
Por padre Tony Neves
São 20 reflexões sobre as Jornadas Mundiais da Juventude e o caminho sinodal da Igreja. A coordenação editorial é de Rui Saraiva e tem prefácio de Paulo Portas e Posfácio de Paulo Terroso. O pequeno livro, de 102 páginas, é ilustrado por muitas fotos das JMJ da autoria de João Lopes Cardoso.
Feitas estas apresentações genéricas, vamos diretos ao que interessa: o que lá é dito! Por isso, como estímulo à leitura, limito-me a fazer citações. Paulo Portas diz que o Papa Francisco ‘deixaria em Portugal, reconhecidamente, o timbre e o sabor de uma espécie de tsunami de concórdia, harmonia, inclusão, generosidade, simplicidade, espessura e alegria’ (p.6). Mais à frente, garante que ‘Francisco tem o dom de mobilizar os fiéis, conquistar os indiferentes e inquietar os desconfiados’ (p. 8). Termina: ‘Todos, todos, todos: eis a marca destas Jornadas que, inspiradamente, podia ser o mantra da próxima etapa sinodal’’ (p.9).
Rui Saraiva, o coordenador, diz que as JMJ ‘com as suas canções, danças, orações, jogos, sorrisos, lágrimas e abraços, semearam a beleza da diferença’ (p.11). E garantiu: ‘Não temos medo. Aqui estamos para refletir sobre o que vimos e sentimos’ (p.13).
Bento Amaral, enólogo, diz que é ‘preciso deixar decantar as emoções.(…). As perguntas que ficaram foram: E agora? E agora, o que fazer com o que me foi dado?’ (p.17).
A Irmã Filipa Lima lembrou que ‘não somos ‘só’ um grupo gigante e diverso de pessoas, somos Igreja’. E desafiou: ‘ o caminho sinodal será longo até que todos e que cada um tenham um lugar na Igreja’ (p. 21).
Filipe Anacoreta Correia, da organização, confessa que ‘onde antes havia resistências foram surgindo disponibilidades. Nasceram soluções onde só se viam problemas’ (p.24). Para ele, ‘foi muito forte ver Deus chegar a partir da música, da dança, da arte, da imagem e do som’ (p.27).
Helena Ferro de Gouveia diz que ‘na Igreja não são admissíveis quaisquer discriminações, sejam elas de que ordem for; a Igreja está de portas abertas a todos e todas, aos que nela quiserem entrar’ (p. 31). Termina: ‘Não há desculpa nenhuma para deixar a mulher fora da liderança na Igreja’ (p.32).
João Paiva sente que ‘são agora as comunidades, em vida vivida, vida suada, vida refletida, vida festiva, vida ousada e criativa, que continuam a Jornada, lugar de partida e não de chegada’ (p.37).
Joaquim Franco defende que ‘para que a experiência de Lisboa não seja vento continental que aqueceu na passagem e se dissipa no oceano, há que experimentar novos caminhos’ (p.40).
O P. José Luís Borga apresenta a sua síntese: ‘viveu-se uma feliz e elevada experiência de acolhimento e de partilha. Comunhão de tudo e em todos’ (p.46).
J. Manuel Pureza termina: ‘o rasto que deixará será o de cada passo na construção de uma economia que dê vida aos pobres e à casa comum que é o Planeta’ (p.51).
O P. José Maria Brito diz que ‘na JMJ rezou-se de olhos abertos. A Via Sacra, em que cada passo do caminho de Jesus foi colocado em diálogo com fragilidades vividas por tantos jovens espalhados pelo mundo, foi um exemplo claro deste modo de rezar’ (p.54).
Matilde Trocado, responsável por todas as coreografias das JMJ, está convicta de que, nas JMJ, ‘a arte era uma linguagem comum a todos. Era a língua que todos compreendiam. Na música, na dança, na expressão, nas cores, na poesia, a arte alimentava a oração e vice-versa’ (p.58).
Paulo Mendes Pinto apresenta o Papa: ‘a sua genuinidade, a sua franqueza, a sua repulsa ao fausto, são bem acolhidas mediaticamente e empaticamente, de forma generalizada’ (p.62).
Rita S. Monteiro partilha: ‘sinto que não foi só o Papa Francisco que se encontrou com os jovens e os jovens com o Papa, mas foi uma Igreja que se encontrou consigo mesma, com o mundo e com o seu mandato original’ (p.70).
A Irmã Sandra Bartolomeu diz que ‘se tivesse de escolher uma palavra para descrever as JMJ seria: surpresa!’ (p.72). E acrescenta: ‘a esperança necessita de ser cultivada hoje’ (p.75).
O P. Sérgio Leal é de opinião que ‘estas JMJ serão um acontecimento estéril, se não somos capazes de ver nelas um laboratório eclesial e sinodal’. Conclui: ‘As coordenadas fundamentais das JMJ – acolhimento, festa, partilha, encontro, fraternidade, caminho – devem moldar a ação eclesial’ (p.77).
Sílvia Monteiro olha as JMJ como ‘um evento memorável em que pudemos contemplar uma Igreja transfigurada, jovem, aberta, inclusiva e multicultural’ (p.80).
Sofia Salgado conclui: ‘aquilo que de maravilhoso vivemos, não é para ficar em nós, mas para nos levar ao anúncio e à ação’ (p.87).
Sónia Neves lembra que ‘só o ‘caminhar juntos’, na partilha dos encontros e na ternura da fraternidade, pode levar à verdadeira experiência e vivência, à essência da relação e ao foco do sentido da vida’ (p.92).
O P. Paulo Terroso, no Posfácio, conclui: ‘Este agora, ou ‘e agora!?’, com a sua urgência, exclamação e interrogação, responsabiliza-nos, mas não nos deve meter medo. Porque o ‘e agora!?’ não é uma interrogação nossa, ou exclusiva do nosso tempo, pois já o foi dos Apóstolos, após a morte e ressurreição de Jesus e do Pentecostes. ‘E agora!?’ é uma pergunta recidiva na vida da Igreja’ (p.97).
Este livro, ou melhor, esta coleção plural de partilhas – cito ainda Paulo Terroso – ‘confirma essa possibilidade de dar a voz a todos, de dialogar com todos, da possibilidade de habitar tensões e compor polifonias dissonantes’ (p.97).