
Voz Portucalense publica na íntegra o texto de orientação do Plano Diocesano de Pastoral para o ano 2023/2024. D. Manuel Linda sublinha a importância do entusiasmo gerado pela Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023 e convida os diocesanos para “uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria”. “Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo” é o lema do novo ano pastoral.
I. Pórtico: Pelas vias da alegria e da esperança
Toda a Sagrada Escritura é a história de um povo, embrião de uma nova humanidade, criado por Deus para a felicidade e para a consolação que lhe advêm da experiência do convívio entre Criador e criatura, que O aceita pela fé. Mas é no Novo Testamento que mais se ressalta esse dom do contentamento e da felicidade. Aliás, a palavra “Evangelho” quer dizer, precisamente, anúncio de uma alegre notícia, boa nova de alegria. Por isso, S. Paulo viria a sintetizar as atitudes que nascem das palavras e das atitudes de Jesus na conhecida expressão: “Sede alegres na esperança” (Rm 12,12).
Que é a alegria, esse imenso valor não disponível no comércio? É um estado de alma em que a pessoa se sente bem, entusiasmada, bem-disposta, íntegra, não dividida contra si mesma ou contra os outros. É um sentimento no qual a vida resulta menos amarga e como que se não dá conta da dureza do solo que trilhamos. É a grande vacina contra aquele pessimismo que nos leva a considerar o tempo que nos é dado viver como um dos mais difíceis da história. O que é mentira e só gera sentimentos de angústia, dúvida e desespero. Na vida pessoal e na vida da Igreja.
A tristeza é sempre paralisante: não entusiasma, não comove, não move. Encerra-nos numa concha que é o contrário da fermentação do mundo. É ficarmos fechados no Cenáculo, quando os homens e as mulheres “provenientes de todas as nações que há debaixo do céu” (At 2,5) reclamam uma Palavra de salvação.
Neste sentido, opõe-se à “alegria do Evangelho”, exprime falta de confiança e de fé naquele Senhor que nos garantiu estar sempre connosco até ao fim dos tempos (cf. Mt 28,20) e é contrária à missão da Igreja chamada a ir e anunciar (cf. Mc 16,15). Precisamente a partir desta persuasão, no Pentecostes do Ano Santo de 1975, o Papa São Paulo VI lançou um veemente apelo sobre a necessidade de os cristãos voltarem às fontes da alegria que brota da certeza de que Deus está connosco, jamais nos abandona e nos garante um sentido para a história. Quem vive n’Ele pela fé e pelo Batismo não pode ter outra postura que não seja a de ser um portador do sadio otimismo, um empenhado na descoberta dos aspetos positivos dos acontecimentos, enfim, um mensageiro da alegria.
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 constituirá, certamente, uma explosão de alegria, de festa, de ânimo. A Igreja em geral e nós, Diocese do Porto, em particular, não podemos desperdiçar esse entusiasmo. A partir dele, construiremos uma “Igreja em saída”, um ousado dinamismo missionário, uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria, como refere este Plano e o Papa tanto recomenda (cf. EG 1). Neste sentido, o tempo pós-Jornada será crucial. Assim saibamos nós canalizar o dinamismo gerado.
Evidentemente, não podemos perder, mas integrar as grandes propostas e desafios da Igreja deste tempo, muitas das quais já entraram em Planos anteriores: a reconstituição da comunidade eclesial muito afetada pela crise da pandemia, as atitudes determinantes do acolhimento e da hospitalidade, a sinodalidade como o grande desafio da Igreja neste terceiro milénio, o projeto de fazer desta uma Diocese mais ministerial e a esperança, a grande temática que nos vai ser proposta no contexto do já anunciado jubileu do ano 2025. Que a voracidade do tempo não nos leve a esquecer estes âmbitos e a situar-nos apenas num que, isolado dos outros, não exprimiria o sentir da Igreja.
Irmãs e irmãos diocesanos do Porto: como um dia pregou o Papa Francisco, a alegria é o autêntico “respiro do cristão”. É dom do Espírito, inerente à fé, sempre em tensão entre a memória da salvação e a esperança. A alegria é a consolação do Espírito Paráclito, é o soltar as amarras da alma e da Igreja para a longa navegação em alto-mar. Porventura, difícil. Mas sempre entusiasmante.
Que o nosso Bom Deus deposite o dom da alegria no coração de cada um e em toda a nossa Diocese do Porto.
