Uma comunidade para carbono zero

Por Joaquim Armindo

Refere Paulo Fernando que “Pecado estrutural, “revelando que há estruturas sociais, económicas, políticas ou culturais que são pecaminosas – produzem sofrimentos, opressões, o mal – pelo próprio funcionamento da sua lógica, quase que independente das intenções das pessoas envolvidas nestas estruturas”. Cometido por pessoas, porém, imposto pela estrutura pecaminosa e, mesmo contra a vontade das pessoas que o praticam, são praticados imperativamente.”[1], o que não deixa de termos em consideração os “pecados pessoais”, da pessoa, enquanto tal, ou de um grupo de pessoas que estão em consonância. Tudo isto para afirmar que o “pecado estrutural” é formado pelo conjunto de países, de organizações e de pessoas. Não podemos acalentar vícios, como tantas vezes, dizendo que toda “a gente faz assim”, é uma normalidade. A Criação de que todos dependemos, e somos parte dela, atravessa uma crise ecológica (económica, ambiental, social e cultural) de enorme gravidade e todos nós somos contribuintes líquidos para que tal aconteça. É bom que estejamos presentes em meses de oração pelo cuidado da Criação, mas que essa oração não seja teoria balofa, que se sente uma vez ao ano, e no nosso quotidiano seja de um “pecado pessoal” contra a Criação.

Olhando para a Igreja, a Católica, ou mesmo qualquer outra no nosso Portugal, aprecio muito os esforços ecuménicos de encontros, durante setembro de cada ano, rezando para que Deus nos dê força para suplantarmos o pecado cometido contra a Criação. Mas, depois, ficamos com este mês cheíssimo de boas-intenções, e são!, mas nada de prático daqui se retira para a defesa deste cosmos em que vivemos. Pensemos no “lixo” acumulado por nós, até já existente no cosmos, e numa questão mais que candente –  se já sofremos com o aumento da temperatura -, na destruição a prazo do próprio planeta e da impossibilidade de vivermos ou nós, ou os nossos descendentes. E tanta coisa existe que poderemos fazer. O amorfismo das comunidades paroquiais -qualquer que seja a tradição – é por demais evidenciado. Olhemos para o uso de energias maléficas que fabricamos e que irão constituir a destruição da Criação. Por exemplo, o dióxido de carbono.

 

Atentemos no exemplo da Igreja Episcopal de St. Martin, em Davis, Califórnia. No inverno de 2016-2017 a sua unidade de climatização, movida a gás e eletricidade, falhou e passaram um inverno de gelo. Esta falha “atirou” a comunidade para o aproveitamento da energia solar e foi realizado um esforço para a neutralidade carbónica; após estudos realizados em 2021 a comunidade St. Martin’s tornou-se neutra em carbono e foi certificada pela Interfaith Power & Light como uma “boa comunidade”. Diz a comunidade, que agora alargou a decisão de carbono zero, a toda a Igreja Episcopal: “A queima de combustíveis fósseis, que emite dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa, é a grande responsável pelo aumento da temperatura. Em 2015, nações de todo o mundo comprometeram-se a reduzir as emissões para limitar o aquecimento a 1,5 graus acima dos níveis pré-industriais, em uma tentativa de evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.” A comunidade da Igreja Episcopal de St. Martin (Comunhão Anglicana) é um exemplo para as paróquias portuguesas seguirem o mesmo caminho. Menos “pecados” pessoais e menos possibilidades de contribuirmos para o “pecado estrutural”.

[1] Fernando, Paulo (2008). Oeste Notícias. Em linha: http://hermeneuticadopovo.blogspot.com