Os abusos dos poderes

Por Joaquim Armindo

O número de setembro da Revista “Concilium”, editada pela Editorial Verbo Divino (Espanha), tem um conteúdo sobre um tema candente para a Igreja “Abusos en la Iglesia” e em todos os seus artigos merece reflexão por todos nós. Não para nos flagelarmos, enquanto Igreja, que todos/as nós somos, mas para não deixarmos na história o flagelo dos “abusos” sem mais. Compete à Igreja – que repito somos todos/as nós -, não estrangular o que a sociedade – e bem – requer de cada um/a, que é uma “pedra da igreja”. Refere a revista, num artigo da autoria de Ute Leimgruber, “Escuchar a las víctimas!…” (página 495), este depoimento de Saskia Lang: “Muito cedo na minha vida, aprendi que a Igreja vê as mulheres como a fonte do pecado. No processo o clérigo usou seu pênis como objeto de exame e para minha purificação. Muitas vezes fui examinado por um clérigo para descobrir exatamente onde estava essa fonte exame de objeto e para minha purificação, porque como mulher “eu precisava”. Esta de procedimento seja onde for é determinante de uma igreja que menoriza as mulheres e as desprestigia, além da inconcebível forma de atuar e de ser. Isto não poderemos esquecer e agora é o tempo de agir.

Hille Harker (página 479), escreve no seu artigo “Abusos Sexuales Cometidos por clérigos”, o seguinte pensamento: “Por um lado, esta visão pós-secular da sociedade perfeita, que defende a sacralização do clero, a teologia da Igreja como noiva de Cristo em toda a sua beleza estética, principalmente litúrgica, e a moral “cultura da vida” contra a secular e imoral “cultura da morte”. Por outro lado, a Igreja é concebida como uma Igreja itinerante, uma Igreja que aprende e não tem medo de se misturar com os aspetos belos e libertadores, bem como com os aspetos sujos e feios da vida moderna. Nesta visão, todos os membros da Igreja tentam acompanhar, consolar e elevar aqueles que são vulneráveis ​​e/ou sofrem danos, demonstrar publicamente a sua solidariedade e exigir mudanças estruturais que tenham em conta as conquistas das sociedades modernas”.

E em jeito de conclusão: “A reforma, especialmente a mudança da estrutura geral do governo e da moralidade sexual, pode muito bem decidir se a Igreja tem um futuro dentro da esfera pública das democracias liberais ou se se tornará uma igreja sectária semelhante ao fundamentalismo de outras religiões.” (página 481).

Deixo para pensarmos e atuarmos.