Ministérios na Igreja sinodal

De 4 a 7 de setembro p.p. decorreu em Fátima o 47º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica, subordinado ao tema em epígrafe: «Ministérios na Igreja Sinodal». Mais de quinhentas pessoas viveram este encontro que tem uma estrutura que o diferencia de outras semanas e encontros nacionais. De facto, dá o primado às celebrações litúrgicas (Liturgia das Horas, Eucaristia, Celebração penitencial) e à preparação das mesmas, mas sem descurar o aprofundamento teológico e pastoral das questões propostas para estudo quer em conferências de fundo quer em palestras de formação por grupos mais restritos. A seu tempo, como se espera, veremos a publicação das várias intervenções no Boletim de Pastoral Litúrgica. Mas desde já é possível ouvir a gravação áudio das mesmas, na página do Secretariado Nacional de Liturgia: https://www.liturgia.pt/multimedia/media_enpl_2023.php.

O tema é da mais candente atualidade, seja porque se aproxima a realização da assembleia ordinária em Roma do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade (outubro próximo), seja porque o tema dos ministérios está inscrito na nossa atualidade pastoral quer a nível nacional, com a Instrução a CEP, Ministérios laicais para uma Igreja Ministerial (julho de 2022), quer a nível diocesano, com a recente publicação da Nota Episcopal Ministérios Instituídos na Igreja do Porto (29 de maio de 2023).

Pelo seu caráter de conferência de abertura e introdução geral aos trabalhos do encontro e pelo seu valor intrínseco, merece destaque a intervenção do Prof. José Eduardo Borges de Pinho, muito clara e assertiva. Apresentamos aqui algumas das suas reflexões.

Constatou que há uma terminologia fluida e incerta que é importante fixar do ponto de vista teológico, canónico e linguístico, na consciência da diferença entre carismas (inúmeros), serviços (muitos) e ministérios (alguns, os necessários). Apontou seis notas distintivas dos ministérios:

– Existência de um carisma ou carismas na pessoa;

– Consistência visível de um serviço específico a prestar à comunidade, bem delimitado no seu sentido e na sua missão;

– Tarefa de importância vital para a comunidade nos âmbitos do anúncio da fé, da celebração, da diaconia e da comunhão;

– Que essa tarefa seja exercida com responsabilidade pessoal diante de Deus e a Igreja, e seja de algum modo percetível pela sociedade envolvente;

– Que haja uma certa estabilidade de exercício (alguns anos ou até toda a vida): o ministério não é algo de temporário ou ocasional;

Chamamento e reconhecimento públicos por parte da Igreja expressos preferencialmente em contexto litúrgico, numa celebração orante da fé.

Estas 6 características valem para todos os ministérios, dos batismais ao ministério ordenado. Aliás é necessário superar a prevalência mono-ministerial que olha para os diversos ministérios na Igreja a partir do prisma do ministério ordenado e numa lógica clerical.

Ponto de partida a valorizar: o fundamento carismático de todos os serviços e ministérios na Igreja. Dado que nem todos os carismas conduzem a um ministério importa valorizar a importância do chamamento eclesial, que supõe discernimento sobre a autenticidade dos carismas, o reconhecimento global da idoneidade do cristão e a perceção de necessidade e oportunidade desse ministério para a missão da Igreja num dado lugar. Não é ministro quem quer ou se julga apto, mas quem a Igreja chama num discernimento que envolve vários aspetos. Aliás, a realização do ser cristão na Igreja e no mundo não entra normalmente no registo do ministério. Só alguns, em razão de dons recebidos e das necessidades da missão podem sentir-se vocacionados e ser chamados a assumir uma função particular ao serviço de todos. E esta realidade ministerial pode concretizar-se em ministérios ordenados ou simplesmente batismais, cada qual com a sua legitimidade própria.