Monições: nem sempre nem nunca…

Foto: João Lopes Cardoso

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

O movimento litúrgico, na ânsia de promover a participação dos fiéis, inventou o ministério  do “comentador”, “oficializado” em 1958 pela instrução sobre música e liturgia e depois acolhido pela SC e pelos documentos da reforma litúrgica. Quando a celebração era em latim, língua desconhecida da maioria, e frequentemente envolta em silêncio, a ação litúrgica dificilmente podia ser seguida com inteligência pelos fiéis. E sem a inteligência da ação sagrada, como é possível uma participação “humana”, isto é, consciente? Nessa situação a intervenção do comentador tornava-se preciosa: com as suas monições sintonizava a assembleia com a ação, dava indicações concretas sobre as atitudes a adotar e motivava a participação. Hoje, porém, a barreira da língua desapareceu e deixou de ser preciso explicar a “novidade” dos ritos reformados, que se tornaram familiares. Se em celebrações extraordinárias ou pouco frequentes (por ex.: Tríduo Pascal, ordenações, dedicação de uma Igreja, etc.) este serviço ainda se justifica, não será de dispensar quando se trata de celebrações tão familiares como a Missa dominical?

A este respeito, permitimo-nos algumas observações:

  1. Independentemente da sua distribuição pelos diferentes ministros da celebração, sempre houve e haverá “monições” ou “admonições” na liturgia.
  2. Sendo a liturgia primariamente “ação” – e aqui incluímos também a ação que é própria do Verbo –, importa moderar os excessos no discurso e pôr termo à inflação verbal que tantas vezes afeta a sua identidade.
  3. A liturgia da Palavra tem um dinamismo e ritmo sapiente que vive particularmente da alternância leitura – canto (esquema dominical) ou leitura – canto – oração (esquema vigiliar); a introdução sistemática de admonições antes de cada leitura gera uma sequência diversa (leitura – leitura), massuda e pesada, que em vez de despertar a atenção a vai diminuir e que, tornando-se rotina, retirará relevo à Palavra de Deus, a única verdadeiramente importante e insubstituível porquanto consubstancia uma das modalidades da presença de Cristo Ressuscitado à sua Igreja. Por isso, a fazer-se, parece preferível uma introdução geral à Liturgia da Palavra, como prevê o Missal na Vigília Pascal.

Em suma, as monições fazem parte da liturgia. Seja para dar indicações relativas à ação que se desenrola e à forma de nela se incorporar (posições do corpo, organização de uma procissão, forma de execução de um cântico…), seja para convidar, introduzir e motivar a participação num rito (convites à oração, introdução ao ato penitencial, oração dos fiéis, etc.), seja para dar avisos ou explicações relativos à vida da comunidade ou a algum rito ou texto menos familiar, as monições não podem deixar de aparecer na celebração de uma comunidade viva, postas ao serviço da melhor comunicação entre a ação sagrada, os ministros e assembleia.

Quem faz as monições? Algumas das intervenções são próprias do presidente que é quem, de facto conduz a celebração e é o animador número um da participação da assembleia: pertencem-lhe todos os convites à oração; o normal é que seja ele (podendo delegar noutro ministro) a fazer as monições inicial e conclusiva da celebração e, eventualmente, as introduções à liturgia da Palavra e à Oração Eucarística. Como recorda o nº 31 da IGMR, as monições do presidente não têm de seguir à letra o texto do missal, podendo adaptar-se às circunstâncias do dia e da assembleia concreta.

Já às indicações de carácter prático, relacionadas com o desenrolar externo da celebração, ou as “moções” – intenções da oração dos fiéis, não parece bem que seja o presidente a fazê-las: a tradição reserva-as ao diácono; na sua falta poderá fazê-las o “comentador” (IGMR 105, b).

O modo – Todos os documentos da reforma litúrgica dizem, com insistência crescente, que as monições devem ser breves, oportunas, clara, sóbrias, cuidadosamente preparadas, normalmente escritas e aprovadas pelo celebrante, discretas. Introduzindo as leituras devem ser fiéis ao texto, sem tentar resumi-lo ou explicá-lo. Quando confiadas ao “comentador”, as monições não devem ser feitas do ambão que é reservado à Palavra de Deus, e devem ser ditas por uma pessoa diferente da que proclamará a Palavra de Deus.

Não é necessário nem conveniente fazer todas as monições possíveis ou fazer sempre as mesmas. A norma suprema continuará a ser a da verdade de cada situação, o sentido da oportunidade e a promoção efetiva da participação consciente e ativa dos fiéis.