Coro da Sé apresenta “Paixão Segundo S. Mateus” de Bach

No 52.º aniversário da sua fundação, o Coro da Sé Catedral do Porto anunciou a apresentação da Paixão segundo S. Mateus, de J. S. Bach (1685-1750)

Por M. Correia Fernandes

No dia 1 de março de 1971, há 52 anos, era fundado pela vontade, proposta e trabalho do Padre  António Ferreira dos Santos (hoje Reitor emérito da igreja da Lapa e também membro emérito do Cabido Portucalense), com o apoio do Bispo de então, D. António Ferreira Gomes (tal como ele mesmo recordou na sessão de homenagem de que foi alvo por parte da Irmandade da Senhora da Lapa em 22 de janeiro de 2023), o Coro da Sé Catedral do Porto.

O Coro da Sé tornou-se, no dizer da sua atual direção, “peça fundamental na revolução musical que se deu na cidade e na diocese do Porto através da apresentação das grandes obras da música sacra, da formação de músicos promissores, da construção do grande órgão de tubos da catedral, e muito mais”.

Acentua a mesma direção: Hoje, olhando para trás, temos consciência que o arrojo do nosso fundador foi o motor dessa revolução na cidade, que hoje pode usufruir de boa música, excelentes coros, excelentes músicos formados para a música da Igreja, órgãos de referência na Europa e que nos torna capazes de nos lançarmos ao desafio que apresentaremos esta semana santa  a Paixão segundo São Mateus, de J. S. Bach, com Orquestra Barroca sob a direção de Martin Lutz”.

Como é tradicional, esse dia do 52.º aniversário foi assinalado com uma celebração de ação de graças na Catedral do Porto, também por intenção de todos os coralistas e seus familiares falecidos.

A Paixão segundo S. Mateus (Mathäus Passion)

A apresentação deste concerto com a emblemática obra de J.J. Bach esteve já programada  para os 50 anos do coro (em 2021), mas não foi possível em virtude do período da pandemia. O projeto é agora retomado neste 52.º aniversário do Coro da Sé Catedral do Porto.

Trata-se de uma obra fundamental da História da Música, apresentada pela primeira vez dirigida pelo autor em Leipzig no ano de 1729, mas depois esquecida, até que em 1829 (um século depois) foi redescoberta e dirigida em Berlim por Felix Mendelssohn (1809-1847), com invulgar êxito na época. Desde então, numerosas são as apresentações em concertos e múltiplas as gravações pelas grandes orquestras e coros, dirigidas pelos maiores maestros, entre os quais podemos citar J. E. Gardiner,  M. Corboz, Ricardo Mutti, Herbert  von Karajan, Otto Klemperer, Ton Koopmann, Karl Richter, Iván Fischer, entre muitos outros.

Também numerosas passagens desta Paixão têm servido de tema de meditação em muitos filmes da história do cinema, por autores como P. P. Pasolini, A. Tarkovsky, M. Scorsese e outros.

Esta Paixão, apresentada por um grandioso e apelativo coro inicial (“Kommt, ihr Töchter, helft mir klagen – Vinde, filhas, ajudai-me a chorar”), é conduzida pelo recitativo de um narrador (tenor), que introduz os acontecimentos e as palavras de Jesus (barítono), as palavras das personagens de Judas, Pedro, Pilatos, Caifás e várias árias e coros de meditação sobre os acontecimentos. Todo o conjunto é acompanhado por uma orquestra e por órgão, terminando num intimista coro final (“Chorando nos prostramos ante o teu sepulcro, para dizer-te: descansa docemente”), que não apresenta a ressurreição mas uma nova interiorização do mistério da Paixão. A duração desta obra é de cerca de duas horas e meia, ou um pouco mais, segundo interpretações

O concerto desta Páscoa está previsto para duas apresentações: uma primeira na Sé do Porto, no sábado de Ramos (dia 1 de abril) e outra na sexta feira Santa (7 de abril), na igreja da Lapa.

A interpretação tem vindo a ser preparada pelo maestro do coro Tiago Ferreira e vai ser dirigida pelo maestro Martin Lutz, de Wiesbaden, criador dos Schiersteiner Kantorei , que já dirigiu na Alemanha e em Portugal o Requiem à memória do Infante D. Henrique, de  A. Ferreira dos Santos, e que tem já vindo a orientar o coro para a interpretação desta Paixão. Os intérpretes, além do Coro da Sé, serão: o narrador da Paixão, um tenor  alemão; todos os outros serão  solistas portugueses, incluindo a  Orquestra de Música Antiga do ESMAE, todos sob a direção de Martin Lutz.

Lembra-se que o Coro da Sé apresentou já no passado outras grandes obras corais-sinfónicas no meio musical do Porto que se tornaram emblemáticas: o Magnificat e a grandiosa Missa em si menor (que muitos consideram a maior obra da história da música, juntamente com esta Paixão), bem como o Oratório de Natal de Bach, oratório bíblico Israel no Egipto de Haendel, as oratórias A criação de Haydn,  e Elias de Mendelssohn, o Requiem Alemão de Brahms… e também a Paixão segundo S. João do mesmo Bach.

Na mensagem divulgada pela direção do Coro da Sé, atualmente dirigido por Tiago Ferreira, podemos ler:  “Agradecemos o trabalho empenhado a todos os que aqui estão e que por aqui passaram e felicitamos o nosso Fundador, olhando para o futuro que se apresenta cheio de desafios, inspirados, fortalecidos e de coração cheio, orgulhosos e conscientes da grande responsabilidade que é ser parte da família do Coro da Sé.

Agradecemos, finalmente, a todos os que se deixam tocar por nós, nos ouvem, nos apoiam e que, assim, nos alimentam”.

Nesta data simbólica e neste projeto de grande alcance espiritual e cultural, Voz Portucalense saúda o Coro da Sé e felicita todos os seus membros históricos e atuais por resta iniciativa que ficará a marcar o seu aniversário.