Domingo X do Tempo Comum

11 de Junho de 2023

 

Indicação das leituras

Leitura da Profecia de Oseias                                                                                         Os 6, 3-6

«Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus, mais que os holocaustos».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 49 (50)

A quem procede rectamente farei ver a salvação de Deus.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 4, 18-25

«Contra toda a esperança, Abraão acreditou que havia de tornar-se pai de muitas nações, como tinha sido anunciado».

 

Aclamação ao Evangelho                       Lc 4, 18

Aleluia.

O Senhor enviou-me a anunciar o evangelho

aos pobres e a liberdade aos oprimidos.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 9, 9-13

«Jesus ia a passar, quando viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança dos impostos, e disse-lhe: “Segue-Me”».

«Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes».

 

Viver a Palavra

Desconcerta-me sempre a prontidão com que respondem os que são chamados por Jesus nos relatos evangélicos. Mateus está sentado, no posto de cobrança dos impostos, Jesus passa, vê-o, diz-lhe «segue-Me» e «ele levantou-se e seguiu Jesus». A sobriedade do relato, aliada à decidida e pronta resposta de Mateus que se faz seguimento, revela a radicalidade que implica seguir Jesus. Se por um lado nos espanta a pronta resposta àquele chamamento, por outro, interpela-nos a ausência de questões e resistências. É humanamente legítimo sentir dúvidas, colocar questões e sentir dificuldade em sair da nossa zona de conforto, mas um relato vocacional não é uma narrativa de horizonte meramente humano. É a narrativa do olhar divino sobre a nossa humanidade, revelando muito mais do coração misericordioso de Deus que da nossa frágil humanidade.

Deus omnipotente, omnisciente e omnipresente e tudo aquilo que Dele podemos dizer para falar da Sua total e radical separação do que é frágil e tangível assume a natureza humana em Jesus Cristo e faz da nossa humanidade lugar de manifestação da Sua divindade. A frágil condição humana não é necessariamente um obstáculo à graça de Deus, mas o lugar escolhido por Deus para revelar a Sua divindade. Se em Mateus, Pedro e André ou Tiago e João a resposta ao chamamento do Mestre se faz pronta e decidida, percorrendo os evangelhos percebemos como esta resposta se traduziu num processo contínuo e progressivo de acolhimento da pessoa e da mensagem de Jesus. Acolher a iniciativa de Jesus na nossa vida implica uma adesão decidida e pronta, mas consciente do processo permanente de conversão a que somos chamados. A vida da fé é tarefa sempre inacabada e um processo contínuo, onde a tarefa primeira é deixar-se olhar por Jesus.

Percorrendo os caminhos da Judeia e da Galileia, Jesus cruza a vida de Deus com a vida da humanidade. Nos gestos e palavras de Jesus, a Igreja é chamada a encontrar as coordenadas fundamentais para a sua acção no mundo. Ser Igreja em Saída e Hospital de Campanha, partir ao encontro de quantos permanecem longe e sendo hábil na arte de curar as feridas do coração e da vida. Não nos serve uma acção eclesial distante do mundo, tampouco um cristianismo que não seja desenhado na lógica da incarnação. Não somos os sadios que não precisam de médico, mas os pecadores que necessitam da medicinal misericórdia de Deus e, curados pelo Seu amor e pela Sua graça, tornamo-nos curadores feridos. Temos de aprender esta arte de sair ao encontro de quantos vivem nas periferias existenciais e propor um evangelho que se faz caminho e proximidade, misericórdia e encontro. Habitar o sentido do humano e o horizonte antropológico contemporâneo implica deixar-se olhar por Jesus e ser portador desse olhar para quantos se cruzam connosco no caminho.

Jesus Cristo revindica a misericórdia, preterindo-a aos sacrifícios e holocaustos. Jesus reivindica o coração humano, mais do que qualquer sacrifício de touros e carneiros. A nossa frágil condição humana só pode ser curada pela misericórdia do Deus que nos convoca para a missão: «segue-Me!». A nós cabe-nos confiar na promessa de Deus a nosso respeito, mesmo quando parece desafiar o humano nos seus limites, tal como Abraão que é chamado a ser pai de uma numerosa descendência na idade avançada da sua vida e sendo a sua esposa estéril.

Deus torna fecunda a terra árida do nosso coração «com a chuva da Primavera sobre a face da terra» e rasga horizontes de esperança na misericordiosa e acolhedora mesa da Eucaristia: a mesa da festa e da alegria, onde os pecadores se abrem à graça.

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero (Séc. XIII)

Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: Segue-Me. Viu-o não tanto com os olhos do corpo, como com o seu olhar interior, cheio de misericórdia. Jesus viu um publicano e compadeceu-Se dele; escolheu-o e disse-lhe: Segue-Me, isto é, imita-Me. Disse para O seguir não tanto com os seus passos como no modo de viver. Porque, quem diz que permanece em Cristo, deve também proceder como Ele procedeu.

Mateus levantou-se e seguiu-O. Não devemos admirar-nos de que o publicano, ao primeiro chamamento do Senhor, abandonasse os negócios terrenos em que estava ocupado e, renunciando aos seus bens, seguisse Aquele que via totalmente desprovido de riquezas. É que o Senhor chamava-o exteriormente com a sua palavra, mas iluminava-o de um modo interior e invisível para que O seguisse, infundindo na sua mente a luz da graça espiritual, para que pudesse compreender que Aquele que na terra o afastava dos negócios temporais, lhe podia dar no Céu tesouros incorruptíveis.

E quando Ele estava sentado à mesa em sua casa, vieram muitos publicamos e pecadores e sentaram-se à mesa com Jesus e os seus discípulos. A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores um exemplo de penitência e de perdão. Foi, na verdade, um belo e feliz precedente: aquele que havia de ser apóstolo e doutor das gentes, atraiu consigo ao caminho da salvação, logo no primeiro momento da sua conversão, um numeroso grupo de pecadores. Deste modo, já desde os primeiros indícios da sua fé, começou o ministério de evangelização que mais tarde havia de desempenhar, quando chegasse à perfeição das suas virtudes.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. No dia de 16 de Junho, Sexta-feira depois do segundo Domingo depois do Pentecostes, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Este dia é também dedicado à oração pela santificação dos sacerdotes. Deste modo, celebrando o amor misericordioso de Jesus revelado pelo Seu coração cheio de amor, somos convidados a rezar pela santificação daqueles a quem o Senhor confiou o ministério ordenado. As comunidades cristãs são convidadas a dinamizar este dia, através dos mais diversos meios, exortando sempre à oração e podendo fazer desta data também uma oportunidade para um trabalho de sensibilização vocacional.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura tem a marca da esperança que deve transparecer, na proclamação da leitura. Além disso, devem ter cuidado na proclamação das duas perguntas presentes no texto, evitando a entoação no final da frase que é um vocativo. Na segunda leitura, devem ter cuidado nas pausas e respirações, sobretudo nas frases mais longas e com diversas orações.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Alegram-se os justos na glória de Deus – A. Cartageno (CN 192); Salmo Responsorial: A quem procede rectamente (Sl 49) – M. Luis (SRML, p. 124-125); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | O Senhor enviou-me a anunciar o evangelho aos pobres e a liberdade aos oprimidos. – J. Roux (CN 54); Ofertório: Em Vós, Senhor, está a fonte da vida – Az. Oliveira (CN 401); Comunhão: Eu vim para que tenham vida – F. Silva (CN 462); Final: Ditosos os que te louvam sempre – F. Santos (CN 370).