
2 de Abril de 2023
Indicação das leituras
Procissão de Ramos
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Mt 21,1-11
«Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!»
Leitura do Livro de Isaías Is 50, 4-7
«Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam.»
Salmo Responsorial Salmo 21 (22)
Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses Filip 2, 6-11
«Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio».
Aclamação ao Evangelho Filip 2, 8-9
Glória a Vós, Cristo, Palavra de Deus.
Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou
e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Mt 26,14 – 27,66
«Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice. Todavia, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres».
«Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a cruz de Jesus».
Viver a Palavra
Com a celebração do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor damos início à Semana Santa onde somos convidados a fixar o nosso olhar na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A Semana Santa inicia e termina com um evangelho de festa, marcado pela alegria. Iniciamos a celebração deste Domingo com a proclamação do Evangelho que narra a entrada de Jesus em Jerusalém onde é aclamado com brados de alegria e de júbilo que ainda hoje repetimos na celebração da Eucaristia: «Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor! Hossana nas alturas!» e na soleníssima noite de Páscoa haveremos de escutar o solene anúncio da Ressurreição gloriosa. Contudo, esta moldura de alegria e de festa encerra no seu interior a paixão e morte, o duro caminho da paixão que escutamos no Evangelho da missa.
No actual contexto social e eclesial que estamos a atravessar, nas dificuldades pessoais ou alheias com que nos deparamos no quotidiano, haveremos de ter sempre presente esta moldura de alegria e de festa que encerra a paixão e morte de Jesus. Diante das dificuldades, exigências e sofrimentos, com toda a certeza, levantamos tantas perguntas e assaltam ao nosso coração tantas dúvidas e incertezas. Podemos até fazer a nossa oração a partir das palavras que Jesus proclama na cruz e que cantávamos no salmo: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns exegetas afirmam que uma tradução mais fiel deste versículo deveria ser: «Meu Deus, meu Deus, porque me fizeste chegar até aqui?». Na verdade, estas palavras podem muito bem ser o ecoar da nossa oração, em tantas circunstâncias que atravessamos, e quão bom seria se elas traduzissem a atitude de quem se coloca humildemente diante do mistério da dor e do sofrimento. Não temos respostas, nem fórmulas mágicas e instantâneas, mas temos a humilde confiança de quem se sabe amado por um Deus que não é indiferente às nossas dores e angústias e podemos proclamar como escutávamos na primeira leitura: «o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido».
O nosso Deus não nos desilude e a confiança que depositamos nele há-de abrir-nos ao horizonte de alegria e de festa que a Páscoa do Senhor nos aponta. Se Jesus nos convida à alegria e à felicidade, à conversão e à santidade, também desce à dor e ao sofrimento para nos ensinar a arte de estar ali onde o amor se faz mais exigente. Jesus sobe até à cruz, abraça a dor e sofrimento, porque o amor é tanto mais verdadeiro, quanto mais se realiza em gestos concretos de compaixão e misericórdia. Entre os muitos deveres do amor está aquele primeiro de estar ali, precisamente ali, onde está o amado. Por isso, Jesus vai até ao sofrimento e à morte, porque Ele sabe bem que a nossa frágil humanidade atravessa caminhos de dor e de sofrimento. Contudo, também aprendemos com Jesus que a nossa dor e sofrimento se abrem à alegria pascal que a manhã de Páscoa nos há-de trazer.
Sobre a terra, no meio dos nossos limites e fracassos, é tempo de caminhar humilde e confiadamente a estrada da fragilidade fortalecida pelo amor e pela graça e, um dia, haveremos de compreender ou pelo menos entrever não o «porquê?», mas o «para quê?» destes tempos difíceis e exigentes. Durante a paixão e morte de Jesus os discípulos não foram capazes de compreender o modo livre, disponível e confiante com que Jesus se entregava à vontade do Pai, mas na manhã de Páscoa e na força transformadora do dia de Pentecostes os discípulos viram abrir-se os seus olhos e os seus corações para alegria nova que o amor transporta. Por isso, que as horas exigentes de dor e desilusão nos conduzam sempre ao dia esplendoroso, onde celebraremos juntos a alegria do amor que vence as trevas e que enche de esperança as nossas vidas.
Homiliário patrístico
Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo (Séc. VIII)
Vinde, subamos ao Monte das Oliveiras, ao encontro de Cristo que hoje regressa de Betânia e Se encaminha voluntariamente para a sua santa e venerável paixão, a fim de realizar o mistério da salvação dos homens. Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, Ele que desceu do Céu por causa de nós, prostrados no abismo, a fim de nos elevar consigo, como diz a Escritura, acima de todos os Principados, Potestades, Virtudes e Dominações, acima de todo o nome conhecido neste mundo e no futuro. O Senhor não vem com glória, fausto ou pompa. Ele não gritará nem clamará, diz a Escritura, nem se ouvirá a sua voz; mas será manso e humilde, e entrará com aparência modesta e vestes de pobreza.
Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a sua paixão; imitemos aqueles que foram ao seu encontro: não para juncar o caminho com ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a seus pés com humildade e rectidão de espírito, para acolhermos o Verbo que vem até nós e recebermos aquele Deus que lugar algum pode conter.
Agitando os ramos espirituais da alma, aclamemo-l’O todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel.
Indicações litúrgico-pastorais
- Com o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor entramos na Semana Santa. Este Domingo deve ser marcado pelo convite à participação no Tríduo Pascal, centro de todo o ano litúrgico. Não nos devemos limitar a um anúncio dos horários e locais das celebração mas, por exemplo, elaborar um pequeno folheto com uma apelativa descrição de cada uma das celebrações. Além disso, pode apontar-se como acção missionária para esta semana o convite aos vizinhos e amigos para a participação nas diversas celebrações pascais.
- Para os leitores: a primeira leitura não apresenta nenhuma dificuldade aparente na sua proclamação. Requer uma leitura pausada e atenta que exprima toda a densidade e intensidade dramática do texto. A última frase exige uma especial atenção para que se possa transmitir a confiança e esperança que o auxílio de Deus oferece. A segunda leitura é um hino litúrgico e poético e apresenta duas partes distintas: uma primeira mais dramática e uma segunda mais jubilosa e marcada pela exaltação de Jesus. A proclamação desta leitura deve ter presente todos estes elementos. A narrativa evangélica da Paixão do Senhor, na ausência de diáconos, pode ser lida por mais dois leitores, reservando a parte de Cristo ao sacerdote. Tendo em conta os diversos diálogos e a dimensão do texto, aqueles que participam na leitura devem fazer uma acurada preparação das diversas intervenções ao longo do texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: Hossana ao Filho de David – M. Luís (CN 530); Procissão: Jerusalém em festa – F. Santos (CN 548); Salmo Responsorial: Meus Deus, meu Deus, porque me abandonastes? (Sl 21) – F. Santos (CN 612); Aclamação ao Evangelho: Glória a Vós, Cristo, Palavra de Deus | Cristo, obedeceu até à morte… – F. Santos (BML 5); Ofertório: Ele suportou os nossos pecados – M. Luís (CN 396); Comunhão: Pai, se este cálice não pode passar – F. Santos (CN 794); Final: O Senhor salvou-me – C. Silva (CN 745).