
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Aproxima-se a Quaresma tempo santo de deserto, marcha de conversão a caminho da terra prometida, isto é para o Batismo a viver ou reviver em Cristo, morto e ressuscitado. A Igreja tem uma proposta de caminhada bem consolidada pelos séculos e bem atual. Algumas notas.
- Ter um objetivo claro. O objetivo da caminhada quaresmal não pode ser outro a não ser celebrar de forma autêntica a Páscoa do Senhor. Exigência indeclinável: mudar a nossa vida, de modo a assemelhar-nos mais ao Senhor Jesus. Sem isso, a celebração da ressurreição soará a falso. Outro requisito para os cristãos: preparar bem e participar na celebração do Tríduo santo da Páscoa, especialmente na Vigília Pascal. Se tal não acontecer, então a Quaresma será um caminho que não leva a parte nenhuma. Ambas as exigências (conversão e celebração) são fundamentais para todo o cristão. Sem elas a Quaresma perde a sua principal razão de ser.
- Importa considerar que não há muitas ajudas do exterior para a vivência quaresmal. O carnaval tende a prolongar-se, as propostas dos media e as disponíveis nas redes são evasivas. A semana Santa é absorvido pela indústria do turismo e estas propostas de fora seduzem muitos cristãos que assim ficam privados da riqueza espiritual deste tempo favorável.
- Dada a importância da celebração da Páscoa, torna-se necessário fazer um grande investimento espiritual e litúrgico na Quaresma. A peregrinação interior a que somos convidados há de levar-nos a evitar tudo quanto nos disperse e nos desvie de contemplar o mistério e de ouvir a voz de Deus. As nossas igrejas deverão, por isso, ser um convite a essa atitude: não estarão adornadas com flores, nem nelas soarão os instrumentos festivos. Talvez uma cruz ou uma bíblia nos possam ajudar a focar a atenção no essencial: escutar a Palavra e seguir Jesus tomando a cruz de cada dia. Mas o canto não deixa de desempenhar um importante papel neste tempo evidenciando a Palavra e restituindo-lhe a sua força expressiva e impressiva. A Quaresma tem um repertório musical próprio que lhe dá identidade. Neste tempo, deverá dar-se um lugar muito especial ao salmo responsorial cantado. Iniciar a Quaresma com o canto das ladainhas dos santos, acompanhando a procissão de toda a assembleia para o lugar da celebração, ajudará a perceber que a Quaresma nos põe em movimento comunitário para a casa do Pai. A riqueza da Palavra de Deus exige leitores capazes e bem preparados e a expressividade da ação litúrgica requer acólitos suficientes e competentes, aptos a tornar viva e visível a ação mistérica nela contida.
- Os seis domingos da Quaresma pontuam a caminhada da comunidade.
Os dois primeiros mostram-nos o sentido e a natureza desta nossa peregrinação. Cristo aparece como protagonista, modelo e mestre da Quaresma. Os quarenta dias no deserto, a luta que se consumará na cruz, por um lado, e a glória que antecipadamente se revela e que resplandecerá para sempre no corpo do Ressuscitado. Luta e glória que mostram o caminho de Jesus entre as oposições dos seus inimigos e a certeza da presença do Pai na sua vida. Este é, pois também, o itinerário da nossa peregrinação: “peregrinando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus” (Sto. Agostinho). Esta temática é comum a todos os ciclos.
Os domingos 3º a 5º, no ciclo A (este ano) apresenta-nos a mensagem luminosa de três encontros de Cristo com os homens que assinalam as etapas do itinerário batismal dos crentes. Como caminho catecumenal (tempo de iluminação e de purificação) estes encontros purificam e iluminam em contacto vivo com a pessoa de Cristo. Como memória do batismo recebido, renovam a consciência do cristão e abrem-na à luz de Cristo que sonda as profundezas do coração e purifica os resíduos necróticos do pecado. A Quaresma prepara para o batismo mas também para a revitalização da nossa condição de batizados.
O sexto domingo (conhecido por Domingo de Ramos) abre-nos à grande celebração anual da Páscoa do Senhor que terá lugar no Tríduo sacro da sua morte, sepultura e ressurreição (missa vespertina da Ceia do Senhor, celebração da Paixão do Senhor, o sábado do repouso, da contemplação e da oração e o domingo da ressurreição que abre com a solene vigília).
Concluindo: começar a Quaresma e depois não celebrar a Páscoa faz pouco sentido.