O vosso irmão,
+ Manuel, Bispo do Porto
II. Contexto pastoral
Estamos no último ano deste triénio pastoral. Atentos às surpresas do caminho, mantivemo-nos fiéis, no essencial, aos propósitos desenhados num Plano Pastoral aberto.
Neste percurso, desde o início pareceu-nos bem articular e sintonizar o nosso Plano Pastoral com a proposta elaborada pelo COD (Comité Organizador Diocesano) para a JMJ, inspirada na cena bíblica da Visitação da Virgem Maria à prima Isabel (Lc 1,39-45).
Esta proposta foi então discutida pelos Secretariados Diocesanos e assumida nas diversas instâncias e órgãos de corresponsabilidade pastoral.
Assim e resumindo para nos contextualizarmos:
- No Ano Pastoral de 2021/2022, tomámos como referência o versículo de Lc 1,39: “Maria levantou-se apressadamente” e procurámos suscitar dinamismos de ressurgimento da vida comunitária, fortemente afetada pela crise pandémica.
- No Ano Pastoral de 2022/2023, e já na reta final com destino à JMJ, assumimos como referência o versículo de Lc 1,40: “Maria saudou Isabel”, com vista a valorizar as dinâmicas do acolhimento e da hospitalidade, decisivas para o bom êxito da JMJ Lisboa 2023.
- Para o Ano Pastoral de 2023/2024, propomo-nos (a)colher, celebrar, fazer frutificar todos os dinamismos e processos criativos desenvolvidos no âmbito do Sínodo sobre a sinodalidade e da preparação da JMJ. A frase bíblica de Lc 1,41: “O Menino saltou de alegria” inspirar-nos-á, neste terceiro ano, um salto qualitativo no anúncio e no testemunho da fé.
Ao tempo em que elaboramos este Plano Pastoral para 2023/2024, ainda não nos é possível perceber, em toda a sua extensão imediata, o impacto eclesial da JMJ, que terá lugar em agosto, e os frutos do processo sinodal em curso. Mas é possível, pelo menos, a partir da fase diocesana do processo sinodal, da experiência da receção dos símbolos da JMJ e dos vários dinamismos pastorais suscitados por este grande evento eclesial, perceber alguns sinais indicadores para a nossa vida pastoral, nomeadamente:
- A necessária força congregadora e mobilizadora de um grande objetivo comum, de um desígnio maior, de uma meta, de um acontecimento pastoral, seja a nível paroquial, vicarial ou diocesano.
- A relevância da dimensão simbólica, alegre e festiva da fé, com as suas novas linguagens e expressões.
- O apreço pela cultura do encontro, do acolhimento, da convivialidade.
- A eficácia pastoral do trabalho em rede, do envolvimento e da participação ativa de todos e da reorganização das estruturas pastorais, segundo o princípio da subsidiariedade (como é o caso dos COP, COV, COD e COL).
- A atualidade de uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria (cf. EG 1).
III. O lema pastoral 2023/2024: Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo.
- A alegria do Evangelho como programa
Na conclusão deste triénio pastoral, com a marca distintiva da alegria, continuámos, de algum modo, a beber a nossa inspiração, para toda a nossa planificação ou programação pastorais, nesse documento programático do Papa Francisco: a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Ela propõe-nos uma renovação pastoral inadiável em chave missionária, a partir precisamente da experiência da alegria do Evangelho (que se renova e comunica) e da doce e reconfortante alegria de evangelizar.
Esta marca da alegria perpassa, aliás, todo o Magistério do Papa Francisco, como se percebe, com clareza, nas Exortações Apostólicas seguintes sobre a alegria do amor em família (Amoris laetitia) e sobre a santidade no mundo atual (Gaudete et exsultate).
Ora, quando, na Evangelii Gaudium, o Papa elenca os verbos ou atitudes que caracterizam uma Igreja em saída, ele coloca em último lugar – mas não os menos importantes – os verbos frutificar e festejar. Recordemos a sequência dos cinco verbos: primeirear, envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar.
- Um sobressalto da fé e da alegria como marca
Cabe-nos, neste Ano Pastoral 2023/2024, deixarmo-nos inspirar e contagiar pela alegria, pela exultação do menino, de João Batista, a dançar de regozijo no ventre de Isabel (cf. Lc 1,44): uma alegria provocada pelo encontro com Cristo vivo, uma alegria que necessariamente irradia e transborda. O próprio João Batista exclamará, mais tarde, a respeito da sua amizade com Cristo, o verdadeiro Esposo: «Esta é a minha alegria e tornou-se completa» (Jo 3,29).
