O Presépio – no oitavo centenário de Greccio

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Na próxima noite de Natal ocorre o oitavo centenário do Presépio de Greccio, uma extraordinária e criativa iniciativa celebrativa e evangelizadora de São Francisco de Assis, na noite de 24 para 25 de dezembro de 1223. O Poverello, após a aprovação da Regra pelo Papa Honório III (Bula de 29 de novembro de 1223), prepara nos arredores de Greccio, no Vale de Rietti, uma celebração inédita da Natividade do Senhor Jesus. O relato do facto consta na biografia mais antiga do Santo (Tomás de Celano, Vida Primeira, cap. XXX 84-87) e na mais «oficial» biografia redigida por São Boaventura, sétimo ministro geral da ordem franciscana (Legenda Maior, X 7).

O Santo de Assis não «inventou» o Presépio, como frequentemente se repete. De facto, há representações da Natividade desde o remoto século III. E o próprio Francisco teve, certamente, a ocasião de contemplar, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, mosaicos com essa cena. O Santo queria «celebrar a memória do Menino que nasceu em Belém de modo a poder contemplar com os seus próprios olhos o desconforto que então padeceu e o modo como foi reclinado no feno da manjedoura entre o boi e o jumento» (Cel. 84).

São Boaventura informa que Francisco tinha obtido uma prévia aprovação papal para a sua iniciativa. De facto, uma decretal de Inocêncio III, do ano 1207, tinha proibido representações teatrais nos atos de culto, certamente porque essa prática se teria generalizado, ocasionando abusos de situações burlescas e menos decorosas. Por isso, a realização de Francisco foi extremamente sóbria, sem figurantes: apenas a manjedoura e, junto dela, o burro e o boi… Nem sequer havia «Menino»! Aliás, não era necessária a imagem porque a Eucaristia, celebrada sobre a manjedoura, proporcionou a presença real do Menino. Ali, onde os animais se alimentavam com o feno, alimentavam-se os homens «para saúde da alma e do corpo, com a carne do Cordeiro Imaculado, Jesus Cristo Senhor nosso, que a si mesmo se nos deu com sumo e inefável amor» (Celano, 87).

Com esta iniciativa, Francisco de Assis, ao mesmo tempo que desperta a fé dos simples no mistério da encarnação, quer apontar aos seus frades a verdadeira e insuperável regra da pobreza e humildade que o Filho do eterno Pai, o Menino Jesus, assumiu para si nas palhinhas de Belém.

Fica o convite para todos revalorizarmos, neste ano centenário, o Presépio nas nossas Igrejas, nas nossas casas, nos mais variados espaços. Foi tornado público, recentemente, um livrinho do Papa Francisco sobre o Presépio (O meu Presépio, lançado em Portugal pela Lucerna – Princípia Editora, Ldª, em coedição com a Livraria Editora Vaticana). Pode ser uma interessante prenda natalícia. Mas, antes e para além disso, convidamos a reler a Carta Apostólica Admirabile Signum, precisamente sobre o Presépio, que o Papa Francisco subscreveu em Greccio, em 1 de dezembro de 2019. É fácil encontrar o texto oficial na página do Vaticano (www.vatican.va) na secção das Cartas Apostólicas.

Nesta efeméride centenária, os superiores gerais da Família Franciscana (Frades Menores, Franciscanos Conventuais, Capuchinhos, Clarissas, Ordem Franciscana Secular, Terceira Ordem Regular) obtiveram da Penitenciaria Apostólica a concessão de uma indulgência plenária, nas condições habituais (confissão, comunhão, oração pelo Santo Padre, etc.), que pode ser obtida por quem visitar uma Igreja Franciscana e nela rezar diante do Presépio, entre 8 de dezembro de 2023 e 2 de fevereiro de 2024. Os enfermos ou impossibilitados fisicamente, podem igualmente usufruir do dom da Indulgência plenária, oferecendo os seus sofrimentos ao Senhor ou cumprindo práticas de piedade. É certo que em muitas igrejas e casas só se coloca a imagem do Menino Jesus no Presépio na noite de 24 para 25 de dezembro. Noutras, o presépio está colocado permanentemente. Não julgamos que para satisfazer a condição da indulgência, o presépio diante do qual se reza tenha de ter a imagem do Menino. Basta lembrar que, na noite de Greccio, o Presépio de São Francisco apenas tinha a manjedoura e os animais… O Menino? Virá sobre o altar, na celebração da Eucaristia e está realmente presente no Sacrário, Deus encarnado, Pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo.