
Por Joaquim Armindo
Estou a escrever-te um dia antes de começar o “Tempo da Criação”, onde se quer que a “Paz e Justiça Fluam”, e como sabes é um assunto que a todos nós diz respeito, a ti, que já não estás por aqui, e a nós, que um dia vamos ter contigo. No dia do teu funeral estávamos muitos e a igreja de Gueifães repleta. Estávamos todos os diáconos da Maia, exceto um, que como sabes está doente. E mais alguns, um dos quais foi ordenado contigo. Os teus familiares, todos, choravam por te ver partir, queriam que estivesses ali, mas só estava o teu corpo, em urna fechada. Todos nós sabíamos, como sempre foste curioso, que também lá estavas a ver cada um de nós, só que não te víamos. Os nossos olhos ainda estão fechados para estas realidades, os teus ficaram abertos. Nem sei porque te estou a contar isto, dado tu saberes bem o que se passou. Mas deixa lá, é uma maneira de falar contigo, agora já não posso telefonar e custa, sabes? O bispo que presidiu à Eucaristia foi o D. Pio Alves, que bem conhecemos, e os presbíteros estavam muitos da Maia e do Porto e de Matosinhos. Penso não ter esquecido nenhum! O funeral foi como tu quiseste. Sabes o que para mim é mais critico? É não poder falar contigo, pelo telefone, só dá pelo telefone da vida. Tu compreendes.
Gostaria de falar mais com o meu amigo e irmão Diácono Jorge Moreira, de todos nós conhecidos, ele chamava-me sempre “irmão”, eramos os dois diáconos. Só que ele tinha mais de trinta anos de diaconado, eu não. Toda a população da Maia o conhecia, pela sua atenciosa escuta dos problemas dos “outros”, na esteira do Bom Samaritano, como de fazer dele um referencial para tomar sobre si os problemas dos “outros”. Eu testemunho isso, porque tal se passou comigo. Era irmão, mas também um amigo, daqueles que encontramos poucos. Ouvia-me sempre com uma atenção desmedida. Estava sempre pronto a ir para onde fosse chamado, por uma celebração da palavra, um batizado, um casamento, um funeral.
A última vez que falei com ele foi pelo telefone e estava internado, preocupadíssimo com dois batizados, pedia-me que lá fosse, tinha-se esquecido. Claro que fui. Lembro-me que os batizados eram no sábado, ele telefonou-me numa sexta-feira à noite e faleceu numa segunda-feira. Foi a última vez que ouvi a sua voz, parecia-me uma voz cansada e a dizer-me que não estava nada bem. Tentei, sim tentei, dizer-lhe que a doença iria passar, mas não foi. Nós os diáconos, não o esqueceremos, nem o clero todo, nem o povo por quem tantas vezes foi acarinhado. O Diácono Jorge Moreira vive!