Amor mútuo, Comunhão e Diálogo: chaves para ultrapassar os poderes militar, ideológico e económico

Jornadas de Teologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto abordam a Teologia da Paz perante os fenómenos da violência e da guerra.

«Teologia da paz perante (os fenómenos d)a violência e (d)a guerra» é o tema das Jornadas de Teologia da Faculdade de Teologia do Porto da Universidade Católica Portuguesa (UCP), que se iniciaram na segunda-feira dia 6 e decorrem até dia 9 de fevereiro.

A sessão de abertura contou com a presença do bispo auxiliar do Porto e reitor do Seminário Maior do Porto, D. Vitorino Soares e do bispo de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, da Prof. Dr.ª. Isabel Braga da Cruz, Presidente do Centro Regional do Porto da UCP e do Prof. Dr. António Abel Canavarro, Diretor adjunto da Faculdade de Teologia. Significativas presenças de membros do clero do Porto e de Vila Real e de professores e alunos da UCP.

O Prof. Xabier Pikaza foi o primeiro conferencista que, em dois momentos, apresentou uma reflexão que nos desinstalou e que vê no diálogo e na conversão das “bases” um possível caminho para uma teologia prática de paz.

O bem-estar interior no turbilhão das relações humanas é uma necessidade para triunfar no mundo, defendem algumas religiões como o Hinduísmo que vê na manutenção da paz uma guerra necessária de afirmação, onde o vencedor imbuído de uma paz interior estabelece as regras, ou o Budismo que considera a vontade de possuir a causa da guerra, logo a paz só é mantida quando nada se deseja. Com uma interpretação política do Apocalipse, perscruta três poderes que estabelecem as regras: império militar, império ideológico e império capital.

«Nascemos com um desejo de possessão», defendeu o conferencista e é deste desejo que brotam os poderes referidos, traduzidos por ideologias ou guerras de géneros e conquista de poder bélico ou económico.

O projeto de Jesus parte daqueles que cuidam a terra, como o agricultor que ama a terra, uma terra que dá vida e não é usada no serviço ao poder do capital e serva das multinacionais. É essencial viver no mundo convertidos às bem-aventuranças porque são bem-aventurados os que passam fome e deixam para os irmãos e não aqueles que consomem tudo e secam tudo aquilo à sua volta, bem-aventurados os que sofrem e aprendem a sofrer, não que sofrer seja bom, mas porque somos acompanhados e aprendemos a acompanhar, ou seja, somos amados e aprendemos a amar. Destes é o Reino porque eles herdarão a terra pela sua mansidão uma vez que não impõe a violência, mas vivem a comunhão.

A palavra é fundamental para este caminho, porque o Logos é Palavra que incarnou. O diálogo torna-se fundamental: o Papa Francisco procura este diálogo neste itinerário de Sinodalidade que propõe. O diálogo é palavra e a Igreja é comunhão da Palavra e quanto mais palavra tiver, mais Igreja se torna. Xabier Pikaza pensa na conversão das bases, criando comunidades cristãs nos pobres à imagem de Cristo que procurou converter os mais fracos que passavam no caminho. Talvez hoje seja imprescindível comunidades cristãs que testemunhem Cristo nas suas ações, porque a Igreja como lugar de diálogo, enriquecida com vários carismas, encontra no amor mútuo o centro de todos os carismas e assim a capacidade de conviver entre cada um.

(David Azevedo)