Na Semana Santa o apelo dos indígenas brasileiros

Por Joaquim Armindo

Mais de vinte povos indígenas do Brasil apelam em assembleia ao derrube do “marco temporal”. Este “marco temporal” é uma determinação do Supremo Tribunal Federal que pretende condicionar os povos indígenas às terras – chamadas “terras indígenas” – que ocupavam antes do “marco” do dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição brasileira. Ora de acordo com um artigo da Constituição refere que as “terras indígenas” dizem respeito às terras ocupadas pelos povos, mesmo antes da configuração do estado brasileiro, sendo assim reconhecidos os seus costumes, valores e cultura. Sabemos que alguns povos indígenas mercê da colonização imposta e dos interesses inconfessados dos madeireiros e exploradores das terras não concordam com tal. Existe, pois, uma bipolaridade, de um lado os povos originários – alguns forçados em abandonar as suas terras de origem – que lutam pela identidade do seu passado, pelas suas terras, contra o colonialismo e o neocolonialismo, pelo Bem Viver, apoiados por grande parte das igrejas, quer católica romana, quer igrejas da reforma, onde se identificam as anglicanas, as protestantes e a quem não faltam apoios políticos quer de toda a esquerda, quer de direita. Por outro lado, sustentados no Viver Bem a extrema direita e alguma direita, as novas igrejas nascidas tendo por base uma “teologia de enriquecimento”, os neoliberalistas escudados na desflorestação e marcados pela destruição do planeta, concretamente das grandes florestas e dos bens que a terra possui. É neste contexto que se desenvolve uma luta entre os dois polos, um baseado na justiça e paz, outro contextualizado pelo dinheiro  e pela dominação dos povos.

Os povos que defendem a terra dos seus antepassados, do Pantanal, Cerrado, Amazónia, Pampa e Caatinga, reunidos em Brasília, partilharam as suas lutas pela dignidade, nos seus territórios e lançaram apelos de defesa dos direitos originários, que os poderes instituídos lhes retiraram. O descontentamento com o “marco temporal” foi central nesta reunião, conforme foi referido pelos representantes dos povos Xukuru-Kariri (tribos do nordeste brasileiro) , Kariri-Xocó (Alagoas), Xerente do Araguaia (Mato Grosso), e do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que apelaram à unidade contra o “marco temporal”. “O inimigo dos povos indígenas não dorme. O marco temporal vem sendo colocado por mais de uma via: pelo STF e também pelo projeto de lei [490/2007], na Câmara. Precisamos estar sempre atentos, sempre vigilantes. Pedimos aos deputados que se unam a nós”, afirmam.

As lutas destes povos brasileiros também são nossas, para passarmos da Semana Santa à Ressurreição da Páscoa. A dignidade destes filhos e filhas de Deus, é o nosso coração a bater por cada carga sobre estes povos, é um prego na cruz de Jesus Cristo. Por isso, e também fomos colonizadores para o mal e para o bem – mas mais para o mal –, haveremos de sentir nesta Páscoa a irmandade com todos estes povos massacrados.