
Por Joaquim Armindo
O número 399, fevereiro de 2023, da Revista Concilium, é sobre um tema importante na teologia cristã “Racismo: Prespectivas Interculturales de las Mujeres”, na qual destaco uma frase e um dos artigos. A frase, é da autoria de Berta Cáceres, das Honduras, e diz: “Lutamos contra as políticas coloniais e capitalistas de roubo e saque, contra o sistema do patriarcado [dominação institucionalizada que mantém a subordinação e a invisibilidade das mulheres e de tudo o que é considerado ‘feminino’, em relação aos homens e ao que é ‘masculino’, criando assim uma situação de desigualdade estrutural baseada no pertencimento a um determinado género – nota minha] e contra o racismo. Também lutamos pela defesa das nossas terras, no que tem a ver com a biodiversidade, dos direitos culturais, com a soberania alimentar”. Esta frase de Berta Cáceres é um testemunho do que o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas das Honduras propõe para a sua determinante atuação e que a Doutora em Ciências Religiosas Pearl Maria considera “um ponto de partida de reflexão ecoteológica sobre o racismo, o patriarcado e o capitalismo” importantíssimo e urgente e que custou a vida a Berta Cáceres, cristã e católica, que fez da sua vida uma permanente entrega ao Cristo crucificado.
O artigo que me chamou a atenção é da Professora emérita de Teologia Sistemática M. Shawn Copeland, com o tema “Racismo e Heteropatriarcado”, sobre a supremacia racista branca e a sua interação com a raça, género e sexualidade, examinando as implicações destas opressões na teologia cristã, nos Estados Unidos da América. Refere ela que “o racismo e o heteropatriarcado supõem as ameaças mais perigosas para a vida humana, a formação da comunidade humana, a existência continuada da criação para o reino de Deus. Se os as teólogas e os teólogos cristãos querem responder adequadamente a estas ameaças, devem situar a vida no centro da reflexão teológica. Ao fazê-lo, formulam perguntas cruciais sobre o que significa o ser humano no plano divino da criação. Assim, é um centrar da vida, não na reiteração do antropocentrismo, mas sim numa profunda reflexão do tecido conectivo entre a vida humana e o conjunto de todas as realidades vivas e não vivas sob Deus.”
Portanto, é necessário reconstruir a “teologia cristã como antirracista, anti-homofóbica o que requere não só compaixão, paixão e urgência do teólogo, mas também um pensamento teológico imaginativo e audacioso que seja rigoroso, intercultural, autocrítico e transdisciplinar”. Acaba por afirmar que os teólogos “cristãos devem ser anti-sexistas [o “sexismo” é a teoria que defende a superioridade de um sexo, normalmente o masculino, sobre o outro] e antirracistas”.