Por Joaquim Armindo
Embora, no meu entendimento, a “Síntese portuguesa na fase continental” seja um documento um pouco “morno”, ele, no entanto, constitui um renovado ar soprado sobre a Igreja. E se me permitem um “ar” cujo caminho nos levará a um Sol na Igreja mais concernente com o Evangelho que Jesus nos deixou em testamento. Embora esteja persuadido que a prioridade deva ser dada a todos os membros – e não só – da Igreja, não custa dizer que têm sido os jovens os mais amarfanhados pela cultura dos “poderes” da Igreja. Eles, os jovens, constituindo também a Igreja do Hoje, como do Amanhã, são pessoas sem vícios, que os mais velhos possuem, enquanto estes têm uma experiência que aqueles não possuem, mas mais vícios, na falta de saber se a “falta de experiência” é maior que os “vícios”, a Igreja – e nomeadamente eles, os jovens – devem ser possuidores dos projetos de renovação necessários a uma emancipação criadora. Mas não só estes são colocados nas margens da Igreja, as mulheres têm sido consecutivamente colocadas em graus inferiores, nomeadamente ao que não é compreensível e que constitui a negação da sua ordenação aos ministérios de bispo, presbítero e diácono. Embora seja considerado um assunto fraturante é, no entanto, penso eu, colocar as mulheres na dignidade de filhas de Deus, batizadas e recebidas em Cristo. Penso que o pilar da Tradição é favorável a este entendimento, assim como o da Razão e da Palavra.
Uma das outras “prioridades” que entendo ser pertinente é o “diálogo com a cultura”, mesmo com as questões em que geram controvérsia dentro da Igreja, Una na Diversidade, como a identidade de género, ou seja, LGBTQIA+, na qual não devem existir “muros”, nem quaisquer “desprezos”, porque o amor, mesmo a sexualidade, não pode ser desprezada em nenhuma condição. E faz muito bem a “Síntese Portuguesa” não esquecer esta questão da maior importância nas nossas sociedades de hoje, como o foram nas de antanho.
Paro numa das prioridades que julgo fundamental neste percurso sinodal e que é a “cultura sinodal”, o entendimento que só poderá existir sinodalidade e corresponsabilidade com uma efetiva participação de todos e todas. Não será possível a sinodalidade sem que esta seja a expressão do querer comum e onde o Espírito Santo sopra. Sem o aniquilamento dos “poderes” e a expressão viva das comunidades, não existirão igrejas domésticas, nem ecumenismo, nem diálogo inter-religioso. A Igreja será credível quando assumir com humildade a mensagem de que é portadora. Então o Sol se estabelecerá, mesmo na escuridão da noite.