Domingo V da Quaresma

26 de Março de 2023

 

Indicação das leituras

Leitura da Profecia de Ezequiel                                                                          Ez 37,12-14

«Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 129 (130)

No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 8,8-11

«Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós».

 

Aclamação ao Evangelho           Jo 11,25a.26

Louvor a Vós, Rei da eterna glória.

Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.

Quem acredita em Mim nunca morrerá.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João                 Jo 11,1-45

«Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá».

«Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá. Acreditas nisto?».

 

Viver a Palavra

Betânia aparece no Evangelho como a cidade da amizade. A casa de Marta, Maria e Lázaro é sinal de acolhimento e descanso, de proximidade e cuidado: Maria tinha ungido o Senhor com perfume e tinha-lhe enxugado os pés com os cabelos, Maria sentada aos pés de Jesus escutava com docilidade e alegria a palavra do Mestre, Marta enchia-se de cuidados para que nada faltasse Aquele que a visitava e Lázaro é aquele que tem o nome de amigo de Jesus.

A amizade é um dos mais belos sinais do amor de Deus e a escritura afirma que «um amigo fiel é uma poderosa protecção; quem o encontrou, descobriu um tesouro» (Sir 6,14). A amizade permite multiplicar e celebrar as vitórias e conquistas da vida, mas também dividir o peso das dificuldades e encontrar forças para o caminho, quando se torna exigente e difícil.

A Liturgia da Palavra deste quinto Domingo da Quaresma apresenta-nos também um quadro raro da narrativa evangélica, que só a grande amizade que une Jesus e Lázaro consegue explicar: Jesus chora. Nos evangelhos, encontramos apenas dois momentos em que Jesus chora: a morte do seu amigo Lázaro (Jo 11,35) e sobre a cidade de Jerusalém (Lc 19,41).

Diante do túmulo de Lázaro, Jesus chorou, levando os presentes a afirmar: «vede como era seu amigo». As Suas lágrimas, junto ao túmulo de Lázaro e sobre a cidade de Jerusalém são sinal do amor que sente pela humanidade. Jesus ama-nos e não quer que nenhum se perca, por isso, veio ao nosso encontro, assumiu a nossa humanidade, desceu às águas do Jordão para ser baptizado, acolheu com ternura e misericórdia os doentes e os marginalizados, foi ao encontro dos pecadores e rejeitados e levou esse amor às últimas consequências abraçando a cruz e abrindo para nós as portas da ressurreição e da vida nova.

Jesus chora e ensina-nos a arte da compaixão. As lágrimas não são sinal de desespero ou de incapacidade de reagir diante do mal e do sofrimento, mas sinal de amor e compaixão diante das situações dramáticas da história. Jesus chora, mas não se detém no choro e no lamento. Dirige-se ao túmulo, pede que removam a pedra, dá graças ao Pai e brada com voz forte para que Lázaro saia para fora do túmulo.

Diante das situações de dor e sofrimento pessoais e alheias não devemos ficar presos às nossas lágrimas e lamentos. Choramos e compadecemo-nos, mas devemos assumir uma atitude proactiva, capaz de responder com ousadia e coragem aos desafios que se colocam diante de nós. A misericórdia e a compaixão despertam o nosso coração e as nossas emoções mas devem despertar também a nossa vida e a nossa acção. Com Jesus e como Jesus, acreditamos que o Pai nos escuta e, por isso, partimos na aventura do amor, na certeza de que a nossa acção unida à sua graça podem realizar maravilhas no aqui e agora do tempo e da história.

Contudo, diante de nós coloca-se o grande desafio da fé que nos convida a depositar toda a nossa esperança em Jesus Cristo e no Seu amor. Como naquele dia a Marta, Jesus pergunta a cada um de nós: «acreditas nisto?». Acreditas que comigo os impossíveis se podem tornar possíveis? Acreditas que a fé abre diante de nós um caminho de esperança que vai muito para lá dos limites do visível e do palpável? Acreditas que quem caminha com Jesus recebe um modo novo de olhar o tempo e a história?