- O lema pastoral para 2023/2024: Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo.
Não precisamos aqui de evocar a experiência desta alegria do Evangelho, em tantas passagens do Antigo e do Novo Testamento. Para tal, bastar-nos-ia reler a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, números 4 e 5. Fixemos, sobretudo, os nossos olhos em Jesus, o Messias, que estremece de alegria, sob a ação do Espírito Santo (cf. Lc 4,21). E relevemos aqui a experiência dos discípulos de Jesus que, ao verem o Senhor Ressuscitado, se «encheram de alegria» (Jo 20,20). O livro dos Atos dos Apóstolos conta que, por onde passaram os discípulos, «houve grande alegria» (At 8,8). Um eunuco recém-batizado «seguiu o seu caminho cheio de alegria» (At 8,39). Por que não havemos de entrar, também nós, nesta torrente de alegria?
Eis porque desejamos acentuar, com particular vigor, neste Ano Pastoral 2023/2024, esta marca da alegria, própria de uma comunidade evangelizadora, “que sabe sempre «festejar»: celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização” (EG 24).
Assim, o lema específico apontado para este Ano Pastoral “Vamos com alegria”, a que se segue o lema geral do triénio “Juntos por um caminho novo”, é um imperativo que subentende a expressão contida no Salmo «Vamos com alegria para a casa do Senhor» [Salmo 122(121),1]. Ele está em linha com o espírito sinodal deste caminharmos juntos, partindo do encontro com Cristo e em sintonia com o objetivo primeiro proposto neste Plano: viver e testemunhar a alegria de ser e de viver em comunidade.
É, pois, um ano propício para celebrar os frutos do caminho percorrido em conjunto e (a)colher deles intuições e desafios para hoje. Importa recolher de modo personalizado a experiência da JMJ e acompanhar a interiorização dessa experiência. Revemo-nos, de algum modo, naquele canto firme do salmista, ao evocar a experiência do povo de Deus, no regresso do exílio: “À ida vão a chorar, levando as sementes; à volta vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas” [Sl 126(125),6].
Poderá parecer-nos, à primeira vista, que esta marca da alegria seja apenas uma nota sentimental ou até mesmo uma mera cosmética divertida da ação pastoral. Mas não é. O nosso coração foi feito para a alegria, de que Deus é a verdadeira fonte. É Ele que dá ao nosso coração a alegria maior (cf. Sl 4,8).
Basicamente, esta alegria é-nos oferecida e vivida nas múltiplas alegrias humanas que o Criador coloca, já agora, no nosso caminho: a alegria exaltante da existência e da vida; a alegria da nossa filiação divina, sob o olhar amoroso do Pai; a alegria do amor honesto e sacrificado, a alegria pacificadora da natureza e do silêncio, a alegria austera do trabalho diligente, a alegria e a satisfação pelo dever cumprido, a alegria transparente da pureza, do serviço e da partilha; a alegria exigente do sacrifício (cf. São Paulo VI, Gaudete in Domino, n.º 1).
Mas a tal alegria maior, a alegria que Deus dá ao coração humano, brota do encontro com Cristo, lança as suas raízes mais profundas na consciência e na experiência filial do amor de Deus que nos precede, do amor de Cristo que nos redime e nos oferece, pelo dom do Seu Espírito, a alegria completa de uma vida em abundância! Um Deus sem alegria e sem festa levar-nos-ia a pensar que para viver alegre e em festa se deveria viver sem Deus.
- Raízes e matizes da alegria
E, por isso, é urgente, sobretudo nesta Europa onde se sente um certo cansaço da fé, redescobrir esta alegria da bondade da criação e da gratuidade da redenção, da qual ninguém é excluído; esta alegria messiânica, esta alegria que é fruto do Espírito Santo, com as suas diversas raízes e matizes:
- A alegria que enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontraram com Jesus ou se deixaram encontrar por Ele (cf. EG 1). Jesus é verdadeiramente o homem da alegria e a alegria do Homem, que é preciso conhecer, por uma verdadeira iniciação à oração e à leitura orante da Palavra de Deus, bem como celebração dos mistérios da fé; n’Ele fazemos a experiência da alegria da nossa filiação divina, que funda a nossa fraternidade humana.
