
Por Joaquim Armindo
Na guerra iniciada com a invasão da Ucrânia não podem existir quaisquer dúvidas sobre quem invadiu quem. A Federação Russa invadiu a Ucrânia. Por isso mesmo existe um agredido e um agressor. Se haveria razões para tal e a Ucrânia teria sido antes agressora, isso resolvia-se por métodos diplomáticos, no convénio das nações. Agora, não nos restam dúvidas de que as partes estão em guerra declarada e de que existem países a apoiar um ou outro lado, tantos por interesses inconfessáveis. Mas como resolver uma questão que é deveras complexa. Não fornecendo armas à Ucrânia? Ou seja, que o agressor possa agredir livremente? Nenhum dos países sairá vencedor, nenhum se irá render ao outro. O que é legitimo! Então continuaremos a saber todos os dias que morrem ucranianos e russos, numa guerra sem sentido? Vamos continuar a fomentar a indústria da guerra, porque assim os lucros chorudos da guerra vão encher os bolsos a uns tantos? Quantos milhares de milhões de euros já se gastaram? Ou até naqueles grupos de mercenários – que também morrem -, e não encontram soluções para as suas vidas na paz, a não serem alistar-se em grupos violentos que produzem guerra? A solução, e parece não haver outra, é um acordo de paz duradoura e justa.
Gostaria de deixar aqui algumas reflexões de Marciano Vidal[i], para melhor refletirmos sobre como alcançar a justiça e paz num conflito como este. Diz Vidal: “Para alcançar essa justiça, podemos aceitar os custos humanos da violência? Como resposta proponho o seguinte discernimento. – Não há escolha legítima entre violência e não-violência. A própria violência (realidade histórica) e buscada por si mesma (método) é um contravalor. Violência gera violência; a violência, por si só, nunca sai do círculo infernal da injustiça. – Dada a situação de injustiça, há uma escolha legítima entre formas opostas de violência. O conteúdo dessa afirmação abre-se para os seguintes significados: a) a situação de injustiça, ou seja, a violência das estruturas, é o detonador da dinâmica violenta; b) numa situação de injustiça, de facto, está-se tomando partido de uma forma de violência; c) a opção de facto pode se tornar uma opção de método. – A opção, em um conflito de violência, poderia adotar dois caminhos legítimos: o da não-violência ativa e o da violência como método de luta pela justiça. A legitimidade desses dois caminhos depende da condição dialética da violência: ela não pode ser superada, hoje, de uma única maneira, mas por meio de um método dialético correspondente à sua condição também dialética.”
E citando Bosc[ii]: “Nenhum filósofo, nenhum moralista e nenhum político jamais procurou justificar a violência (ofensiva ou defensiva, direta ou estrutural) em si mesma, mas apenas como um meio, em certos momentos indispensáveis, para eliminar outra forma de violência. meio é evidentemente disfuncional, isto é, no qual perdeu sua razão de ser sociológica, também perdeu sua justificação moral e caiu em desuso”.
Sei que enquanto pensamos morrem muitos dos agressores e dos agredidos, mas, como em todas as guerras, só pode ganhar a justiça e a paz.
[i] Vidal, Marciano (2001). “Ética Social y Sociedad Democrática”. Desclée de Brouwer. Bilbao
[ii] R. Bosc, “Evangelino, violencia y paz” (Madrid, 1977)