Pacheco de Andrade, uma figura nacional do Porto

rpt

Ocorre em 5 de junho o primeiro aniversário do falecimento de Caetano Pacheco de Andrade, que foi assíduo colaborador da Voz Portucalense, para além de muitos títulos de enobrecimento de que foi credor. Foi figura relevante no seu percurso humano e no percurso da comunicação social em Portugal, ao longo do século XX.

Por isso o queremos recordar a sua presença, no primeiro aniversário do seu falecimento, também pela memória de sua esposa, que nos escreve: Conforta-me saber que o meu marido está face a face com Deus, e embora o saiba comigo também, a sua não presença física continua a ser dolorosa. Sem mais, renovo a minha gratidão para com a VP na pessoa do Director, e despeço-me cumprimentando toda a equipa pelo trabalho que fazem por um Bem Maior. Graça Pacheco de Andrade.

Dávamos notícia do seu falecimento na edição de 15 de junho de 2022 com estas palavras: “Recordamos a sua pessoa amiga e o cuidado que sempre tinha de enviar a sua preciosa colaboração, extremamente sensata e equilibrada, bem como o cuidado com que acompanhava o andamento da Voz Portucalense, que sentia como algo de seu, interessando-se por todos os dados da sua situação jornalística e diocesana”. (CF)

Deixamos também hoje a sua memória neste texto familiar:

Páginas de Lucidez

João Pacheco de Andrade

Caetano António Pacheco de Andrade foi padre, jornalista, assessor de imprensa, marido e meu pai e viveu tudo isso num largo período de 100 anos. Passa um ano do seu desaparecimento.

Manteve a sua inabalável fé até ao fim, tendo sido ela que, durante décadas, o motivou a colaborar com periódicos como “Voz Portucalense”, “Voz da Verdade”, “Notícias da Covilhã” e “Voz da Minha Terra”. Fê-lo sempre, sem permitir que o exigente e rigoroso trabalho exercido tanto no “Diário de Notícias” como no “Diário Popular” – de que foi diretor – atrapalhasse a atividade que para si tinha a maior importância: o jornalismo de evangelho. Manteve-se fiel à Igreja que amava e à pluralidade que nela sempre acreditou coubesse.

Na preparação deste texto, evocativo da sua memória, visitei o longo diálogo, escrito à mão num bloco de notas, que a intermitências manteve com Deus, onde o redescubro profundamente reflexivo, interpenetrando, com propriedade, passagens bíblicas com cenas do quotidiano, onde identificava e via florescer, através de uma aguçada lente da fé, a luz de Cristo no Mundo.

O maior legado que o meu pai me transmitiu situa-se na preservação de princípios. Ceder no acessório, mas resistir naquilo que é essencial. Fê-lo sempre, mesmo num Portugal já desaparecido, em que imperavam silêncios cúmplices e súplicas vãs. Fê-lo com D. António Ferreira Gomes quando no exílio, um dos seus principais archotes intelectuais e que o ensinou a pensar. Nunca se acobardou com as palavras, nem foi tomado pela pusilanimidade dos atos que a circunstância aconselhava. É, aliás, essa  uma das expressões que pediu emprestada a Ortega y Gasset, que tanto evocava: “o homem e a circunstância”, no sentido de que, acrescento eu, se é mais humano quanto mais independente das banalidades que cercam o indivíduo, permitindo o desassombro necessário para viver com um módico de ética e de moral.

Continuo a escutá-lo todos os dias, através de páginas e páginas de lucidez, e a compreendê-lo nas ideias e nas imagens de que se socorreu para exprimir o amor por mim, pela minha mãe e por um Pai a quem não quis deixar – e não deixou em ocasião alguma – de estar ao serviço.