- A alegria que se renova e comunica (cf. EG 2), na doce e reconfortante alegria de evangelizar (cf. EG 8): é a alegria missionária, que se traduz em evangelizadores cuja vida irradia ardor e fervor, entusiasmo e paixão, pois fomos nós quem primeiro recebeu a alegria de Cristo (cf. EG 9); o fervor é o amor que transborda com generosidade e a alegria é como que a flor ou o fruto deste fervor, é como a chama que brota de um coração ardente e generos0.
- A alegria de ser e de viver em comunidade: uma alegria que é uma vacina contra o individualismo radical que hoje aflige e crucifica o mundo.
- A alegria de celebrarmos juntos, que é a alegria fraterna dos irmãos redimidos e reunidos, à volta do seu Senhor (cf. Sl 133,1), sobretudo na celebração atual, alegre e significativa do domingo.
- A alegria de caminharmos juntos, que brota da alegria de escutarmos e sermos escutados, do diálogo franco e frutuoso, da partilha concreta, da comunhão de bens, da participação e da missão de todos na edificação do Reino.
- A alegria de crescermos juntos, que é a alegria de quem se deixa educar, formar, converter e transformar, na vivência comunitária e na experiência do compromisso eclesial e social.
- A alegria da novidade suscitada pelo Espírito, em tantas e novas formas de oração, de espiritualidade, de anúncio, de apostolado.
- A alegria do amor que se vive nas famílias, que é também o júbilo da Igreja (cf. AL 1).
- A alegria do sim fiel e do serviço, nas diversas vocações e ministérios (instituídos ou ordenados), que deve sobrepor-se à ideia de uma vida pesada e triste.
- A alegria da Cruz, que sempre desperta, no coração do crente, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias (cf. EG 6). “Mesmo entre as intempéries da vida, o verdadeiro discípulo de Cristo jamais perde a esperança, pois está inundado da alegria do Espírito Santo” (São Paulo VI, Gaudete in Domino, 7).
- A alegria do bem que se difunde, a alegria de dar alegria aos outros, a alegria de levar a todos a consolação de Deus, no serviço desinteressado, na caridade e nas obras de misericórdia, em vez da procura individualista do prazer, num tempo em que o gozo se tornou o nosso primeiro dever; “ser feliz com Deus significa: amar como Ele, ajudar como Ele, doar como Ele, servir como Ele” (Santa Madre Teresa de Calcutá).
- A alegria exultante e exaltante das bem-aventuranças e da santidade, na certeza de que nada há de mais triste neste mundo do que não ser santo (cf. León Bloy, cit. GE 34).
- A alegria genuína das festas e de outras manifestações da religiosidade popular, que deve ser promovida e purificada, porque desenvolve a identidade comunitária (ninguém festeja sozinho), ativa a partilha e a generosidade, concilia liberdade e norma, dá uma dimensão nova ao tempo e permite o retorno de cada um ao mais íntimo de si mesmo.
- A alegria pelo jubileu de 2025, que nos preparamos para celebrar como peregrinos da esperança.
IV. Objetivos pastorais
- Viver e testemunhar a alegria de ser e de viver em comunidade.
- Favorecer a dimensão celebrativa, festiva e jovial da fé.
- Fortalecer e atualizar dinamismos e estruturas de comunhão, participação e missão.
- Promover uma cultura do cuidado.
Em função destes quatro objetivos, propomos algumas linhas programáticas e ações pastorais, que nos podem ajudar a alcançar uma visão pastoral mais ampla, na hora de discernir prioridades e planear ações pastorais, ajustadas ao concreto de cada comunidade ou realidade eclesial.
Mesmo tendo consciência do caráter transversal de cada linha programática ou de cada ação pastoral, optamos aqui pelo seu enquadramento, dentro de um determinado objetivo, para facilitar a perceção do seu alcance pastoral.
V. Linhas programáticas:
Viver e testemunhar a alegria de ser e de viver em comunidade
- Intensificar o esforço por renovar o tecido da comunidade cristã a partir da centralidade da Eucaristia, do protagonismo e da participação ativa dos mais jovens na comunidade e da alegria da comunhão e da missão de todos os batizados, tendo em conta que “a dimensão comunitária, a pertença e a vivência numa comunidade, não é apenas uma «moldura», um «caixilho» bonito, mas constitui uma parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização. A fé cristã nasce e vive na Igreja” (cf. Papa Francisco, Audiência, 15.01.2014).
