
A presidente da Cáritas adverte que “não estamos a conseguir sair da emergência”. Em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia, Rita Valadas critica a permanente adoção de medidas pontuais para enfrentar os problemas. “Falta a referência estrutural, diz. “O dia em que as pessoas pedem para comer é o pior dia da sua vida”, lembra ainda Rita Valadas.
A presidente da Cáritas Portuguesa, Rita Valadas, alerta para o risco de inconsequência das medidas do chamado “pacote” da Habitação.
“Temo que não tenha consequências”, diz a responsável em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia.
Rita Valadas critica o facto de o Governo avançar com medidas numa altura em que, por exemplo, não se concretizou o projeto relacionado “com as rendas acessíveis”.
“Se há projetos para se investir na habitação condigna, porque é que agora está-se a ir a outra coisa?”, questiona. “Ainda por cima”, prossegue, aquilo que é proposto promove a polémica e “levanta imensas questões ao nível da confusão dos direitos básicos constitucionais”.
A presidente da Cáritas afirma que “a habitação é o principal escolho na resolução de problemas sociais” e adverte para a dificuldade em acolher os emigrantes: “Se não conseguimos resolver os problemas dos nacionais, como é que vamos ter espaço para resolver os problemas de quem chega?”
Noutro plano, Rita Valadas manifesta preocupação com a utilização de verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), lembrando que se está perante um empréstimo, correndo “o risco de ficarmos empenhados sem proveito”.
A presidente da Cáritas Portuguesa tem “pudor em dizer que vai aumentar a fome”, por causa da inflação de preços, mas admite uma diminuição da qualidade alimentar com reflexos ao nível da saúde.
Rita Valadas admite que há um gradual aumento de pedidos de ajuda, sobretudo relacionados com o pagamento de rendas e de faturas de água e eletricidade, sublinhando que há alguma relutância das pessoas em receber alimentos porque “o dia em que as pessoas pedem para comer é o pior dia da sua vida”.
No início da Semana Cáritas, que prolonga até 12 de março, Rita Valadas considera “natural” pensar-se que haverá “dificuldades” no habitual peditório nacional por força da crise, mas não deixa de apelar à ajuda de todos: “O meu apelo é que as pessoas não pensem que só podem ajudar se tiverem uma determinada disponibilidade.”
(inf: Rádio Renascença)