Purifica-te afasta dos meus olhos a malícia (Isaías 1, 16)

Por Joaquim Armindo

As forças policiais e militares brasileiras, poderes instituídos pelo anterior governo brasileiro, ameaçaram, sem mandato judicial, despejar as famílias dos povos Kaiowá e Guarani, no território do Mato Grosso do Sul, prometendo uma carnificina, como têm realizado até aqui, de que é exemplo o “Massacre de Guapoy”, em junho de 2022. No passado dia três estes povos retomaram os seus territórios ancestrais que haviam sido invadidos por fazendeiros anos antes. Segundo a liderança destes povos o objetivo é “acabar com as muitas décadas de dureza, fome, violência, racismo, veneno, intoxicação, confinamento, ameaças e trapaças dos fazendeiros, cumprindo assim a Constituição de 88. Só assim as famílias do “lugar de onde se é”, nossos velhinhos, nossas crianças, vão encontrar dignidade e poder viver em paz.”

A cultura kaiowá – guarani tem origem nas florestas do Alto Pará. No século V a sua cultura tinha características diferentes de outros povos indígenas, e daí terem começado a trabalhar a terra e a viver nas suas florestas e territórios. Com a chegada dos portugueses e espanhóis, a partir dos séculos XVI até XVIII, marcada pela presença de numerosos missionários, foram catequizados e batizados pelo assédio então realizado, tentando a escravatura, forçando os chamados “aldeamentos”, que não eram mais que zonas de controlo e discriminação. Diga-se que alguns missionários assumiram a defesa dos povos, colocando-se ao seu lado. Os efeitos desses “aldeamentos” fez reduzir o seu território e colonizá-los gradualmente, até que alguns governos, já no século XX, tiveram desapropriado as terras entregando-as aos seus legítimos donos. Nos últimos quatro anos, porém, foram forçados a abandonar as suas terras por fazendeiros, com o beneplácito dos governantes. Estes povos possuem uma organização social, económica e política, próprias, fundando-se em famílias (macro), que detêm formas de organização espacial e constituem unidades de produção e consumo.

São os povos Kaiowá e Guarani que, agora, se levantaram, novamente, para defender os seus costumes e culturas, temendo um novo banho de sangue e que pedem a solidariedade mundial. O Cimi – Conselho Indigenista Missionário, da Conferência dos Bispos Brasileiros, ao lutar lado-a-lado com eles está a pedir um “perdão ativo” por aquilo que muitos cristãos em tempos fizeram em nome de Jesus. Saibamos nós, cristãos e cristãs, ser solidários com estes povos e exercer um “perdão ativo” por todas as atrocidades cometidas lá, como cá.