Calvário de Beire promove ciclo de Conferências

Por padre José Alfredo Ferreira da Costa

O Calvário de Beire promove um conjunto de conferências a realizar no sábado, 27 de maio de 2023, para reflectir e propor um entendimento sobre o modo de ser Calvário.

Neste sentido apresenta cinco pontos de reflexão para análise:

Primeiro: propor com a verdade de quem escuta e de quem tem uma experiência a transmitir sobre o que pode ser uma casa familiar onde os doentes possam sentir-se verdadeiramente integrados e parte do ritmo da vida que aqui se desenrola.

Segundo: colher as necessárias ajudas técnicas – assistência social, enfermagem, médica (medicina geral, psiquiatria), serviços de supervisão do estado e outras – em ordem melhorar esse ambiente familiar e natural.

Terceiro: integrar em trabalho de equipa uma Direcção alargada para o Calvário, onde voluntários tenham um papel humanizador e evangélico, de acompanhamento permanente aos doentes, percebendo-lhes e apoiando as suas necessidades mais específicas. Os doentes são uma história concreta que eles verbalizam sempre. Têm de ter também quem os escute.

Quarto: criar novos ciclos de acolhimento para tantas pessoas feridas: pessoa com vulnerabilidade e seu familiar cuidador informal; vítimas de violência doméstica e separações conflituosas; crianças rejeitadas nos processos de adoção; vítimas de abusos vários (sexual, bullying, trabalho infantil). ciclos que revitalizem a, agora, desabitada Casa do Gaiato de Beire e outros espaços edificados.

Quinto: propor o ministério sacerdotal do Padre Américo e dos padres da Obra da Rua como edifício espiritual e caminho vocacional para este mundo do fim dos tempos (como escreveu Olivier Messiaen nos anos 40)”.

Programa

Propõem-se, especialmente aos amigos e voluntários do Calvário um ciclo de conferências intitulado O AMOR À POBREZA e que terá lugar a 27 de maio de 2023 no Auditório da Casa da Cultura de Paredes – Palacete da Granja (Av. da República 207, 4580-193), no sentido de procurar ler o Calvário, passado e presente, como uma resposta concreta às múltiplas pobrezas do pretérito mais-que-perfeito e do presente do indicativo e fazer essa leitura através de várias lentes e com o seguinte alinhamento:

09h30 – Abertura

10h00 – “Aquele que levanta do pó o débil (Sl 113,7a). Deus e o pobre no Salmo 113”

Luís Castro (Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Porto)

11h00 – Pausa

11h30 – A liturgia segundo a pobreza. Da simplicidade que adensa o mistério”

Joaquim Félix (Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Braga)

13h00 – Almoço

14H30 – O amor à pobreza… que nos enriquece: intuições e desafios do dizer e fazer de Pai Américo”

Luís Leal (Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa – Porto)

Da fidelidade, da lealdade e da criatividade: uma proposta de leitura dos escritos do Padre Baptista”
Luís Carlos Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

16h00 – Pausa

16h30 – “Factores socioeconómicos da pobreza e sua persistência”
Américo Mendes (Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa – Porto)

A lotação do espaço é de 70 lugares. Os interessados devem fazer a sua inscrição por email ou por telefone: pe.alfredo@gmail.com; 911 835 876; 255 776 178. Será o dia todo e tentaremos encontrar uma forma de servir uma refeição ligeira ao almoço. Cada uma fará a oferta que entender para os custos com a organização.

Propõe-se a seguinte reflexão:

Ele (Padre Américo) nunca teve ideias predefinidas, nem projectos de secretária; ele era, de facto, um homem de respostas à intuição. O Calvário nasceu do seguinte: havia ali em Fonte Arcada uma mãe que tinha cinco filhos, todos com problemas mentais, alguns mesmo com problemas profundos. E ele, diante daquela mãe que vinha pedir-lhe ajuda para os filhos, começou a pensar: «Quem me dera ter uma casa para eles!» E foi a partir dali que ele começou a falar de uma casa para doentes incuráveis. p.29
O Calvário é apenas a casa de família para aqueles que a não têm nas circunstâncias dramáticas de abandono e de doença. p. 48.
                    À volta de Padre Baptista, entrevista por Henrique M. Pereira, Ed Modo de Ler, 2017

Não há calvário sem ferimentos. O de Beire continua ferido. As obras em curso, alguns doentes fora com perspectiva de regressarem, tantas urgências e necessidades que cruzam o portão, tantos pedidos para atendermos pessoalmente. O trabalho do Padre Baptista e de uma multidão de voluntários e pessoal de saúde no passado distante e recente nem sempre acarinhado por quem de direito. Tantos amigos ausentes. Tantos equívocos de maledicência, tantas condenações na praça pública. Tantas obrigações sem atender à intuição fundacional. Tantos desafios que a sociedade agora coloca. E bem. Neste momento concreto o maior é o de harmonizar o espírito do Calvário com a legislação em vigor para quem acolhe doentes por motivos físicos, psíquicos ou de idade. Respostas sociais e Evangelho! Poderão juntar-se por um vínculo sacramental ou apenas por uma união de facto?