- Discernir e definir com clareza uma meta mobilizadora (um objetivo, uma iniciativa, uma obra, um passo em frente…) para o Ano Pastoral, na vida da(s) comunidade(s) eclesial(ais), Movimentos, Obras e Associações eclesiais.
- Passar de uma Igreja estação de serviço para reparar a alma a uma Igreja lugar de gestação, verdadeiro laboratório da fé, onde se possa fazer a experiência do encontro com Cristo. Dar prioridade a tudo aquilo que conduz ao encontro íntimo, pessoal e vital com Jesus.
Favorecer a dimensão celebrativa, festiva e jovial da fé
- Promover, no seio das comunidades cristãs e na sua relação com o meio envolvente, uma cultura do encontro, da festa, da convivialidade, da interação entre pessoas, grupos, movimentos e associações eclesiais e locais, alargando o espaço da nossa tenda (cf. Is 54,2).
- Fazer da Igreja um lugar feliz onde se possa encontrar Jesus, através das suas propostas de orações simples, de liturgias acolhedoras, de espaços e tempos de alegria e beleza, etc.
Fortalecer e atualizar dinamismos e estruturas de comunhão, participação e missão
- Continuar o caminho sinodal, a nível paroquial, vicarial e diocesano, dando conteúdo e aprofundando o exercício da sinodalidade como forma de ser e de agir da
- Adotar permanentemente um estilo pastoral sinodal, em que sejam ativados a escuta recíproca, o discernimento cuidado, a decisão partilhada… para edificar a comunidade e projetá-la em missão no mundo.
- Promover a ação pastoral em rede, potenciando parcerias, sinergias, recursos humanos e materiais.
- Discernir e propor caminhos realistas e diferenciados de reorganização pastoral das nossas comunidades paroquiais (por exemplo: pensar as unidades pastorais, potenciar as assessorias vicariais e a Vigararia como unidade de pastoral de conjunto). Aproveitar o papel dos Movimentos (que trabalham com pessoas de várias proveniências geográficas, sociais e culturais) como facilitadores e promotores destes novos caminhos.
- Redescobrir as exigências da vocação universal à participação responsável, valorizando os carismas e ministérios que o Espírito Santo não cessa jamais de conceder para a construção da Igreja.
- Promover, na Escola Católica, nas aulas de EMRC, nas paróquias e nas famílias, uma cultura vocacional, de resposta pessoal de cada batizado ao dom de Deus, cada um pelo seu caminho.
- Discernir a oportunidade, a necessidade, a modalidade e a formação de outros ministérios laicais, nomeadamente para o acolhimento pastoral, para as celebrações da Palavra na ausência de presbítero e para os diversos âmbitos da caridade.
Promover uma cultura do cuidado
- Revitalizar os grupos pastorais, ousando novas propostas e respostas criativas e realistas às necessidades pastorais emergentes, como por exemplo, o acolhimento, a proteção, a promoção e a integração dos imigrantes.
- Promover a atenção preferencial aos mais pobres, doentes, sós, idosos, dependentes, imigrantes, etc., potenciando o trabalho em rede, nos diversos âmbitos da pastoral (pastoral sociocaritativa, pastoral da saúde, pastoral das migrações, pastoral de apoio à pessoa com deficiência, etc.).
- Reforçar e sensibilizar, na Igreja e na sociedade, o cuidado, proteção e acompanhamento dos mais pequeninos e frágeis, através de ações formativas e da adoção de boas práticas, com vista a comunidades cuidadoras, sãs e seguras.
- Cuidar por propor um anúncio renovado do futuro eterno da pessoa. A Ressurreição é alternativa ao mito da eterna juventude. Reconciliar os adultos com a questão da morte e da finitude.
- Qualificar a presença e a comunicação social da Igreja, habitar o mundo digital como meio, lugar e destinatário da evangelização.
- Promover o cuidado da nossa Casa Comum como expressão essencial da fé em Deus e da obediência à Sua vontade, como peregrinos na terra onde o Senhor nos colocou para a cultivar e guardar (cf. Gn 2,15).
- Promover um pacto educativo entre famílias, paróquias, escolas e sociedade civil, para uma educação mais aberta e inclusiva.
- Preparar o jubileu do ano 2025 sob o lema Peregrinos da esperança.
