Por Jorge Teixeira da Cunha
Começa esta semana uma nova reunião sinodal da Igreja. Um sínodo acontece com certa periodicidade entre concílios, como forma de ir acompanhando as circunstâncias novas que exigem novas opções. A Igreja, com efeito, é uma sentinela que vela noite e dia para que a história e providência caminhem juntas.
O sínodo que vai ter lugar neste mês de Outubro e tem por tema a própria sinodalidade não está, como pode parecer, simplesmente voltado para questões internas à vida da Igreja. Tudo o que a Igreja é na sua organização se ordena à sua relevância pública que é a chegado do Evangelho a todas as criaturas. É certo que há questões internas que pedem reflexão, como sejam a figura dos ministros ordenados tendo em conta a crise dos abusos, a eventual e desejada instituição do diaconado conferido a senhoras, a integração na Igreja das pessoas com vidas que não conformes nas normas tradicionais da moral. Tudo isso, porém, tem como sentido e como meta uma Igreja mais credível para o tempo que vivemos.
Esta advertência tem uma especial importância, uma vez que a relevância pública dos assuntos religiosos e eclesiais tem uma estranha tendência para a trivialização. Se excetuarmos a cobertura noticiosa da crise dos abusos, que é um assunto sério, a comunicação social dá relevo a assuntos um tanto irrisórios e periféricos à função essencial da Igreja e do religioso. Por isso, o processo de escuta de todas as vozes, como deseja este sínodo, a sintonia com a pulsação profunda da graça divina que chama a melhorar a instituição, visa o melhoramento da Igreja como missão e como sinal erguido diante dos povos e como voz audível no âmbito da cultura de hoje.
Com a realidade em convulsão, a Igreja não pode perder a sua energia a escutar-se a si mesma. Tem de perscrutar o rumor do Espírito Santo, mais as vozes do mundo que tentam encaminhá-la nesta ou naquela direção. É necessário escutar todas as vozes para dar lugar à participação de todos e para melhorar o sentido da missão. Há algumas preocupações do nosso tempo que clamam por uma palava lúcida. Vamos enumerar algumas delas.
Desde logo, as preocupações com as alterações climáticas. O discurso comum sobre este assunto anda envolvido com medos apocalípticos, com ideias anti-humanistas, com saberes tribais que é necessário abordar com serenidade e clarividência. A Igreja e a sua teologia têm o dever de intervir para lembrar alguns princípios que fundam a nossa habitação responsável da terra, para lá do pavor e da histeria coletiva que, por vezes, observamos no debate destes assuntos.
As ditas “questões de género” necessitam igualmente de uma abordagem de acordo com a lucidez do Evangelho. Podemos dizer, sem medo, que a tradição teológica sobre a complexidade da constituição do ser humano, sobre a diferença entre a sua aparência e a sua constituição abissal, são, a nosso ver, o contexto mais fecundo para o tratamento deste assunto, para lá de todo o barulho ensurdecedor que estas questões despertam.
A necessidade de um novo contrato social para refazer o tecido das nossas democracias esgotadas, tentados ao populismo, inclinadas para votar e confiar em partidos extremistas, estão a pedir uma nova palavra da Igreja, em cujo seio teve origem a definição da dignidade do ser humano, ser individual e social, credor de um respeito que a instituição política tem de proteger.
A questão económica e financeira mundial, inclinada para aumentar as desigualdades, para excluir os seres humanos do banco do trabalho e gerar bancos de pobreza indescritível, levando às migrações caóticas e inseguras, são outro campo a que a Igreja não pode ficar insensível.
Não falta que fazer à Igreja nos tempos que correm. Esperamos que o Sínodo que agora se inicia seja uma ocasião de melhorar a instituição para que a missão seja mais eficiente e credível.