
Papa condena guerras e «colonialismo económico», que atingem milhões de pessoas.
O Papa alertou no dia 31 de janeiro na capital da República Democrática do Congo (RDC) para a guerra e a exploração que atingem o continente africano, condenando o que designou como “genocídio esquecido” neste país, atingido pela violência.
“Não podemos habituar-nos ao sangue que, há décadas, corre neste país, ceifando milhões de vidas, sem que muitos o saibam. Que seja conhecido tudo o que acontece aqui”, disse Francisco, no Palácio da Nação, em Kinshasa, no discurso inaugural da sua visita de quatro dias à RDC, iniciada esta tarde.
A intervenção, saudada por várias salvas de palmas dos presentes, considerou “trágica” a persistência de formas de exploração e de “colonialismo económico”, que equiparou à escravatura, num país “saqueado” por interesses externos.
“Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Chega de sufocar a África!”, pediu, lamentando que a comunidade internacional se tenha “resignado” perante a violência que atinge a RDC.
O Papa saiu em defesa das populações africanas, sublinhando que este continente “não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear”.
“O veneno da ganância tornou os vossos diamantes ensanguentados. É um drama face ao qual, muitas vezes, o mundo economicamente mais desenvolvido fecha os olhos, os ouvidos e a boca”, atirou.
O discurso evocou ainda as crianças que morrem por causa de “trabalhos escravizadores nas minas” e as adolescentes “marginalizadas e violadas na sua dignidade”.
Após um percurso em automóvel acompanhado por centenas de milhares de pessoas, desde o aeroporto de Ndjili, de Kinshasa, o Papa foi recebido, em privado, pelo presidente da República da RDC, Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, na entrada do ‘Palácio da Nação’, onde decorreu a cerimónia de boas-vindas.
Perante autoridades políticas e religiosas, diplomatas, representantes da sociedade civil e do mundo cultural, Francisco recordou os dramas que atingem a população local, condenando as “tentativas de fragmentar o país”.
“Atormentada pela guerra, a República Democrática do Congo continua a padecer, dentro das suas fronteiras, de conflitos e migrações forçadas e a sofrer terríveis formas de exploração, indignas do homem e da criação”, destacou.
Francisco apresentou-se como “um peregrino de reconciliação e de paz”, desejando que os congoleses possam ter nas suas próprias mãos o futuro do país, usufruindo das “riquezas materiais escondidas no subsolo” e das “riquezas espirituais”.
O Papa usou como imagem simbólica o diamante, pedindo que os responsáveis políticos atuem com “clareza cristalina”, promovendo “eleições livres, transparentes e credíveis
“Um diamante sai da terra genuíno, mas em estado bruto, carecendo de ser trabalhado. Assim, também os diamantes mais preciosos da terra congolesa, que são os filhos desta nação, devem poder usufruir de válidas oportunidades educativas, que lhes permitam fazer frutificar plenamente os brilhantes talentos que possuem”, acrescentou.
Francisco, segundo Papa a visitar a RDC – João Paulo II esteve no país em 1980 e 1985 –, apelou à proteção de “um dos maiores pulmões verdes do mundo” e à luta contra “a fome e a malária”.
Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo declarou, no seu discurso de boas-vindas, alertou para os grupos “terroristas”, vindos de países vizinhos, e apontou o dedo a “potências estrangeiras” que considerou responsáveis por “atrocidades” cometidas em território congolês.
No final do encontro, depois de se despedir do presidente da República da RDC, o Papa seguiu para a Nunciatura Apostólica de Kinshasa, onde é recebido por um grupo de jovens, com canções folclóricas congolesas.
(inf: Agência Ecclesia)