“A árvore conhece-se pelo seu fruto”

Por João Alves Dias

Lembrei-me deste dito de Jesus (Lc,6 ,44), quando passa o 105.º aniversário da morte (31/8/1918) do ‘nosso’ venerável D. António Barroso.

E fi-lo a propósito da reportagem “A Lista do padre Carreira’ que a ‘TVI/CNN-Portugal’ transmitiu no dia 31 de maio.

Já em 13 de março de 2013, sob o título “Herói esquecido” invoquei o artigo ‘O padre que foi de Leiria para Roma salvar Judeus’, de António Marujo (Público, 23/12/2012) o mesmo jornalista que, em 28 de maio passado, publicou, em ‘7Margens’, o artigo “A Lista do padre Carreira numa reportagem 7Margns /TVI com documentos inéditos”

O P. Carreira, “durante o ano lectivo 1943-44, deu refúgio e abrigo a meia centena de perseguidos, antifascistas, judeus e outros resistentes à ocupação nazi-fascista da capital italiana”. (…)

Além das pessoas que salvou na casa que dirigia, o padre Carreira ajudou a esconder mais cerca de centena e meia de mulheres e crianças em casas religiosas femininas. O que significa que terá ajudado a salvar pelo menos cerca de duas centenas de pessoas”. (…) “Um terço dos 750 conventos e casas católicas da cidade esconderam naqueles meses mais de quatro mil judeus, cerca de um terço da comunidade”.

Como disse Luigi Priolo, o único refugiado ainda vivo: “Era a pessoa mais extraordinária que alguma vez conheci” (…) “Porque para fazer aquilo que ele fez, a ajuda que deu aos outros, tem de se ter uma coragem infinita. Porque os nossos ‘amigos’ alemães não brincavam…”

E o artigo em análise esclarece:Foi no final do ano lectivo de 1944 que Joaquim Carreira escreveu o relatório escolar da instituição, onde incluiu uma lista de nomes das pessoas a quem concedera “asilo e hospitalidade” por serem “perseguidas na base de leis injustas e desumanas.” Uma decisão que o levou a tomar um “maior contacto com as misérias, as dores e as tragédias em consequência da guerra”.

O seu nobre serviço em prol da Humanidade foi reconhecido, em 2014, pelo Yad Vashem – Centro Mundial para a Memória do Holocausto, de Jerusalém, ao atribuir-lhe “o título de ‘Justo Entre as Nações’, que distingue as pessoas que, durante a Segunda Guerra Mundial, salvaram vidas de judeus arriscando as suas vidas e sem esperar qualquer recompensa”.

E também o reconheceu o Estado Português, em abril de 2015, quando a Assembleia da República aprovou um voto de louvor àquele que se tornou no quarto “Justo” português – a par dos diplomatas Aristides de Sousa Mendes (Bordéus) e Carlos Sampaio Garrido (Budapeste) e do operário José Brito Mendes, emigrante em França.”

As perguntas poderão surgir…

– Como é que um português nascido em Caranguejeira, Leiria, se encontrava em Roma? E como lhe foi possível levar a cabo tão benemérita ação?

A resposta é simples. Entre 1940 e 1954, foi vice-reitor e reitor do Colégio Pontifício Português em Roma.

– E a que propósito se fala em D. António Barroso, o nosso bispo venerável?

História responde. A ideia do Colégio Português começou a corporizar-se, em 28 de abril de 1898, quando, em Roma, se reuniu a ‘Comissão Promotora’ presidida por D. António Barroso que autenticou a ata e fez a ponte com o Papa Leão XIII.

Como escreveu o P. Arnaldo Pinto no seu livro ‘O Pontifício Colégio Português em Roma’, “a figura de D. António Barroso, com a aura de prestígio de que usufruía junto do Governo Português e também da Cúria Romana, iria constituir a chave da solução do problema. Com o seu carisma de Pastor e a sua arte diplomática reunia condições ideais para fazer avançar o projecto.”

E assim foi… Em 20 de outubro de 1900 o Colégio via reconhecida a sua ereção canónica.

Na visita que fez ao Colégio em 1985, o, então, Papa João Paulo II disse:

“A história da Igreja em Portugal e noutros territórios e nações de expressão portuguesa, neste século, não poderá ser escrita sem referir a participação que nela tiveram os antigos alunos do Pontifício Colégio Português”.

Da Igreja, sim, mas também do País e mesmo, como no caso do P. Carreira, da Humanidade.

Um louvor para os meus professores – e foram muitos –  que nele viveram. Uma palavra de gratidão para os reitores que conheci:  D. José Cordeiro e Padre José Caldas.

E uma oração pela beatificação/canonização de D. António Barroso, o ‘bispo santo’ de que falava minha mãe, o ‘bispo dos pobres’ como ficou na memória do Porto.

“Toda a árvore boa dá bons frutos…” (Mt, 7,17)