Cultura do Encontro e do Diálogo

Por Joaquim Armindo

O documento de trabalho, divulgado pelo Vaticano, para a reunião sinodal próxima, pretende ser de uma cultura do encontro e do diálogo. Se numa primeira visão tal documento, nas mais de cinquenta páginas, poderá parecer inócuo, não o é, porque ele traduz o que é mesmo uma cultura de encontro e uma cultura do diálogo, não colocando de fora quaisquer questões, por mais duras que sejam. Para ilustrar a sua longitude coloco só três perguntas as quais dão uma enfase naquilo que se entenderá na Igreja Católica Romana como sensível de diálogo num encontro frutificado pela cultura. Vejamos: “À luz da Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, que medidas concretas são necessárias para alcançar as pessoas que se sentem excluídas da Igreja por causa de sua afetividade e sexualidade (por exemplo, divorciados e recasados, pessoas em casamentos poligâmicos, pessoas LGBTQ+, etc.)?” , “Como deve evoluir o papel do Bispo de Roma e o exercício do primado numa Igreja sinodal?” e “Como podemos continuar a tomar medidas concretas para proporcionar justiça às vítimas e sobreviventes de abusos sexuais, espirituais, económicos, de poder e de consciência por pessoas que estavam exercendo um ministério ou uma missão eclesial?”. Estas três perguntas juntamente com o celibato opcional e o acesso das mulheres a todos os órgãos de decisão, incluindo a sua ordenação, constituem só por si uma reflexão e um andamento que trará mais capacidade à igreja na proclamação do Evangelho de Jesus.

Quando se pretende refletir a questão central do Bispo de Roma e o “exercício do seu primado”, estamos numa inclinação quase vertical do “governo da Igreja” em todas as suas vertentes, talvez reconhecimento que o seu papel é de primus inter pares (o primeiro entre iguais), como aliás algumas tradições religiosas o entendem. Temos de reconhecer que um passo destes constitui uma mudança profunda na estrutura da Igreja e no seu funcionamento, é fundamentalmente uma Igreja cuja cultura é de encontro e de diálogo, que necessita de amadurecer aos vários níveis eclesiásticos. Creio mesmo que é uma das mais importantes matérias que o Sínodo vai analisar e ter um valor funcional histórico na assunção das várias culturas e exprimir o verdadeiro encontro e diálogo entre elas. Uma decisão que, além do mais, é ecuménica em profundidade.

As outras duas questões são do carater inclusivo, e não do descarte, uma abertura, que Jesus foi o primeiro a trazer à humanidade. A Igreja – que somos todos nós -, tem consecutivamente descurado os excluídos, quer por motivo da sua afetividade e sexualidade, quer pelas suas atitudes de discordância em matérias, talvez mais corriqueiras, e “tem afastado” todos/as aqueles/as que imbuídos – sei lá, do Espírito do Senhor -, sonham com uma Igreja de portas abertas aos pobres e excluídos.

Um documento audaz, mas, estou certo, imbuído dos valores do Evangelho.