Conheci-o bem menino…

Por João Alves Dias

Email – “Amigo Pedro, acabámos de ver o vosso João, na entrevista do ‘Porto Canal’.

Que bom! Sentimos que também nos pertence e ficámos muito honrados. Esteve muito bem e muitas vezes teve expressões que nos levavam até ti. (17/2/2023)

Email – “Obrigado, João! E deixas-me muito feliz ao dizeres que o João “nos pertence” porque, um pedacinho de ti – e de tantos outros amigos e colegas da escola que mudaram a minha vida – fazem mesmo parte do património dele.

Quanto às conquistas do João, deixa-me dizer uma coisa que sei que vais concordar: os filhos são sempre motivo de orgulho; mas o mais importante é que sejam saudáveis (sei bem o que digo e tu ainda mais); depois, queremos que sejam felizes e se forem boas pessoas, o nosso orgulho transborda. Sem estas conquistas, as outras não têm lar. Grande ABRAÇO!” (17/2/2023)

De quem são estas palavras tão sábias?

Pianista e professor, o Pedro foi meu colega, bem mais novo, na escola EB2 de Rio Tinto. Era assim a ´nossa’ escola. Uma verdadeira comunidade onde comungávamos os mesmos sonhos e projetos. Dávamo-nos e aceitávamo-nos na partilha de entusiasmos e debilidades.  Como era reconfortante ver rostos irmanados na mesma caminhada. Sem peias nem desvios asfixiantes. Respirávamos alegria porque nos sentíamos respeitados e livres na responsabilidade.

Lembro aquele colega que, no início do ano, dizia a todos: “Ao fim de semana não trabalho, mas passeio com a família e os amigos. Por isso, irei aproveitar alguns sábados para visitar o Porto Histórico. E terei muito gosto na companhia de quem quiser ir comigo. E não faltava quem aproveitasse: pais, alunos, professores, funcionários…

Como era agradável descer as tortuosas e íngremes ruas do Porto, desde a Sé até ao ‘Postigo do Carvão’ na Ribeira! E ver como os diversos participantes iam fazendo perguntas e partilhando comentários… Era a Comunidade Educativa em ação… sem justificações nem relatórios…

Esta cumplicidade estendia-se às nossas famílias. Seguíamos de perto o crescer dos filhos uns dos outros e tratávamo-los como se fossem nossos. O João é um desses meninos…

E prolongou-se para além da aposentação… Em 22 de fevereiro de 2008, criámos o grupo ‘Boa Memória’ que, há quinze anos, vem atualizando, em encontros mensais, a memória de tempos felizes. E assim, as suas ‘Bodas de Cristal’ culminaram na celebração da Vida e da Memória, na Eucaristia (19/2/2023) cantada pelo Coro Gregoriano, na capela de Fradelos, no Porto.

E quem é este João, filho do Pedro?

É o João Gonzalez que, para além doutros prémios internacionais, foi, em 2022, o primeiro realizador português de animação a ser premiado no Festival de Cannes.

Mais… “Foi o primeiro realizador português candidato a um Óscar.

A sua curta-metragem de animação “Ice Merchants” está na restrita lista de cinco candidatos ao Óscar da Academia de Hollywood, na categoria, resultado da criatividade e talento de um jovem de 26 anos, realizador, animador, ilustrador e músico. (J N, Magazine’ – 31/1/2023),

Posteriormente, “venceu o prémio de melhor curta-metragem na 50ª edição dos Annie Award, em Los Angeles! Os mais importantes prémios norte-americanos do cinema de animação” (Notícias Agência, 26/2/2023).

Na véspera da cerimónia dos Óscares, o jornalista Mário Augusto escrevia no facebook: “Estou muito esperançado que o João Gonzalez ganhe, tenho conversado com ele a aventura da nomeação, está a ser a experiência de uma vida. (…)  O João merece pelo que fez neste filme que é um pedaço de poesia desenhada sobre o sentimento de perda e a memória”

Na noite do dia 12, o João não foi laureado com o Óscar, mas também ganhou, como antes havia confessado: “Estamos cientes de que não somos os favoritos nesta corrida, mas sabemos que será uma noite extremamente feliz, seja qual for o nome que sair naquele envelope” (JN,12/3/2023).

E foi uma felicidade ver o seu sorriso, no final da cerimónia, ao dizer; “Como podem ver pela nossa cara, estamos muito felizes. Sentimos isto como uma vitória não só para a nossa equipa…” (RTP1-Jornal da Tarde-13/3/2023)

É assim o ‘nosso’ João. Quando o mundo se lhe desdobra aos pés e seu talento se universaliza, continua a ser “um coração grande, humilde, perspicaz”, como o conheceu Carolina Chantre, uma sua antiga colega na Escola Secundária Filipa de Vilhena, no Porto.

Que bom! Está-estão- estamos todos – de parabéns!