A Liturgia no Sínodo dos Bispos

Foto; Ricardo Perna

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

No termo da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foi publicado um relatório de síntese dos trabalhos com o título: «Uma Igreja sinodal em missão». O documento, para já apenas na língua italiana, pode encontrar-se nas páginas do Vaticano e do Sínodo (https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2023/10/28/0751/ 01653.html; https://www.synod.va/content/dam/synod/assembly/synthesis/ ITA-RELAZIONE-DI-SINTESI.pdf). O relatório está organizado em 3 capítulos e cada capítulo subdivide-se em temas dos quais se referem convergências, questões a enfrentar e propostas. Não é um «documento final» mas um instrumento intermédio de um diálogo e discernimento que deve prosseguir envolvendo as Conferências Episcopais.

O tema «liturgia» é abordado expressamente no capítulo III da primeira parte do relatório, dedicado à iniciação cristã. A Iniciação cristã – recorda-se – «é o itinerário através do qual o Senhor, mediante o ministério da Igreja, nos introduz na fé pascal e nos insere na comunhão trinitária e eclesial». Na diversidade das tradições eclesiais e na variedade das suas formas, esse percurso, que deve servir de paradigma para qualquer caminhada em Igreja, tem dimensões constitutivas e, por isso, imprescindíveis: «a escuta da Palavra e a conversão da vida, a celebração litúrgica e a inserção na comunidade e na sua missão» (I 3 a). Para o nosso tema destacamos as convergências e) e f) bem como as propostas k), l) e m).

Na convergência e) afirma-se que a primeira e fundamental forma de reunião e encontro do Povo Santo de Deus é a celebração da Eucaristia, sobretudo ao domingo. Onde esta não for possível, a comunidade recolhe-se à volta da Palavra, mas sempre no desejo da Eucaristia. «A tradição cristã conservou a palavra “comunhão” para indicar simultaneamente a participação plena na Eucaristia e a natureza das relações entre os fiéis e as Igrejas. Ao mesmo tempo que nos abre à contemplação da vida divina, até às profundezas insondáveis do mistério trinitário, este termo remete-nos para a quotidianidade das nossas relações… Por isso a comunhão celebrada na Eucaristia e que dela brota configura  e orienta os percursos da sinodalidade».

Em seguida sublinha-se que é a partir da Eucaristia que aprendemos a articular unidade e diversidade: «unidade da Igreja e multiplicidade das comunidades cristãs; unidade do mistério sacramental e variedade das tradições litúrgicas; unidade da celebração e diversidade das vocações, carismas e ministérios. Nada mais do que a Eucaristia mostra que a harmonia criada pelo Espírito não é uniformidade e que cada dom eclesial é destinado à edificação comum» (f).

Das propostas, destacamos a k): «Se a Eucaristia dá forma à sinodalidade, o primeiro passo a dar é honrar essa graça com um estilo celebrativo à altura do dom e com uma autêntica fraternidade. A liturgia celebrada com autenticidade é a primeira e fundamental escola de discipulado e de fraternidade. Antes de qualquer iniciativa nossa de formação, devemos deixar-nos formar pela poderosa beleza e pela nobre simplicidade dos seus gestos».

A proposta l) foi menos consensual. A informação dada pela Secretaria do Sínodo refere 322 votos a favor e 22 votos contra. Trata-se da «exigência assinalada de várias partes de tornar a linguagem litúrgica mais acessível aos fiéis e mais encarnada na diversidade das culturas. Sem pôr em discussão a continuidade com a tradição e a necessidade da formação litúrgica, pede-se uma reflexão sobre este tema e a atribuição de maior responsabilidade às Conferências Episcopais, na linha do motu proprio Magnum Principium».

Por fim, surge a proposta de valorizar todas as formas de oração comunitária sem se reduzir tudo à celebração da Missa. De facto, há outras formas de oração litúrgica, há as práticas da piedade popular, por vez já inculturadas, que podem ajudar quem tem menos familiaridade com a Igreja a aproximar-se do encontro com Cristo. Destaque para a valorização da devoção mariana devido à sua capacidade para sustentar e nutrir a fé de muitos.