O Papa denunciou em Marselha no dia 23 de setembro a “terrível chaga” do tráfico de seres humanos, num encontro dedicado às questões migratórias do Mediterrâneo, apelando à criação de vias legais de acesso à Europa.
“Contra a terrível chaga da exploração de seres humanos, a solução não é rejeitar, mas assegurar, segundo as possibilidades de cada qual, um largo número de entradas legais e regulares, sustentáveis graças a um acolhimento équo por parte do continente europeu, no contexto duma colaboração com os países de origem”, declarou, no Palácio do Farol da cidade francesa, onde presidiu à sessão conclusiva dos Encontros do Mediterrâneo (Rencontres Méditerranéennes), promovidos pela Arquidiocese de Marselha.
A iniciativa contou com bispos de França e de outras dioceses do Mediterrâneo, jovens do Norte de África, dos Balcãs, da Europa Latina, do Mar Negro e do Médio Oriente, autoridades políticas e associações humanitárias.
O Papa admitiu as “dificuldades em acolher”, perante o número de pessoas que procuram entrar no continente europeu, mas sublinhou que “o critério principal não pode ser a manutenção do próprio bem-estar, mas a salvaguarda da dignidade humana”.
“Aqueles que se refugiam junto de nós não devem ser vistos como um peso a carregar: se os considerarmos irmãos, aparecer-nos-ão sobretudo como dons”, declarou.
A intervenção recordou que a Igreja Católica celebra, no domingo, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.
“Deixemo-nos tocar pela história de tantos nossos irmãos e irmãs em dificuldade, que têm o direito seja de emigrar seja de não emigrar, e não nos fechemos na indiferença”, apelou.
“A história chama-nos a um sobressalto de consciência para prevenir um naufrágio de civilização. Com efeito, o futuro não há de estar no fechamento, que é um regresso ao passado, uma inversão de marcha no caminho da história”, afirmou o Papa.
Francisco considerou que todas as atitudes de rejeição de quem procura uma nova vida, na Europa, se vão transformar em “tragédia, amanhã”.
“A assimilação, que não tem em conta as diferenças e permanece rígida nos próprios paradigmas, faz com que a ideia prevaleça sobre a realidade e compromete o futuro, aumentando as distâncias e gerando a formação de guetos, que fazem crescer hostilidades e impaciências”, sustentou.
O Papa pediu a criação de “caminhos de encontro”, rejeitando a prevalência do “deus-dinheiro” sobre a vida dos seres humanos.
O discurso deixou votos de que a Igreja seja “porto de esperança para os desanimados”, repetindo a expressão deixada na JMJ 2023, em Lisboa, para pedir portas abertas a “todos, todos, todos”.
“Queridos irmãos bispos, não sobrecarreguemos as pessoas, mas aliviemos as suas fadigas em nome do Evangelho da misericórdia, para distribuir com alegria o alívio de Jesus a uma humanidade cansada e ferida”, observou.
Francisco admitiu a criação de uma Conferência Eclesial do Mediterrâneo, que permita “maior representatividade eclesial à região” e uma “pastoral específica”, apontando também ao “desafio duma teologia mediterrânica”.
A religião, acrescentou, deve recusar qualquer “uso violento e instrumental” do nome de Deus.
A terceira edição dos Encontros do Mediterrâneo reuniu cerca de 70 bispos e 120 jovens de toda a região.
Francisco, que chegou à cidade francesa na sexta-feira, encerra a sua visita esta tarde, com uma Missa no ‘Vélodrome’, estádio do Marselha.
(inf: Agência Ecclesia)