Os maus-tratos do clericalismo

Por Joaquim Armindo

Escrevo numa altura em que ainda não conheço o documento que vai dizer a toda a Igreja e mundo o que se analisou no Sínodo dos Bispos, por isso me socorro de mais uma admoestação do bispo de Roma e papa Francisco, dito a semana passada na mesma reunião. Creio, mesmo, que Francisco se referia a todas as formas de clericalismo irradiadas – muito presentes entre nós, os portugueses -, pelos bispos, presbíteros e diáconos, mas, também, por todos os leigos/as que se assumem assim. Todos/as devemos encarnar esta “ensinadela” ao “clericalismo” assente no nosso passado, ou uma nova forma de “clericalismo” que quer negar a sua existência, ou seja, a uma nova forma de “clericalismo” mais consentânea com a nossa época, mais cordial, mas disposta a seguir tempos do antanho. Duas expressões nos tocam, segundo o Vaticano News, a primeira quando é referido “com que paciência o povo de Deus suporta os maus-tratos do clericalismo” e a segunda, no referente às mulheres, “Elas sabem esperar, descobrir o caminho, além do limite, com medo e coragem”. E não poderei esconder aquilo que aquele órgão de informação dita das palavras de Francisco: “Em seguida, lamentou o “escândalo” dos padres que experimentam em alfaiatarias batinas de renda. Finalmente, ele lembra a importância do povo de Deus: “quando você quiser saber o que a Igreja diz, leia o magistério, mas para pensar como a Igreja se dirija ao povo”.

Estas considerações não são ditas, creio que penso bem, para ferir ninguém, mas para todos e todas possamos pensar do nosso “carreirismo” perante o “clericalismo”, o oposto a “sinodal”. É curiosa a sua reflexão – e dele, pode não ser nossa, ele o permite -, “A Igreja às vezes reduzida a um “supermercado da salvação” com uma lista de preços para os sacramentos. Depois, o clericalismo, que é como um “chicote” e que “arruína” o povo santo de Deus. O povo de Deus, de facto, “santo e pecador”, “infalível na crença”, com tanta “paciência”, deve suportar “maus-tratos e a marginalização do clericalismo institucionalizado”.

Valerá a pena situarmo-nos nestas considerações, sem preconceitos, que serão para mim ou um tu, que penso, mas antes que: “Jesus, para sua Igreja, não adotou nenhum dos esquemas políticos do seu tempo: nem fariseus, nem saduceus, nem essênios, nem zelotes. Nenhuma “corporação fechada”; ele simplesmente assumiu a tradição de Israel: “Vocês serão o meu povo e eu serei o seu Deus”. Digo povo fiel para evitar cair nas muitas abordagens e esquemas ideológicos com os quais a realidade do povo de Deus é “reduzida”.