
O Papa Francisco encontrou-se em Budapeste com as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático na sexta-feira dia 28 de abril. Na capital húngara, num antigo Mosteiro Carmelita, o Santo Padre recordou a história recente do país, em particular, o sofrimento durante a Segunda Guerra Mundial.
Assinalou também a fundação da cidade, nascida de três cidades “há 150 anos, em 1873, a partir da união de três cidades: Buda e Óbuda a oeste do Danúbio com Pest, localizada na margem oposta”, disse o Santo Padre.
Uma cidade nascida de uma unidade, como aquela que construiu a Europa comunitária no pós-guerra, “grande esperança para o objetivo comum de um vínculo mais estreito entre as nações que evitasse novos conflitos”, afirmou o Papa.
Contudo, segundo Francisco, o “multilateralismo parece não passar duma linda recordação do passado” num momento presente em que estamos a “assistir ao triste ocaso do sonho coral de paz, enquanto avançam os solistas da guerra”.
“Em geral, parece ter-se desintegrado nos espíritos o entusiasmo por edificar uma comunidade das nações pacífica e estável, enquanto se demarcam as zonas, sublinham as diferenças, voltam a rugir os nacionalismos e exasperam-se os juízos e tons de uns contra os outros”, disse o Santo Padre.
Para o Papa “a paz não virá jamais da prossecução dos próprios interesses estratégicos, mas de políticas capazes de olhar ao conjunto, ao desenvolvimento de todos: atentas às pessoas, aos pobres e ao amanhã; e não apenas ao poder, aos lucros e às oportunidades do presente”.
O Santo Padre declarou que “a Europa é fundamental” na atual “conjuntura histórica”. Lembrou grandes líderes europeus como de Gasperi, Schuman e Adenauer e citando o conflito na Ucrânia fez uma pergunta: “onde estão os esforços criativos de paz?”
Francisco alertou para o perigo da Europa ficar “refém” de “populismos autorreferenciais”, mas também para estar atenta a não se tornar “numa espécie de supranacionalismo abstrato”. Pediu que a Hungria seja capaz de fazer pontes tal como a sua capital é uma cidade de pontes.
Neste momento do seu discurso, o Papa denunciou “o caminho nefasto das «colonizações ideológicas», que eliminam as diferenças, como no caso da chamada cultura do género” e também os “conceitos redutores de liberdade” que apresentam “como conquista um insensato «direito ao aborto»”, disse.
Centrando a sua intervenção no país que visita e na sua história, recordou “Santo Estêvão, primeiro rei da Hungria”. Assinalou o seu “genuíno espírito cristão” e as “palavras de fraternidade extraordinárias” que deixou ao seu filho e que dizem o seguinte: “um país que só tem uma língua e um só costume é frágil e decadente. Por isso recomendo-te que acolhas benignamente os estrangeiros e os honres, de modo que prefiram mais ficar junto de ti do que noutro lugar”.
Agradecendo às autoridades húngaras as “obras caritativas e educacionais” de “apoio concreto a tantos cristãos provados no mundo, especialmente na Síria e no Líbano”, Francisco pediu-lhes que inspirados por Santo Estevão possam viver o tema do “acolhimento”.
Pediu-lhes para verem “Cristo presente em tantos irmãos e irmãs desesperados que fogem de conflitos, pobreza e mudanças climáticas”.
“É preciso enfrentar o problema sem desculpas e sem demora. É tema que deve ser enfrentado juntos, em comunidade, até porque, no contexto em que vivemos, mais cedo ou mais tarde as consequências repercutir-se-ão sobre todos”, disse o Papa.
E acrescentou: “É urgente, como Europa, trabalhar em vias seguras e legais, em mecanismos partilhados face a um desafio epocal que não se pode travar rejeitando-o, mas deve ser acolhido para preparar um futuro que, se não for de todos em conjunto, não existirá. Isto chama a intervir em primeira linha quem segue Jesus e quer imitar o exemplo das testemunhas do Evangelho”, afirmou Francisco na conclusão do seu discurso às autoridades da Hungria.
RS