
Por Joaquim Armindo
Estamos num mês onde se comemoram os chamados “santos populares”, e, como é normal em Portugal, as sardinhadas são um ponto fulcral nas várias atividades desenvolvidas. O que nos propomos aqui é desenvolver – enquanto o espaço deixar -, o consumo da sardinha e o desenvolvimento sustentável. A Sustentabilidade divide-se em quatro vetores ecológicos: ecologia económica, ecologia ambiental, ecologia social e ecologia cultural. Há quem defenda a existência só de três, incluindo a cultural na social, mas cada mais verifica-se que os especialistas escrevem quatro; mais curioso é que a Encíclica Louvado Sejas, está em linha com esta investigação iniciada por Leonardo Boff, em 2012, “Sustentabilidade. O que é-O que não é”.
O valor económico do consumo da sardinha, constitui um produto exportável, em decréscimo, 2013, cerca de 8 toneladas, e 7 toneladas, em 2014, tendo, infelizmente as importações, subido de 11 toneladas, 2013, para 15 toneladas, 2014. Como é evidente nem toda a sardinha importada, viva, é para nosso consumo, muita dela é reexportável, em sardinha em lata. Por curiosidade, no mês de junho de 2014, foram vendidas 2 500 toneladas, o que se traduz por um milhão de sardinhas, 48 000 por dia e 13 sardinhas por segundo. Daqui se conclui da importância económica da sardinha, que seja ecológica, e que deverão ser pescadas, e não importadas.
Os níveis de reprodução da sardinha têm vindo a baixar e as capturas, sendo que têm tendências de decréscimo. A sardinha capturada por portugueses e espanhóis é de grande importância para a alimentação, indústria conserveira e para a saúde dos portugueses. A biomassa – abundância da sardinha medida em peso – possui estoques que refletem uma diminuição substantiva, embora tenha podido existir uma evolução positiva em 2014. O que significa a inexistência de um estoque de sardinha deficitário ou degradado por metais pesados e outros. Aqui se prova a ecologia ambiental da sardinha.
A componente social da sardinha além da empregabilidade para o trabalho com 60 000 toneladas, em 2014, contra 30 000 toneladas, em 1938, o que corresponde a um nível elevado de emprego e de empresas, estas não em número, mas em capacidade produtiva. A importância social da sardinha está, também, no seu contributo para a saúde no fornecimento do ómega-3 e ómega-6, para a proteção das doenças cardiovasculares e oncológicas. Refere-se que 100 gramas de sardinha três vezes por semana, fornece ácidos gordos para a mulher em período de aleitação e são essenciais para manter níveis saudáveis de lípidos no sangue. Até os resíduos das sardinhas são aproveitáveis, para implantes ósseos e dentários.
Quanto à ecologia cultural da sardinha, lembramos só alguns dos provérbios “Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha”, “Na tua casa não tens sardinha e na alheia pedes galinha”, “Nem sempre galinha, nem sempre sardinha”, “A mulher e a sardinha querem-se pequenina”, “A mulher e a sardinha quanto maior mais danadinha”, “Não há comida abaixo da sardinha, nem burro abaixo de jumento”, “Se tens sardinha… não andes à cata de peru”, “Estar apertado como sardinha em lata”, “Comer sardinha e arrotar pescada” e “Tirar a sardinha com a mão do gato”, que configuram valores intrínsecos à ecologia cultural da sardinha.