
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal apresentou relatório final baseado em 512 testemunhos validados e que aponta para uma rede de 4815 vítimas. Os relatos são chocantes e revelam que os abusos aconteceram em “seminários, colégios internos, instituições de acolhimento, confessionários, sacristias e casas dos padres”.
Começamos por ouvir o argumento de que este era um problema anglo-saxónico, sem grande relevância no nosso país. Depois surgiu a justificação de que este tipo de factos acontecia nos outros países e muito pouco em Portugal. Hoje é um relatório com 485 páginas de um estudo que validou o relato de 512 testemunhos de abusos sexuais, num total de 564 que foram recebidos.
O relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, foi divulgado na segunda-feira dia 13 de fevereiro e refere-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022.
O grupo coordenado pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, recolheu testemunhos entre os meses de janeiro e outubro de 2022 e aponta para uma rede de vítimas num número mínimo de 4815 vítimas.
Os números revelam que as vítimas são, sobretudo, do sexo masculino, mas com um número significativo também do sexo feminino. Destaque para os distritos de Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria. Pedro Strecht falou em “verdadeiras zonas negras”, com particular impacto nas décadas de 1960 a 1990, sendo que quase 25% dos testemunhos diz respeito a casos ocorridos desde 1991 até hoje, revela a Agência Ecclesia.
“Não é possível quantificar o número de crimes praticados, mas sabemos que a maior parte das crianças foi abusada mais do que uma vez”, sublinhou Pedro Strecht.
Os relatos são chocantes e revelam que os abusos aconteceram em “seminários, colégios internos, instituições de acolhimento, confessionários, sacristias e casas dos padres”.
Sobre o estudo, a Agência Ecclesia refere que o início dos abusos aconteceu, em média, aos 11 anos de idade dos menores, embora esse número tenha vindo a aumentar. As vítimas relatam um afastamento da Igreja enquanto instituição e da prática religiosa, esperando um “pedido de desculpas”; 25,8% assume-se como católico praticante.
“Dar voz ao silêncio” foi o tema e a motivação de uma Comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que integrou o psiquiatra Daniel Sampaio, o antigo ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, a socióloga e investigadora Ana Nunes de Almeida, a assistente social e terapeuta familiar Filipa Tavares e a cineasta Catarina Vasconcelos.
O episcopado português tem agendada para dia 3 de março uma assembleia plenária extraordinária para analisar o relatório agora apresentado.
RS