
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Sendo o Tríduo Pascal o coração pulsante do ano litúrgico, logo se depreende que deverá ser celebrado com canto e não se hão de poupar esforços para que efectivamente assim suceda. Lê-se no nº 2 das rubricas com que o Missal abre a secção relativa ao Tríduo Sacratíssimo da Páscoa: «O canto do povo, dos ministros e do sacerdote celebrante tem importância peculiar nas celebrações destes dias. De facto, os textos adquirem a sua maior expressão quando se executam com canto» (MRP [edição de 2021], p. 268). Também o nº 3 das citadas rubricas desaconselha as celebrações do Tríduo nas pequenas comunidade, associações e grupos particulares propondo as igrejas catedrais e paroquiais como os lugares indicados para a realização de celebrações mais dignas, com presença de fiéis, número suficiente de ministros e o canto de pelo menos algumas partes (Ibid.). Registe-se que a nova edição portuguesa do Missal facilita, de forma significativa, o canto dos ministros, ao colocar as pautas musicais nos lugares próprios.
Se durante a celebração do Tríduo há um esforço para que a assembleia participe no canto, deveria haver um correspondente esforço por parte do Presidente e dos ministros. Assim, para além dos diálogos e orações presidenciais, seria desejável que o presidente cantasse: em Quinta Feira Santa, o Prefácio (MRP, 576 s.) e a parte central da Oração Eucarística (MRP 277s e 651s); em Sexta Feira Santa, as Orações da Oração Universal (MRP, 285-298); na Vigília Pascal, o Aleluia (MRP 336), a bênção da água batismal (MRP 340ss), o Prefácio (MRP, 543) com a parte central da Oração Eucarística (música no lugar próprio do Ordinário da Missa) e a bênção solene (forma melódica no MRP 703s). O Precónio pascal deverá ser cantado (MRP, 315 e ss.): à falta de diácono ou presbítero capaz, é permitido que seja um leigo a fazê-lo – cantor ou cantora, omitindo as palavras assinaladas no Missal – precisamente porque este é um texto que de si exige o canto.
Também se dará realce ao canto das respostas nos diálogos e das aclamações por parte da assembleia. Para a aclamação de anamnese, na anáfora, sugerimos a opção pela 3ª proposta do Missal: “Glória a vós que morrestes na Cruz…” (MRP 649, etc). Nestes dias valorizem-se, ainda, as seguintes aclamações: antes do Evangelho – especialmente o Aleluia solene da Vigília (MRP 336) –; durante a apresentação da Santa Cruz em Sexta-Feira Santa (MRP 299); durante a procissão do Círio pascal (MRP 314) e após a bênção da água na Vigília (MRP 343). Finalmente, valorizem-se os cantos processionais: ofertório e trasladação do SS. Sacramento em Quinta-Feira Santa; aspersão da assembleia e comunhão na Vigília, …
Para além das acções litúrgicas previstas no Missal, nestes dias favoreça-se a oração comunitária. As comunidades que possam e queiram reunir-se de manhã para a oração, têm à mão o canto do Ofício de Leituras e Laudes de Sexta-feira e Sábado santos.
Atendendo à grande quantidade de cânticos previstos, é indispensável o ministério de um coro com um repertório longamente assimilado e bem ensaiado para assegurar a qualidade litúrgico-musical das celebrações do Tríduo. Cada paróquia tem a sua organização já consolidada por anos de experiência. Mas este pode ser o tempo propício para reunir forças e preparar as celebrações mais importantes do ano litúrgico com ensaios conjuntos e envolvimento alargado de todos os coros e grupos de cantores da comunidade paroquial. Não é necessário nem conveniente mudar todos os anos o programa musical até porque muitos cânticos apenas se executam por esta ocasião e as memórias e emoções que frequentemente lhe andam associados pode ser uma válida ajuda para a vivência do mistério pascal. Em todo o caso, uma programação ponderada saberá combinar a novidade estimulante com a estabilidade que favorece a participação.
Quanto ao programa, o Cantoral Nacional (ver índice na p. 1068 para as várias celebrações do Tríduo) fornece um repertório bastante generoso de cânticos a uma voz, a pensar na generalidade das nossas assembleias paroquiais. E não se pense que cantar a uma só voz signifique menos qualidade e beleza, como bem nos ensina a tradição do Canto Gregoriano. Sem desprimor – muito pelo contrário – dos coros capazes de polifonia. Felizes as comunidades que podem usufruir de tal riqueza. Esses coros têm outros repertórios de música litúrgica onde haurir para elaborar os seus programas. Contudo, façam-no de forma equilibrada sem reduzir sistematicamente ao mutismo a assembleia que deve ser ajudada a participar não só pela escuta, mas também pelo canto nos momentos previstos.