Domingo de Páscoa: crise está na “noção que nós fazemos de Deus”, disse D. Manuel Linda

Foto: Rui Saraiva

Bispo do Porto afirmou a necessidade de abertura ao mistério de Deus. Alertou para os perigos da “laicização de clérigos” e do “clericalismo dos leigos”.

Na manhã de Páscoa, D. Manuel Linda na sua homilia lançou uma interrogação: Porque falamos em crise de fé e da Igreja? Na sua reflexão respondeu a esta pista de reflexão considerando “que a crise não reside tanto no número de praticantes”, mas “na noção que nós fazemos de Deus e na consequente pregação”.

“De facto, se apresentamos ao mundo um Deus do qual sabemos tudo, um Deus «dominado» pela nossa inteligência, como fez a época moderna, então deixamos escapar a verdade indisponível sobre Ele. Ele transcende sempre os nossos conceitos e certezas. Ele é mistério de luz que ultrapassa as capacidades do nosso olhar e verdade que a nossa mente não consegue traduzir em fórmulas. Ele é o Ressuscitado!”, disse D. Manuel Linda.

O bispo do Porto, na Missa na Catedral no domingo 9 de abril, afirmou que “ser crente e pertencer à Igreja é viver voltado para o abissal mistério de Deus. É ser sinal de proximidade a este mistério, que não se domina, mas se vive amorosamente. E isto constitui o testemunho mais credível para a perceção de Deus por parte de um mundo tecnicizado como o da atualidade”

A este propósito, D. Manuel Linda alertou para os perigos da “laicização de clérigos” e do “clericalismo dos leigos”.

“Ser crente, é viver a profunda espiritualidade dos místicos, tantas vezes traduzida na noção da «noite escura» ou do «silêncio de Deus» perante o mal no mundo, a única que vence as identificações fundamentalistas do culto e a relativização, dita progressista, das verdades da fé, sinal de algum clericalismo dos leigos e de não menos laicização de clérigos”, afirmou.

Concluiu a sua homilia salientando que “Cristo vive! Este está a nosso lado como fiel companheiro, fortaleza, amor que não falha. Só nos pede a resposta àquele seu amor tão misericordioso e forte que O levou a dar a vida por ti e por mim. Deixemo-nos tocar por Ele. Feliz Páscoa!”.

RS