Lides de Gaia: recriação histórica no Mosteiro de Grijó

Foto: Luísa Capucho

Nas noites de 30 de junho e 1 de julho, o Terreiro do Mosteiro de Grijó foi palco para mais uma edição das “Lides de Gaia”, uma recriação histórica que levou o público numa viagem medieval até à primeira dinastia, em menos de 1 hora.

A base para a narrativa trazida a cena pela companhia Décadas de Sonho já costumava ser sobre D. Rodrigo Sanches, o mártir que tem o seu túmulo no próprio mosteiro; mas há sempre diferentes pontos de vista a explorar na História. Desta vez, a 6ª edição das Lides de Gaia aprofundou a relação de D. Rodrigo com os dois sobrinhos que viriam a ser reis de Portugal – D. Sancho II e D. Afonso III. A imponente fachada do mosteiro de S. Salvador de Grijó ao lusco-fusco pareceu ser o cenário ideal para esta viagem no tempo, de entrada livre.

Assim como o elenco, composto por cerca de 30 artistas, também a plateia, cheia, uniu diferentes gerações. Novos e velhos voltaram às aulas de História, num formato mais leve e apelativo. A diferenciação deste evento residiu sobretudo na combinação do teatro com “antigas mestrias” como a falcoaria, cavalaria, esgrima e ainda música e danças tradicionais.

A encenação da peça ficou novamente a cargo de Paulo Santos da companhia Décadas de Sonho, especialista em recriações históricas e responsável por alguns dos mais importantes espetáculos da Viagem Medieval de Santa Maria da Feira. Com o auxílio do professor João Sousa, todo o guião foi desenvolvido com base em factos verídicos e com o máximo rigor histórico. Ainda assim, a companhia marcou o seu cunho ao “tratar a História de uma forma mais divertida e dinâmica”.

A iniciativa foi, mais uma vez, da paróquia de S. Salvador de Grijó e contou com o apoio da Câmara Municipal de Gaia e da Junta de Freguesia. Apesar de ter sido preparado em menos de uma semana, António Coelho, pároco de Grijó, mostrou-se orgulhoso com o resultado final e com o trabalho desenvolvido pela comunidade e pela companhia de teatro – “O objetivo foi cumprido e conseguimos, mais uma vez, dar a conhecer a importância de D. Rodrigo Sanches para a história da primeira dinastia, de Portugal e de Grijó”. Para o padre, “é uma honra ter uma figura de tanta relevância para o país sepultada no Mosteiro”, no “segundo túmulo mais antigo de Portugal com estátua jacente.”

A iniciativa das “Lides de Gaia” começou em 2017 depois da transladação do túmulo de D. Rodrigo Sanches, classificado como monumento nacional, para uma das salas junto ao claustro do mosteiro. Considerada uma “jóia da arquitetura tumular medieval”, a sepultura esteve quase 400 anos embutida numa cavidade das paredes do claustro. Hoje já pode ser vista pelo público e tem havido uma preocupação, por parte de toda a comunidade, em exaltar a relevância desta figura, não só no âmbito da História local, mas também nacional.

O teatro termina com a recriação da batalha e consequente morte do mártir e, finalmente, a aclamação de Afonso III como rei.

A gravação do espetáculo encontra-se disponível na íntegra na página oficial de Facebook da paróquia de Grijó – https://www.facebook.com/paroquiagrijo

LC

Mote para a peça foi a influência de Rodrigo Sanches no reinado de D. Sancho II

D. Rodrigo terá nascido nos inícios do século XIII e era filho bastardo de D. Sancho I (filho de D. Afonso Henriques) e de D. Maria Pais Ribeira, mais conhecida como Ribeirinha.

Depois da morte do seu meio-irmão, Afonso II, a governação do reino ficou entregue a D. Sancho II, ainda novo e com um perfil demasiadamente militar e pouco administrativo. Apesar dos conselhos do tio, D. Sancho manteve um reinado controverso e com más relações com os membros do clero (tendo sido até excomungado pelo Papa). O clima de tensão levou a uma profunda crise económica, social e política que culminou numa guerra civil (1245 – 1248) entre os dois irmãos – Sancho II e Afonso, o então Conde de Bolonha, futuro Afonso III de Portugal.

Assistindo à incompetência do sobrinho para governar, D. Rodrigo decidiu apoiar Afonso, mas a batalha das Lides de Gaia, que teve lugar nos arredores de Grijó, feriu-o gravemente, e Rodrigo Sanches apenas teve forças para chegar até ao Mosteiro onde acabou por morrer e ser sepultado, em 1245.