Como nos recorda S. Paulo, baptizados em Cristo somos já herdeiros da vida nova que brota da Páscoa do Senhor e, habitados pelo Espírito Santo, somos chamados a semear no aqui e agora do tempo e da história a certeza de que os sofrimentos e incertezas do tempo presente se hão-de abrir à plenitude do amor e da graça que brotam do coração de Deus.

 

Homiliário patrístico

Das Cartas de São Bráulio, bispo de Saragoça (Séc. VII)

Cristo, esperança de todos os crentes, chama adormecidos e não mortos àqueles que partem deste mundo; Ele disse, de facto: Lázaro, o nosso amigo, dorme. Também o apóstolo São Paulo quer que não nos contristemos pela sorte dos que já adormeceram, pois a fé nos ensina que todos os que acreditam em Cristo, segundo a palavra do Evangelho, não morrerão para sempre; sabemos, na verdade, pela fé, que nem Ele morreu para sempre nem nós morreremos para sempre.

Com efeito, o próprio Senhor, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, baixará do Céu, e os que n’Ele tiverem morrido n’Ele ressuscitarão. Anime-nos, portanto, a esperança da ressurreição: os que perdemos neste mundo havemos de os tornar a ver no outro; basta para isso acreditar no Senhor com verdadeira fé, isto é, obedecendo aos seus mandamentos. Ele é omnipotente, e, por isso, é mais fácil a Ele despertar os mortos do que a nós acordar os que dormem. É certo que temos esta convicção; mas, por outro lado, subjugados por inexprimível sentimento, deixamo-nos desafogar em lágrimas e a saudade perturba a fé do nosso espírito. Oh como é miserável a condição humana! Sem Cristo, nenhum sentido teria toda a nossa vida. Oh morte, que divides os que viviam juntos e tão dura e cruelmente separas os que estavam unidos pela amizade! Mas o teu cruel poder está esmagado. O teu domínio foi aniquilado por Aquele que te ameaçou com o brado de Oseias: Ó morte, Eu serei a tua morte. Também nós podemos desafiar-te com as palavras do Apóstolo: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. No dia 25 de Março a Igreja celebra a Solenidade da Anunciação do Senhor. Neste dia, recordamos o anúncio do Arcanjo Gabriel a Maria, comunicando-lhe o desígnio do Pai de que Ela foi escolhida para acolher no Seu seio virginal o Salvador do Mundo. Este ano esta solenidade celebra-se este ano em dia de Sábado. Neste dia, somos convidados a meditar no mistério de amor que esta solenidade encerra: o nosso Deus não é indiferente às nossas dores e sofrimentos mas compadecido da nossa frágil humanidade vem ao nosso encontro e em Jesus Cristo faz-se homem no seio de Maria. Apesar de em muitas comunidades não se celebrar missa ferial em dia de Sábado, não devemos deixar de assinalar este dia. A recitação dos mistérios gozosos do Rosário, a Liturgia das Horas ou a meditação dos textos litúrgicos desta solenidade são algumas das formas com que podemos dinamizar este dia.

 

  1. Para os leitores: a brevidade da primeira leitura não deve permitir descurar a sua preparação. Deus dirige-se ao Seu povo e a proclamação desta leitura deve ter isso em conta. Além disso, pede-se atenção à repetição do vocativo «ó meu povo». A segunda leitura exige uma acurada preparação tendo em conta as pausas e respirações. É necessário ter em atenção as frases longas, com diversas orações, bem como as diversas frases condicionais.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Vinde, Senhor, vinde em meu auxílio – A. Cartageno (CN 1010); Salmo Responsorial: No Senhor está a misericórdia (Sl 129) – A. Oliveira (CN 646); Aclamação ao Evangelho: Louvor a Vós, Rei da eterna glória | Eu sou a ressurreição e a vida – F. Santos (BML 55); Ofertório: Senhor, a vida que nos deste é passagem – Singeverga (CN 906); Comunhão: Todo a aquele que vive e crê em mim – F. Santos (CN 962); Final: Senhor, ouvi a minha súplica – F. Santos (CN 911).