VI. Ações Pastorais
Viver e testemunhar a alegria de ser e de viver em comunidade
- Proporcionar espaços e percursos pessoais e comunitários que favoreçam a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo e da alegria que d’Ele nos vem, bem como a consequente conversão de vida e necessidade premente de formação.
- Valorizar a familiaridade com a Palavra de Deus e a experiência filial da oração. Fazer da Paróquia casa e escola da Oração.
- Promover o ministério do acolhimento e a formação de agentes pastorais, de modo que este acolhimento se alargue do plano litúrgico ao âmbito pastoral.
- Promover iniciativas e práticas que dinamizem a interatividade, a hospitalidade e a comunhão na missão, entre grupos e organismos paroquiais, envolvendo-os em projetos comuns, fomentando assim o trabalho em conjunto.
Favorecer a dimensão celebrativa, festiva e jovial da fé
- Criar espaços físicos e pastorais onde ressoe a voz dos jovens, as suas críticas, os seus anseios e opiniões (cf. CV 38).
- Encontrar estilos e modalidades adequados de oração para os jovens (cf. CV 224; 155), não para saber mais ou saber muito, mas para «saborear melhor» e tomar o gosto de Deus.
- Programar iniciativas de convivialidade, festa, partilha, lazer, desporto, cultura: promover o Dia da(s) Paróquia(s) e o Dia da Diocese. Incentivar a dimensão festiva e familiar da pastoral, com a celebração dos Dias… (da mãe, do pai, dos avós e idosos, dos cuidadores informais, etc.), através de convívios ou outras iniciativas, que não se limitem a reuniões e celebrações.
- Propor um itinerário de formação e afirmação dos jovens, que inicie à experiência da intimidade com Jesus e ao testemunho da fé.
- Aproveitar os dinamismos suscitados pela JMJ, reforçando as lideranças e carismas dos jovens (cf. CV 206), escutando-os e dando-lhes a possibilidade de concretizarem os seus sonhos.
- Acompanhar, incentivar, confiar e encorajar para que não caiam em desânimo (cf. Cl 3,21 – CV 15; 107); ajudá-los a serem eles mesmos e não fotocópias.
- Cuidar da celebração, nomeadamente da participação litúrgico-musical dos fiéis. Repensar ritos, símbolos e esquemas celebrativos, cânticos, linguagens e as diversas formas de participação, sobretudo nas celebrações com crianças, adolescentes e jovens, para que sejam mais vivas e significativas.
- Racionalizar o número em favor da qualidade das celebrações, particularmente da Eucaristia, em função da unidade e da comunhão nas comunidades e entre elas. Evitar o excesso eucarístico precisamente por amor ao mistério eucarístico.
- Superar o automatismo dos sacramentos, vividos numa certa fase da catequese e para todos indistintamente, quase sempre em função de uma progressão de tipo escolar.
- Valorizar a dimensão experiencial e testemunhal da fé e não meramente a perspetiva teórica ou doutrinal.
- Valorizar a força evangelizadora da piedade popular (cf. EG 122–126), as suas manifestações festivas, as peregrinações, a sua inculturação e o seu papel de inclusão e de afirmação da identidade e do sentido de pertença a uma comunidade.
Fortalecer e atualizar dinamismos e estruturas de comunhão, participação e missão.
- Dar forma e vida a uma grande mesa da sinodalidade, em cada realidade eclesial, para o discernimento pastoral do caminho a seguir.
- Promover um tempo de escuta. Colocar-se à disposição de quem precisa de ser ouvido (em confissão, em conversa, em diálogo, em confidência, em partilha).
- Instituir, recriar, reativar, renovar os diversos Conselhos: Conselho Paroquial ou Interparoquial de Pastoral, Conselho para os Assuntos Económicos, Conselho Vicarial de Pastoral… e as demais instâncias organizadas da corresponsabilidade pastoral, ao nível diocesano, vicarial, paroquial ou interparoquial.
- Redefinir o campo de ação dos Secretariados Diocesanos e promover o trabalho pastoral colaborativo entre eles, em função de um projeto comum, integrando o contributo dos Movimentos, Obras e Associações.
- Relançar a intervenção dos Movimentos, Instituições e Associações ligados ao mundo do trabalho e valorizar a intervenção dos leigos na relação da Igreja com o mundo.
- Formar, selecionar e instituir alguns fiéis nos ministérios laicais de leitor, acólito e catequista, para o serviço das Paróquias e Vigararias, de acordo com a Nota Pastoral Ministérios Instituídos na Igreja do Porto, de 29 de maio de 2023.
