Expulsar o clericalismo

Foto: Vatican Media

Francisco apela a pastores e leigos para que caminhem juntos. “Trabalhando lado a lado diariamente, nos diversos âmbitos da pastoral, porque todos são batizados”, disse o Papa.  

Por Rui Saraiva

No passado dia 18 de fevereiro, num discurso proferido aos participantes num Congresso promovido pelo Dicastério para os Leigos, Família e Vida, o Papa Francisco deixou bem claro que o clericalismo deve ser “expulso” da Igreja.

Fazendo referência ao cardeal Henri de Lubac (1896-1991) e ao seu livro “Meditação sobre a Igreja” publicado em 1953, o Santo Padre afirmou que o autor “dá a entender” que “o clericalismo é a pior coisa que pode acontecer à Igreja”.

Valorizar os leigos, sobretudo as mulheres

Na sua alocução, Francisco lembrou que segundo o cardeal Henri de Lubac devemos expulsar o clericalismo da Igreja: “O clericalismo deve ser ‘expulso’. Um padre ou um bispo que caia nesta atitude causa um grande dano à Igreja”, afirmou o Papa.

Nessa ocasião, o Santo Padre voltou a sublinhar a importância do trabalho eclesial das mulheres na vida das paróquias e das dioceses e assinalou a absoluta necessidade de “pastores e leigos caminharem juntos”:

“É tempo de pastores e leigos caminharem juntos, em todas as áreas da vida da Igreja, por toda a parte do mundo. Os fiéis-leigos não são «hóspedes» na Igreja, estão na casa deles, por isso são chamados a cuidar da própria casa. Os leigos, sobretudo as mulheres, devem ser mais valorizados nas suas competências e nos seus dons humanos e espirituais para a vida das paróquias e dioceses”, disse o Papa.

Pastores e leigos lado a lado

Para Francisco o apelo a um caminho “lado a lado” entre pastores e leigos deve ser “inspiração” para o objetivo de uma Igreja virada para a missão. Evangelizar em conjunto vivendo “uma verdadeira fraternidade entre leigos e pastores”.

“Gostaria que todos nós tivéssemos, no coração e na mente, esta bela visão da Igreja: uma Igreja voltada para a missão e onde se unificam as forças e se caminha em conjunto para evangelizar; uma Igreja onde o que nos une é o nosso ser cristão batizado, a nossa pertença a Jesus; uma Igreja onde se vive uma verdadeira fraternidade entre leigos e pastores, trabalhando lado a lado diariamente, nos diversos âmbitos da pastoral, porque todos são batizados”, afirmou Francisco.

O clericalismo beneficia os abusos

Recordemos que já no seu documento de 2018 ao qual chamou “Carta ao Povo de Deus”, a propósito dos abusos sexuais na Igreja, na altura motivada por um chocante relatório sobre esse tema na Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, o Papa apela a recusarmos o clericalismo porque é fonte de “rutura”, perpetuando os “males” da Igreja.

No seu texto, Francisco escreve que o clericalismo “gera uma rutura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo”, declara o Papa.

“É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis”, escreve o Santo Padre.