Marrocos –Terra Mártir – I

Por João Alves Dias

Se perguntasse qual o país, depois de Espanha, mais próximo de Portugal, certamente que alguém diria: França. Mas, bem mais perto fica Marrocos a pouco mais de quinhentos quilómetros do Algarve.

Para além da geografia, também a história nos aproxima…

Por lá e por cá, passaram fenícios, gregos e cartagineses, romanos e vândalos.

A história marroquina começa nos finais do século VIII com a conquista árabe.

Os Almorávidas, no século X – a que sucederam os Almóadas no século XII – fundaram um grande império com base no atual território marroquino que chegou à nossa terra e entrou na nossa história.

No início do século XV, fomos nós que invadimos as suas terras com a conquista de Ceuta em 1415 a que outras se seguiram. Deixámos marcas no seu litoral que ainda perduram.

Marrocos – Sismo violento faz mais de 2 000 mortos.” (JN, 10/9/2023)

“Foi sentido em Portugal e Espanha” (DN/Lusa, 14/9)

Esta tragédia que, segundo a ONU, terá atormentado mais de 300 mil pessoas e destruído muitas povoações, levou-me a partilhar convosco a viagem que, na Páscoa passada, fizemos a essa   terra martirizada: já em 1960, no terramoto de Agadir, morreram mais de 15 000 pessoas.

Após pouco mais de uma hora de voo, aterrámos em Marraquexe.

Fundada pelos Almorávidas no séc. XI, a segunda cidade imperial em antiguidade, é hoje considerada a capital turística de Marrocos a que chamam ´pérola do sul’ e ‘Filha do Deserto’.

Situa-se num extenso oásis, onde se cruzam os ventos quentes do Sara e as águas frias que descem do ‘Alto Atlas’ com mais de 4.000 metros de altitude.

Surpreende-nos pelo seu exotismo bem presente nos trajes, danças e instrumentos tradicionais e nos ‘encantadores de serpentes’ da famosa Praça de Jemaa El Fna.

Encanta-nos o Palácio Bahia com mosaicos e jardins; e o Minarete da mesquita da Koutoubia que influenciou a bem conhecida ‘Giralda’ de Sevilha. Dentro da muralha do século XII, a ‘medina’ fervilha de gente e comércio:

“Danos significativos verificaram-se ainda na cidade antiga de Marraquexe onde parte das muralhas históricas ruíram. Há fissuras significativas no emblemático minarete Koutoubia” (JN, 11/9/2023).

A caminho da costa, passámos por aldeias que nos impressionaram pela debilidade das suas construções. E visitámos uma cooperativa de mulheres – “Coopérative Mariana, production d’huile d’Argan et ses dérivées”. Hoje, ao lavar o rosto com ‘sabonete de argão’, lembrei-as e desejei que o sismo não as tivesse afetado.

Já no litoral, em Essaouira, a antiga Mogador, Património Mundial, demorámo-nos a percorrer a fortaleza, por nós construída no século XVI, ainda com peças de artilharia portuguesa.

Na extensa praia que a bordeja, surpreendeu-me, de dia, a presença de muitos dromedários para turistas e, à noite, grupos e grupos de famílias a comer e conviver. Não o podiam fazer durante o dia: era o mês do Ramadão.

Seguimos para norte e, em El Jadida, a antiga Mazagão, apreciámos os vestígios dos dois séculos de ocupação portuguesa: as velhas fortificações e a ‘Cisterna Portuguesa’ do século XVI e, hoje, ‘Património da Humanidade’.

Até que chegámos a Rabat, a atual capital do reino. Com origens bem antigas, a cidade atual data do século VIII.

Se o Palácio Real, com a ‘Guarda de Honra’ e a mesquita, é visita obrigatória, o que mais me cativou foi a Torre de Hassan, ‘cuja estrutura recorda o perfil arquitetónico da Kutubia de Marraquexe e o da Giralda de Sevilha’. É o minarete de uma mesquita destruída pelo terramoto de Lisboa de 1755, de que resta uma floresta de colunas partidas.

Porém, o que mais me surpreendeu foi a alcáçova dos Udaya. É impressionante a imponência da sua fortaleza. Ao olhá-la do lado do mar, compreendemos a razão pela qual os portugueses nunca a conseguiram conquistar.

Fletindo para o interior, chegámos a Volubilis, cidade romana fundada, no século I a.C.,  por um filho da famosa Cleópatra e de Marco António. Aí se encontram as ruínas romanas mais importantes de Marrocos.

Se os mosaicos originais nos obrigam a uma cuidadosa observação, a nossa atenção é provocada pelo templo capitolino e pelo imponente Arco de Caracala. Extraordinárias obras de arte que o tempo respeitou.

(Continua no próximo número)