- Promover a formação dos leigos, que os capacite não apenas para o desempenho de ministérios instituídos no campo da liturgia e da profecia, mas também para a sua ação no mundo.
- Aplicar as orientações do Novo Diretório para a Catequese e o «Itinerário de Iniciação à Vida Cristã das Crianças e dos Adolescentes com as Famílias» aprovado pela Formar catequistas e párocos para a aplicação do mesmo, inspirados numa pedagogia de serviço, a partir da metodologia de projeto.
- Implementar os Itinerários Catecumenais de preparação para o Matrimónio.
- Valorizar criteriosamente a Pastoral Digital, tendo em conta as suas potencialidades e riscos, conforme as orientações do Dicastério para a Comunicação, no Documento intitulado “Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, de 28 de maio de 2023.
Promover uma cultura do cuidado
- Promover, dentro da Igreja e à sua volta, uma ampla cultura do cuidado e da proteção de menores e adultos vulneráveis, através de ações de sensibilização, de formação e da implementação de boas práticas, com vista à consolidação de comunidades cuidadoras, sãs e seguras.
- Criar grupos pastorais, de acordo com as necessidades locais emergentes (turismo, cuidado da casa comum, imigração, sem-abrigo, famílias enlutadas, toxicodependência e outras adições, infoexclusão, etc.).
- Formar Equipas Paroquiais ou Vicariais de Pastoral da Saúde.
- Mobilizar casais e profissionais habilitados para a renovação da Rede de Acolhimento Familiar, a nível diocesano, e sensibilizar as comunidades para que proponham caminhos de discernimento aos casais em situações irregulares.
- Divulgar os serviços diocesanos da Pastoral da Saúde a quem compete projetar e criar as condições para a formação e dinamização desta Pastoral na Diocese, nesta dimensão fundamental da Evangelização, acompanhando os diversos mundos da solidão, envolvendo nesta pastoral dos idosos, dos frágeis, dos sós e dos cuidadores, além dos Ministros Extraordinários da Comunhão, os Visitadores de Doentes e os Vicentinos, as Associações, as Irmandades, as Confrarias, as IPSS, as instituições sociais em campo, com as quais se deve trabalhar em rede.
- Evangelizar os idosos, com a família, acompanhando os diversos mundos da solidão, envolvendo nesta pastoral dos idosos e dos frágeis, além dos Ministros Extraordinários da Comunhão, os Visitadores de Doentes e os Vicentinos, as Associações, as Irmandades, as Confrarias, as IPSS, as instituições sociais em campo, com as quais se deve trabalhar em rede.
- Acolher e pôr em prática as sugestões e recursos para a preparação da celebração do Jubileu de 2025, propostos pelo Dicastério que promove a Nova Evangelização, nomeadamente os Cadernos do Concílio.
VII. Conclusão: «Que o Deus da esperança vos encha de alegria» (Rm 15, 13)!
Se, por um lado, um Plano Pastoral autêntico deve nascer da alegria de termos encontrado e saboreado, uma e outra vez, a alegria do Evangelho, que é a experiência maravilhosa de um Deus que nos ama e salva, por outro lado, tal Plano deve ser, na própria forma de dizer e de fazer, um convite aos cristãos a crescerem nesta alegria maior, que é fruto do Espírito atuante em nós.
Guiou-nos, por isso, na proposta deste Plano, o mesmo propósito de Jesus, na medida em que tudo quanto aqui dizemos é para que a alegria de Cristo esteja em todos nós e a nossa alegria seja completa (cf. Jo 15,11).
Esperamos que cada comunidade ou realidade eclesial, em comunhão com a Igreja diocesana, implemente um paciente processo sinodal de leitura e de discernimento partilhados, aplicando-os, com realismo pastoral, aos seus contextos pastorais concretos.
Desejamos que este Plano Diocesano de Pastoral 2023/2024 seja sobretudo um instrumento inspirador para a leitura, reflexão, análise, revisão, planeamento, programação e avaliação da nossa vida pastoral.
Temos a maior alegria em dar este contributo, que primeiro recebemos de tantos. Que o processo sinodal da sua elaboração continue a fazer o seu caminho.
Que o Deus da esperança nos encha a todos de alegria (cf. Rm 15,13).
Vamos com alegria.
Juntos por um caminho novo.