo 1,6-8.19-28
«Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele».
«Eu baptizo na água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».
Viver a Palavra
A Liturgia da Palavra deste Domingo é marcada pelo convite à alegria: «Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus»; «A minha alma exulta no Senhor»; «Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias». A Palavra de Deus, Boa Nova da Salvação, anúncio alegre e jubiloso da presença de Deus nas nossas vidas, desafia-nos a viver marcados pela alegria nova que brota do encontro único e decisivo com Jesus Cristo: «A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria» (EG 1).
Efectivamente, muitos dos nossos contemporâneos poderão dizer-nos que no actual contexto social e cultural se torna muito difícil e exigente anunciar a alegria porque as nossas vidas estão marcadas pelo medo e pela insegurança de uma conjuntura socioeconómica que remete tantos homens e mulheres para a pobreza; a violência e a guerra que causam tanta morte e sofrimento. Contudo, a alegria nova que brota do coração de Jesus Cristo é muito mais do que um mero contentamento, umas gargalhadas rasgadas ou um narcótico que nos aliena e nos faz entrar numa esfera de alegria e bem-estar. A alegria do Evangelho é alegria nova dos que sabem amados, amparados e acompanhados por Jesus Cristo, Aquele que venceu o pecado e a morte e rasga diante de nós caminhos novos de esperança e confiança. A alegria de Jesus é aquela que no meio do sofrimento se chama força para enfrentar os desafios e dores. A alegria de Jesus é aquela que diante dos obstáculos e dificuldades do caminho se chama coragem e perseverança. A alegria de Jesus é aquela que diante da perda daqueles que amamos se chama esperança na vida eterna.
Deste modo, a alegria nova que brota do encontro com Jesus Cristo plasma a nossa vida de uma confiança absolutamente nova que nos faz olhar o tempo e a história como lugar da presença de Deus, conscientes que as dificuldades e exigências do caminho hão-de passar e a presença de Deus terna e misericordiosa permanece como garante de alegria e esperança.
Como João somos chamados a ser testemunhas de um amor maior que é luz que brilha no meio das sombras do tempo e da história. João sabe que só Jesus é a luz plena e verdadeira e que diante dele é pequeno e frágil e nem é digno de desatar a correia das suas sandálias. Mas a sua pequenez e fragilidade não são um obstáculo ao seu testemunho, mas o lugar oportuno a partir do qual ele comunica a sua mensagem de amor e esperança. João não é testemunha da grandeza, nem da majestade, mas da luz. Ele é testemunha alegre e jubilosa de que as sombras do tempo presente não têm a última palavra, porque sobre nós brilha a luz «terna e suave» que inunda de esperança as nossas vidas.
Por três vezes neste texto do Evangelho perguntam a João: «quem és tu?» e por três vezes ele responde: «não sou». João não constrói a sua identidade a partir de si próprio mas a partir de Jesus Cristo de quem ele é enviado e percursor. Deste modo, também cada um de nós mais do que se deter na pergunta «quem sou eu?», deve perguntar-se «quem sou eu a partir de Jesus?». Aqui descobriremos a nossa identidade mais profunda, inscrevendo a nossa identidade no horizonte maior e mais largo do amor de Deus e do Seu desígnio de salvação.
Homiliário patrístico
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Séc. V)
João era a voz, mas o Senhor era a Palavra desde o princípio. João era uma voz passageira; Cristo era desde o princípio a Palavra eterna. Sem a palavra, que vem a ser a voz? Vazia de qualquer sentido inteligível, não é mais que um simples ruído. A voz sem a palavra entra nos ouvidos, mas não chega ao coração.
Entretanto, vejamos o que sucede na comunicação do nosso pensamento. Se penso no que vou dizer, já está a palavra presente em meu coração; mas se pretendo falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.
Então, para conseguir que chegue a ti e cale em teu coração a palavra que já está no meu, recorro à voz e, mediante ela, falo contigo. O som da voz leva ao teu espírito o sentido da minha palavra; e quando o som da voz te fez chegar o sentido da minha palavra, esse mesmo som desaparece; mas a palavra que o som te transmitiu está já em ti sem deixar de permanecer em mim. Não te parece que esse som que te comunicou a minha palavra está dizendo: Convém que ela cresça e eu diminua? O som da voz fez-se sentir para cumprir a sua tarefa e desapareceu, como se dissesse: Com isto a minha alegria está completa. Retenhamos a palavra; não percamos essa palavra concebida no mais íntimo do nosso coração. Queres ver como a voz passa, enquanto a divindade da Palavra permanece? Que foi feito do baptismo de João? Cumpriu a sua missão e desapareceu. Agora é o baptismo de Cristo que está em vigor. Todos acreditamos em Cristo, todos esperamos a salvação em Cristo. Foi isto que a voz anunciou.
Indicações litúrgico-pastorais
- O terceiro Domingo de Advento é designado como Domingo Gaudete (Domingo da Alegria). Esta designação é retirada da primeira palavra da antífona de entrada da missa: “Gaudete in Domino semper ” (Alegrai-vos sempre no Senhor). A celebração eucarística deste Domingo é a oportunidade de uma reflexão sobre a alegria cristã e que está tão ligada ao magistério do Papa Francisco (Evangelii Gaudium, Amoris Laetitia e Gaudete et Exsultate), onde podemos encontrar belíssimos textos e contributos sobre a alegria do Evangelho, a alegria do amor que se vive na família ou a alegria de percorrer a estrada da santidade. O décimo aniversário da publicação da exortação Evangelii Gaudium pode ser uma boa oportunidade para uma iniciativa que envolva a proposta da alegria que nasce do encontro com Cristo.
- Para os leitores: o terceiro Domingo de Advento é também designado como Domingo Gaudete, isto é, Domingo da Alegria. Deste modo, a Liturgia da Palavra deste dia é marcada pelo tom alegre, feliz e jubiloso. A proclamação das leituras deve ter a marca da alegria e do anúncio de esperança que brota da palavra proclamada. Contudo, se, na primeira leitura, o texto está escrito na primeira pessoa e exprime a alegria pessoal de quem foi revestido pelo Espírito do Senhor, a segunda leitura é marcada por verbos na forma imperativa, convidando à alegria.
Sugestões de cânticos
Entrada: Alegrai-vos no Senhor – F. Fernandes (CEC I 20); Acender da vela: Ó Divina sapiência – Jesus Cristo, Luz das Nações – F. Santos (CN 557); Salmo Responsorial: A minha alma exulta no Senhor (Lc 1 ) – M. Luís (SRML, p. 186); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | O Espírito do Senhor está sobre mim – F. Santos (BML 33); Ofertório: O Espírito do Senhor está sobre mim – M. Luís (CN 685); Comunhão: Dizei aos desanimados – F. Santos (CN 374); Pós-Comunhão: O meu espírito exulta – C. Silva (CN 690); Final: Deus está diante do homem – F. Santos (CN 358).