Das mensagens e dos mensageiros

Por M. Correia Fernandes

São frequentemente misteriosas as coincidências. Há dias o Diário do Minho, um diário eclesial centenário, anunciava em cuidado suplemento, a comemoração dos seus 104 anos (em 15 de abril deste ano).

Sobrevivente de muitos projetos de um diário de inspiração cristã com uma dimensão nacional, permanece na Arquidiocese de Braga como o único diário com essas características editoriais, embora não consiga a desejada dimensão nacional. Sobre a sua qualidade e o seu persistente esforço já aqui nos referimos em crónica anterior (edição de 29 de março de 2023). Registamos agora, do editorial do seu diretor Damião Pereira, a vontade de tornar o diário “cada vez mais voz de uma comunicação aberta e acolhedora, ao serviço da pessoa e de uma sociedade mais justa e fraterna, no respeito da dignidade da pessoa e na defesa dos direitos humanos”.

Em 27 de abril surgia a notícia do falecimento de uma dos seus anteriores diretores, o cónego João Aguiar Campos, que se tornou um prócere da comunicação social cristã também pelas suas missões de Diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e de Presidente do Conselho de Gerência das Rádio Renascença e da Assembleia Geral da AIC (Associação de Imprensa da Inspiração Cristã). A ele todos devemos um exemplo de dedicação e de coragem no enfrentar optimista e esperançoso do evoluir da sua enfermidade, transmitido no seu livrinho Morri ontem, escrito no sentir da sua vida.

Ora, era sobre este tema da relevância da comunicação social que importava refletir hoje. As coincidências entre efemérides, projetos, acontecimentos e modelos deve estimular-nos a valorizar esta dimensão essencial da nossa convivência de membros do povo de Deus, da sua Igreja e desta moderna sociedade de complexos recortes em que nos inserimos.

No decreto do Vaticano II Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social, datado de 1966, encontramos reflexões e orientações de uma admirável e flagrante atualidade. Parece que muitos dramas da comunicação social de hoje já aí se vislumbravam: o direito à informação, a consciência e prática recta sobre o seu uso, a verdade e objetividade dos factos, acontecimentos e notícias, a relação entre a arte e a moral, o respeito da dignidade da pessoa, o problema da apresentação e representação do mal, a justiça e a caridade na formação da opinião pública e a busca em tudo do bem comum.

Mais perto de nós, reencontramos os mesmos apelos atualizados nas propostas do papa Francisco, nos seus mais diversos documentos em que, no contexto de outros ensinamentos, sempre se acentua a pertinência da suas apresentação. Lembramos a preocupação por evitar a falsas notícias, os factos distorcidos intencionalmente, tornando a informação instrumento ao serviços de interesses deletérios. Por exemplo, na Fratelli Tutti o papa Francisco retoma este apelo à dignidade e seriedade na informação, ao afirmar: “A verdadeira sabedoria pressupõe o encontro com a realidade. Hoje, porém, tudo se pode produzir, dissimular, modificar” (n. 47).

Todos nos temos confrontado com esse drama de dissimular e modificar os dados e acontecimentos, tomando-se tantas vezes a árvore pela floresta inteira.

O universo informativo traduz um universo relacional em que se exploram os conflitos em vez de procurar os consensos. Um pequeno lapso é transformado em motivo de agressão política e parece que esta é construída para exaltar conflitos, porque se torna fonte de divulgação e de relevo social. Transforma-se a desejada aproximação cultural em desajeitada temática de deterioração de relacionamento humano. Em vez do encontro feito cultura proposto pelo Papa, procuramos antes o desencontro como fenómeno social. No dizer do papa Francisco, a cultura da sociedade deve incluir as aspirações, o entusiasmo, o procurar pontos de contacto, o lançar de pontes que envolvam a todos, o encontrar de uma aspiração e um estilo de vida. Para isso devem contribuir os recursos profissionais e mediáticos.

Torna-se eloquente a mensagem: “A verdade é uma companheira inseparável da justiça e da misericórdia… a verdade não deve levar à vingança, mas antes à reconciliação e ao perdão. (Fratelli, 277).

Este desejo ou este projeto tanto de pode aplicar aos abusos, aos assédios, tanto como aos relacionamentos políticos baseados na agressão verbal e nas acusações mútuas.

E é também portador de conteúdo injurioso o usar a palavra de S. Paulo como arma de arremesso político.